Comentarista: Daniel Alcântara
Texto Bíblico Base Semanal: Romanos 1.21-32
21. Porquanto, tendo conhecido a Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças, antes em seus discursos se desvaneceram, e o seu coração insensato se obscureceu.
22. Dizendo-se sábios, tornaram-se loucos.
23. E mudaram a glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem de homem corruptível, e de aves, e de quadrúpedes, e de répteis.
24. Por isso também Deus os entregou às concupiscências de seus corações, à imundícia, para desonrarem seus corpos entre si;
25. Pois mudaram a verdade de Deus em mentira, e honraram e serviram mais a criatura do que o Criador, que é bendito eternamente. Amém.
26. Por isso Deus os abandonou às paixões infames. Porque até as suas mulheres mudaram o uso natural, no contrário à natureza.
27. E, semelhantemente, também os homens, deixando o uso natural da mulher, se inflamaram em sua sensualidade uns para com os outros, homens com homens, cometendo torpeza e recebendo em si mesmos a recompensa que convinha ao seu erro.
28. E, como eles não se importaram de ter conhecimento de Deus, assim Deus os entregou a um sentimento perverso, para fazerem coisas que não convêm;
29. Estando cheios de toda a iniquidade, fornicação, malícia, avareza, maldade; cheios de inveja, homicídio, contenda, engano, malignidade;
30. Sendo murmuradores, detratores, aborrecedores de Deus, injuriadores, soberbos, presunçosos, inventores de males, desobedientes aos pais e às mães;
31. Néscios, infiéis nos contratos, sem afeição natural, irreconciliáveis, sem misericórdia;
32. Os quais, conhecendo o juízo de Deus (que são dignos de morte os que tais coisas praticam), não somente as fazem, mas também consentem aos que as fazem.
Momento Interação
A ideologia de gênero fixa suas raízes em vários sistemas ideológicos, pois se aproveita de resquícios de movimentos e revoluções que se deram ao longo dos séculos. Um dos principais, sem dúvida, é o Marxismo, com seu conceito de impossibilidade de conciliação entre as classes. Consequentemente, o Feminismo, amplamente influenciado pelo Marxismo, também aparece como fonte da ideologia de gênero. Basicamente a ideologia de gênero é a designação dada a uma corrente de ideias que defende a dissociação e distinção entre gênero e sexo, e afirma que o ser humano nasce com o gênero neutro. Este tema tem ganhado destaque nos últimos anos e vem obtendo apoio de parte da sociedade, da mídia e de vários governantes. Mas muitos cristãos ainda não sabem exatamente o que é a ideologia de gênero. Infelizmente alguns parecem não estar nem mesmo convencidos de que ética cristã e ideologia de gênero são coisas completamente opostas. Consequentemente, eles também não sabem se posicionar diante da ideologia de gênero de acordo com a Bíblia
Introdução
Teorias sociais, que nascem em laboratórios de ciências sociais das principais universidades do mundo, ensinam que as diferenças entre os sexos são resultados da relação histórica de opressão e preconceito entre homem e mulher. A este entendimento dá-se o nome de “ideologia de gênero”. Os defensores deste conceito promovem a inversão dos valores e afrontam os princípios cristãos. Apesar de cada época apresentar desafios diferentes à fé cristã, as Escrituras advertem aos cristãos o viver em santidade em todas as épocas e culturas (1 Pe 1.15,23-25). Muitos em nome da diversidade ou do direito à opinião solapam a ideia de verdade objetiva das coisas. A estratégia é dar ênfase a um fato que não se pode negar, mas ignorar a obviedade de tantos outros. Por exemplo, quem pode negar a diversidade cultural? Quem pode negar o direito à opinião? Entretanto, também é verdade que existem culturas que degradam o ser humano, bem como opiniões que são desqualificadas e completamente absurdas. Outrossim, a história mostra que pessoas que pautaram-se pela Palavra de Deus tiveram valores éticos-espirituais muito claros.
I. O que é Ideologia de Gênero
A palavra “gênero” tem origem no grego genos e significa “raça”. Na concepção da Lógica, o termo indica “espécie”. Usualmente deveria indicar o “masculino” e o “feminino”, como ocorre na Gramática. Nesse sentido, a expressão é inofensiva; porém, na sociedade pós-moderna tal significado é relativizado e distorcido em “ideologia de gênero”. Essa ideologia também é conhecida como “ausência de sexo”. Esse conceito ignora a natureza e os fatos biológicos, alegando que o ser humano nasce sexualmente neutro. Os ideólogos afirmam que os gêneros — masculino e feminino—são construções histórico-culturais impostas pela sociedade. Nos escritos marxistas a ideologia deixa de ser apenas “o conhecimento das ideias” e passa a ser um “instrumento” que assegura o domínio de uma classe sobre outra.
