sábado, 29 de agosto de 2020

Comentário Bíblico Mensal: Agosto/2020 - Capítulo 4 - Os Tempos Trabalhosos na Pós-Modernidade




Comentarista: Gustavo Linhares



Texto Bíblico Base Semanal: Daniel 12.1-10

1. E naquele tempo se levantará Miguel, o grande príncipe, que se levanta a favor dos filhos do teu povo, e haverá um tempo de angústia, qual nunca houve, desde que houve nação até àquele tempo; mas naquele tempo livrar-se-á o teu povo, todo aquele que for achado escrito no livro.
2. E muitos dos que dormem no pó da terra ressuscitarão, uns para vida eterna, e outros para vergonha e desprezo eterno.
3. Os que forem sábios, pois, resplandecerão como o fulgor do firmamento; e os que a muitos ensinam a justiça, como as estrelas sempre e eternamente.
4. E tu, Daniel, encerra estas palavras e sela este livro, até ao fim do tempo; muitos correrão de uma parte para outra, e o conhecimento se multiplicará.
5. Então eu, Daniel, olhei, e eis que estavam em pé outros dois, um deste lado, à beira do rio, e o outro do outro lado, à beira do rio.
6. E ele disse ao homem vestido de linho, que estava sobre as águas do rio: Quando será o fim destas maravilhas?
7. E ouvi o homem vestido de linho, que estava sobre as águas do rio, o qual levantou ao céu a sua mão direita e a sua mão esquerda, e jurou por aquele que vive eternamente que isso seria para um tempo, tempos e metade do tempo, e quando tiverem acabado de espalhar o poder do povo santo, todas estas coisas serão cumpridas.
8. Eu, pois, ouvi, mas não entendi; por isso eu disse: Senhor meu, qual será o fim destas coisas?
9. E ele disse: Vai, Daniel, porque estas palavras estão fechadas e seladas até ao tempo do fim.
10. Muitos serão purificados, e embranquecidos, e provados; mas os ímpios procederão impiamente, e nenhum dos ímpios entenderá, mas os sábios entenderão.

Momento Interação

Estamos inseridos em um contexto em que houve uma ruptura com a cultura de valores éticos, moral e espirituais. Isso revela a face perversa do mal que afeta a sociedade como um todo, e que acaba tentando afetar também a cultura da igreja do Senhor (Rm 12.2). Ainda é possível verificar que o atual contexto histórico de sociedade é evidenciado por uma geração sem referência, sem reverência e sem limites, relativista, narcisista, hedonista, céticos e ao mesmo tempo moralistas. Outro sim, o Apostolo Paulo agora admoesta escrevendo (2 Tm 3.1-5) reforça a tese dos desvios de comportamento típico dos tempos atrelados aos últimos dias.

Introdução

A expressão “tempos trabalhosos” foi utilizada pelo apóstolo Paulo na sua segunda carta a Timóteo, que, aliás, é o texto áureo deste Comentário Bíblico Mensal (2 Tm 3.1). Esta carta foi a última escrita pelo apóstolo que, preso em Roma, vítima da primeira grande perseguição romana contra os cristãos, levada a efeito pelo imperador Nero, no ano de 64, já tinha convicção de que seria condenado à morte por causa do Evangelho. Nessa carta, o apóstolo Paulo disse que sobreviriam tempos trabalhosos para a Igreja, ou seja, tempos difíceis, duros de se tratar, violentos e perigosos. Estes dias já chegaram e nós o estamos vivendo. A cada dia que passa, maiores são as provocações sofridas pela Igreja num mundo que vai de mal a pior e que caminha para a maior expressão de rebelião contra Deus desde os dias de Babel. Assim sendo, a Igreja precisa estar ciente dos tempos trabalhosos em que vive e, assim, não só se armar convenientemente com a Palavra de Deus, a única arma de ataque da armadura divina, para enfrentá-lo, como também não permitir que seja levada com os “quase todos” que, por causa destes dias, esfriarão o seu amor.

I. O Pós-Modernismo x Conduta Cristã

Há um “sentimento exagerado de triunfo” que tem tomado conta da vida de muitos crentes, que, insuflados por pregadores de um falso evangelho, evangelho este baseado na “teologia da prosperidade”, passam a se considerar “super-crentes”, pessoas que se encontram acima das dificuldades e das adversidades da vida e que, portanto, confundem vida espiritual com prosperidade material e imunidade aos males desta vida.

Veja o absurdo que determinados falsos pregadores estão dizendo: “Satanás venceu Jesus na cruz”; “Nunca, jamais, em tempo algum, vá ao Senhor dizendo: Se for da tua vontade... Não permita que essas palavras destruidoras da fé saiam de sua boca”; “Deus precisa receber permissão para trabalhar neste reino terrestre do homem... Sim”; “Você está no controle das coisas!”. São palavras absurdas que saem da boca imunda desses falsos mestres. Infelizmente, há muitos incautos que aceitam essas blasfêmias. Que Deus nos aguarde!

Inspirados em teologias liberais (Teologia Liberal é a corrente teológica que nega, entre outras coisas, a inspiração e a inerrância das Escrituras), há crentes que não mais vêem a Bíblia como a inspirada, inerrante e infalível Palavra de Deus, mas apenas a contem. Mas a Bíblia diz que “Toda Escritura é divinamente inspirada e proveitosa para ensinar, para repreender, para corrigir, para instruir em justiça”(2 Tm 3.16). A própria Bíblia nos adverte com toda clareza, sobre esse tempo – “Ninguém de modo algum vos engane; porque isto não sucederá sem que venha primeiro a apostasia e seja revelado o homem do pecado, o filho da perdição”(2 Ts 2.3).

II. Tempos Trabalhosos e a Tecnologia

As histórias da criação nas Escrituras destacam a criação da humanidade. De todas as criaturas ela se destaca como criada “à imagem e à semelhança de Deus” (Gênesis 1.26-28) que é outra maneira de dizer “segundo a espécie” (oito vezes em Gênesis 1.11-25), no caso, a “espécie divina”. Nos primeiros dois capítulos de Gênesis, Deus se descreve explicitamente como criador, mas ao lermos com um pouco mais de cuidado as entrelinhas, Deus também aparece como dominador criando “reinados” em cada um dos primeiros três dias, “reis e rainhas” sobre estes mesmos domínios nos próximos três dias para finalmente descansar – a postura de um rei no seu trono – no sétimo dia. Finalmente, se Deus é o criador de toda a criação, ele está presente em todo lugar.

Estas três qualidades divinas (obviamente estas não esgotam os seus atributos) – dominação, criação e presença – também caracterizam a humanidade, mesmo em menor escala. O ser humano é incumbido de dominar a terra e o mundo animal (1.28) o que, por sua vez, necessita do poder criativo para a domesticação dos animais (a pecuária) e da terra (agricultura). Assim nasce a tecnologia mais antiga, característica necessária do ser humano criado à imagem e à semelhança de Deus e o que mais o distingue do resto da criação animal. Para cumprir a sua tarefa, obviamente o ser humano precisa estar presente. Por isso, a ordem de se multiplicar e ser fecundo, diferente de Deus que sem a limitação do corpo físico criado, está presente em todo lugar.

A antropologia nos ensina que a parte da cultura que chamamos de “tecnologia” se compõe de ferramentas e de técnicas. As ferramentas são os objetos que criamos para estender a capacidade do corpo, por exemplo, de se locomover, se alimentar, se proteger, comunicar e se defender. As técnicas são as maneiras que maximizamos o uso destes objetos. Com o tempo e a aprendizagem a tecnologia se desenvolve em termos de eficiência, complexidade e grau de controle. Dito desta forma, é fácil entender que a tecnologia essencialmente é neutra. Entretanto, como já aludimos, o seu propósito biblicamente intencionado, é benéfica. Ela deverá auxiliar o ser humano a cumprir a sua tarefa de cuidar e ordenar a criação de Deus.

O problema é que os relatos da criação também nos contam do fracasso humano – a queda. E assim, as características humanas que refletem a própria imagem de Deus, inclusive a tecnologia, são tingidas. A tecnologia começa a se desenvolver (Gn 4.20-22) e logo aprendemos novamente que, mesmo em meio ao crescimento da maldade, o seu propósito era de guardar e cuidar toda a criação de Deus (Gn 6.14-16). Neste contexto, Deus estabelece com a nova humanidade de Noé a mesma incumbência estabelecida anteriormente com Adão: de popular e cuidar da sua criação. E como Noé executou esta incumbência? Pela tecnologia, no caso, a agricultura (Gn 7.20). E mais adiante a tecnologia se desenvolve mais, na área da caça (Gn 10.7) e da engenharia civil (Gn 10.11-11). Vimos que a tecnologia é usada tanto para cumprir a tarefa de ocupar a terra (Gn 10.11) quanto para o auto engrandecimento (Gênesis 11). E é assim que entendemos a tecnologia hoje. Como uma extensão da capacidade humana ela pode ser aliada tanto ao seu propósito maior de cuidar da criação rumo à nova criação, ou pode ser aliada aos valores humanos mais baixos de exploração, opressão, depredação e a injustiça.