O marxismo exerceu forte influência no feminismo, especialmente o livro “A Origem da família, a propriedade privada e o Estado” (1884), onde a família patriarcal é tratada como sistema opressor do homem para com a mulher. Desse modo a ideia central do conceito de gênero nasceu com a feminista e marxista Simone de Beauvoir autora da obra “O Segundo Sexo” (1949), onde é afirmado que “não se nasce mulher, torna-se mulher”. Assim, do contexto social marxista, que deu origem à “luta de classes”, surgiu a ideologia culturalista como sendo “luta de gêneros”, ou seja, uma fantasiosa “luta de classes entre homens e mulheres”. Nesse aspecto, a Ideologia de Gênero pretende desconstruir os papéis masculinos e femininos na sociedade atual.
A ideologia de gênero propaga que os papéis dos homens e das mulheres foram socialmente construídos e que tais padrões devem ser desconstruídos. Essa posição não aceita o sexo biológico (macho e fêmea) como fator determinante para a definição dos papéis sociais do homem e da mulher. Entretanto, as Escrituras Sagradas ensinam com clareza a distinção natural dos sexos (Gn 2.15-25; Pv 31.10-31). Outra consequência lógica dessa ideologia é que a determinação do sexo de uma pessoa agora é definida pelo fator psicológico, bastando ao homem, ou à mulher, aceitarem-se noutro papel. Além disso, faz-se apologia à prática do homossexualismo e do lesbianismo. Tanto as Escrituras quanto a tradição eclesiástica sempre confrontaram essa tendência humana de inverter os papéis naturais (Rm 1.25-32; Ef 5.22-33).
II. A Palavra de Deus e os Valores Absolutos
Num mundo onde parece que o único princípio que conta são os nossos valores pessoais e o que uma pessoa pensa sobre certos assuntos, que diz a Bíblia sobre os absolutos? A Bíblia diz em Salmos 111.4,7,8: “Ele fez memoráveis as suas maravilhas; compassivo e misericordioso é o Senhor. As obras das suas mãos são verdade e justiça; fiéis são todos os seus preceitos. Firmados estão para todo o sempre; são feitos em verdade e retidão”. Alguma vez Deus muda? A Bíblia diz em Malaquias 3:6: “Pois eu, o Senhor, não mudo; por isso vós, ó filhos de Jacó, não sois consumidos”. É a palavra de Deus, a verdade? A Bíblia diz em João 17:17: “Santifica-os na verdade, a tua palavra é a verdade”.
Alguma vez a palavra de Deus mudará? A Bíblia diz em Salmos 93.5: “Mui fiéis são os teus testemunhos; a santidade convém à tua casa, Senhor, para sempre.” A Bíblia diz em Mateus 24.35: “Passará o céu e a terra, mas as minhas palavras jamais passarão”. Quando o Dia do Julgamento chegar, a lei absoluta e imutável de Deus julgará todos. A Bíblia diz em Tiago 2.10-12: “Pois qualquer que guardar toda a lei, mas tropeçar em um só ponto, tem-se tornado culpado de todos. Porque o mesmo que disse: Não adulterarás, também disse: Não matarás. Ora, se não cometes adultério, mas és homicida, te hás tornado transgressor da lei. Falai de tal maneira e de tal maneira procedei, como havendo de ser julgados pela lei da liberdade”. Deus fará todo o ser humano responsável por causa dos absolutos que Ele nos deu na Sua Lei. A Bíblia diz em Romanos 2.6,11: “…que retribuirá a cada um segundo as suas obras; pois para com Deus não há acepção de pessoas”.
A liberdade, em suas mais variadas formas e manifestações, é um dos valores mais altos de uma sociedade que se pretende democrática. No entanto a idéia de que tudo é relativo, de que cada um tem o direito de pensar como quiser, de criar seus próprios códigos, em nome de um permissivismo que podemos alcunhar de pseudoliberdade vem, ao longo dos anos, solapando os alicerces cada vez mais frágeis da sociedade em que vivemos. Com efeito, o relativismo moral vai transformando o mundo numa babel moderna, onde o que vale é o achismo, o assim é se lhe parece, o faça o que lhe der na cabeça, com suas consequências nefastas, seu imensurável e sub-reptício poder destruidor.
Mesmo do ponto de vista da lógica mais simples – longe de mim lucubrações filosoficamente mais profundas – uma coisa não pode ser e não ser ao mesmo tempo, duas verdades não podem se contrapor na sua essência, enfim, tem de existir uma verdade absoluta, incontestável, irretorquível, e essa verdade é Deus. Por mais que respeitemos cientistas, professores, psicólogos, sociólogos e tantos outros profissionais que têm contribuído para o progresso da humanidade, todos eles precisam submeter-se ao absoluto dos absolutos. E isso não é uma idéia melíflua de mentes sentimentalistas e “religiosas”, como muitos, irrefletidamente, se apressam em tachar os que se atrevem a falar em Deus. Para esses críticos, tais pensamentos são muito simplistas, piegas mesmo, não resistem a uma análise mais racional, mais científica.
III. Os Valores Eternos de Deus ao seu Povo
Nada obstante, o que, ou melhor, quem pode botar ordem num mundo cheio de violência, de imoralidade, de perfídia, de corrupção, de insegurança, de desespero? Que cientista mais capaz, que governante mais ilustre, que estadista mais sábio, que sistema ou regime político mais inteligentemente concebido pode pelo menos bacorejar a fórmula para desfazer o caos em que a humanidade se chafurdou? Só mesmo um valor absoluto, um padrão infalível, uma verdade última. Só mesmo os absolutos de Deus, contidos na sua Palavra, perfeita e sublime. Mas aqui vai uma observação: Ele conta com cada um de nós para realizar o seu projeto. Isso é um mistério profundo, como dizia o poeta. Deus preferiu contar comigo e com você para realizar essa obra grandiosa. E isso é também um de seus incompreensíveis absolutos.
É evidente que as únicas coisas de valor eterno neste mundo são as eternas. A vida neste mundo é temporal, não eterna e, portanto, a única parte da vida que tem valor eterno é a que dura pela eternidade. Claramente, o mais importante neste mundo que tem verdadeiro valor eterno é ter uma relação com Jesus Cristo, pois o dom gratuito da vida eterna vem somente por meio dEle a todos aqueles que creem (Jo 3.16). Como Jesus disse: "Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim" (Jo 14.6). Todo mundo vai viver em algum lugar por toda a eternidade, tanto os cristãos quanto os não-cristãos. E o único destino eterno diferente de estar no céu com Cristo é aquele que proporciona castigos eternos aos que O rejeitam (Mt 25.46).
Em relação às coisas materiais abundantes que este mundo oferece, que muitos buscam tenazmente, Jesus nos ensinou a não armazenar para nós tesouros terrestres que podem ser destruídos ou roubados (Mt 6.19,20). Afinal, não trouxemos nada para este mundo, e não podemos levar nada dele. No entanto, nossos principais valores cristãos muitas vezes são ignorados em nossa busca diligente pelo sucesso e conforto material, e no meio dessas atividades terrenas, muitas vezes nos esquecemos de Deus. Moisés abordou esta questão há 3.500 anos, quando seu povo estava prestes a entrar na Terra Prometida. Ele advertiu-os a não se esquecerem de Deus, pois sabia que "depois de haveres edificado boas casas e morado nelas", seus corações se tornariam orgulhosos e se esqueceriam dEle (Dt 8.12-14). Certamente, não há valor eterno em viver nossas vidas para nós mesmos, procurando tirar da vida tanto quanto possível, assim como o sistema mundial nos faria crer.
Conclusão
O apóstolo Paulo discute a qualidade das obras que podem trazer recompensas eternas. Igualando os cristãos aos "construtores" e a qualidade dos nossos trabalhos com os materiais de construção, Paulo nos informa que os bons materiais que sobrevivem ao fogo do teste divino e têm valor eterno são "ouro, prata e pedras preciosas", ao passo que o uso dos materiais inferiores de "madeira, feno e palha" para construir sobre o fundamento que é Cristo não tem valor eterno e não será recompensado (1 Co 3.11-13). Essencialmente, Paulo está nos dizendo que nem toda a nossa conduta e obras merecerão recompensas.
Há muitas maneiras pelas quais nosso serviço ao Senhor nos trará recompensas. Primeiro, precisamos reconhecer que todo verdadeiro crente foi separado por Deus e para Deus. Quando recebemos o dom de salvação de Deus, recebemos certos dons espirituais (1 Co 12.7, 11). E se pensarmos que nossos dons são insignificantes, precisamos lembrar que, como Paulo disse à igreja em Corinto, o corpo de Cristo é composto de muitas partes (1 Co 12.14). E "Mas Deus dispôs os membros, colocando cada um deles no corpo, como lhe aprouve. … os membros do corpo que parecem ser mais fracos são necessários" (1 Co 12.18, 22). Quando exercitando seus dons espirituais, você está desempenhando um papel importante no corpo de Cristo e fazendo o que tem valor eterno.
Todo membro do corpo de Cristo pode fazer contribuições significativas quando buscamos humildemente edificar o corpo e glorificar a Deus. Na verdade, cada pequena coisa pode adicionar ao lindo mosaico do que Deus pode fazer quando desempenhamos a nossa parte. Lembre-se que, na terra, Cristo não tem outro corpo senão o nosso, nenhuma mão senão as nossas, e nenhum pé senão os nossos. Os dons espirituais são o modo de Deus de administrar a Sua graça aos outros. Quando mostramos o nosso amor por Deus obedecendo aos Seus mandamentos, quando perseveramos na fé, apesar de toda oposição e perseguição, quando em Seu nome mostramos misericórdia aos pobres e doentes e menos afortunados, e quando ajudamos a aliviar a dor e o sofrimento que está ao nosso redor, então estamos construindo com "ouro, prata e pedras preciosas" que têm verdadeiro valor eterno.
Sugestão de Leitura da Semana: ATAÍDE, Romulo. O Cristão e a Pós-Modernidade. São Paulo: Evangelho Avivado, 2017.
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