III. Tempos Trabalhosos e as Redes Sociais

As redes sociais se tornaram um fenômeno em nossos tempos. Bilhões de pessoas em todo o mundo se conectam através delas. Informações, conteúdos, ideias e conhecimentos são compartilhados diariamente.De modo geral, podemos dizer que essas ferramentas digitais trazem muitos benefícios para a humanidade. No entanto, ainda estamos aprendendo a nos conectar através delas, o que tem gerado muito prejuízo para algumas áreas.

Pesquisa desenvolvida pela Fundação Telefônica Vivo – já abordada em artigo anterior – revela que 60% dos jovens sentem que a ansiedade aumentou com o uso das redes. É um número relevante. A cada 10 jovens com idade entre 15 e 29 anos, seis deles estão sendo afetados de forma negativa por essas ferramentas. Segundo a pesquisa, 80% deles criam ou postam algum tipo de conteúdo nestas redes.Pois bem! O ambiente digital pode ser altamente produtivo, como já disse anteriormente, mas o uso inadequado das mídias têm causado muitos malefícios. Um deles é a alteração na maneira como nos comunicamos. Atualmente vivemos uma crise nas relações interpessoais. Poucos ainda cultivam os bons relacionamentos com amigos e familiares. Muitos colecionam milhões de “amigos” virtuais, mas não tem boas relações físicas.

Ter empatia é o mesmo que se compadecer pelas pessoas. É sofrer com os que sofrem. Ter uma relação de verdadeira preocupação e disposição para com as outras pessoas. No ambiente virtual isso não é plenamente possível. Agostinho disse que “no amor do próximo o pobre é rico, mas sem o amor do próximo o rico é pobre”. Portanto, é muito importante que tenhamos uma relação com as pessoas que possibilite conhecer suas mazelas.

Existe também a sua relação com essas mídias. Como cristãos, precisamos servir de bons testemunhos no ambiente virtual, mas há muitas pessoas que tem utilizado as ferramentas de forma errada. Ao invés de se resguardar, muitas pessoas se expõem de forma excessiva na Internet. Acabam revelando suas fraquezas, defeitos e servindo de escândalo. O que a Bíblia diz a respeito disso? “Ai daquele por quem vier o escândalo”, diz Mateus 18.7.

Você pode se perguntar: então devo abandonar as redes sociais? Meu conselho é que você aprenda a usar com cautela. Faça destas ferramentas uma forma de evangelização e bom testemunho sobre como Deus age em sua vida. As redes sociais devem servir para que o mundo veja o seu testemunho de fé. Sempre com toda a cautela. Acredito que bons conteúdos possam servir para edificar outras vidas. Portanto é preciso discernimento.

Conclusão

Vivemos a era da comunicação digital. Nunca foi tão fácil adquirir e transmitir conhecimento, assim como obter informações sobre os mais variados assuntos de forma rápida, prática, fácil e simples. É a era da internet, a era das Redes Sociais. Por definição, Rede Social é “Relação estabelecida entre indivíduos com interesses em comum em um mesmo ambiente. Na internet, as redes sociais são as comunidades online como Twitter , Facebook e MySpace, em que internautas se comunicam, criam comunidades e compartilham informações e interesses semelhantes”. 

Facilmente nos conectamos aos amigos, colegas de trabalho, da escola, faculdade, parentes, conhecidos, clientes, fornecedores, pessoas que não conhecíamos e passamos a conhecer via internet. Enfim, podemos nos conectar praticamente com qualquer pessoa em todo o planeta e interagir em tempo real. As Redes Sociais estão mudando a forma como as pessoas se relacionam, como elas se divertem, trocam informações, interagem, compram, pesquisam, decidem, se informam. As Redes Sociais na internet literalmente mudaram o modo de viver da maioria das pessoas do planeta.

Impressionam os números resultantes desta revolução tecnológica e digital. O Facebook, com quase 1.000.000.000 (um bilhão) de usuários, se fosse um país, seria o terceiro maior país do mundo; o Twitter, com aproximadamente 500.000.000 (quinhentos milhões) de usuários, possui uma plataforma que chega a postar 7.000 (sete mil) tweets por segundo. É! Por segundo! São 420.000 (quatrocentos e vinte mil) por minuto, ou 25.200.000 (vinte e cinco milhões e duzentos mil) por hora. Realmente, é algo impressionante e impensável há poucos anos atrás, quando nem aparelhos celulares tínhamos.

Se você possui um perfil no Facebok, Twitter, Pinterest, Linkedin, ou em qualquer outra Rede Social, tenha em mente que, se você é cristão, tem o maior exemplo que alguém poderia ter de como construir corretamente uma Rede Social: Jesus Cristo. Durante três anos, juntamente com um grupo de 12 homens totalmente despreparados e desqualificados a princípio, Jesus Cristo, Deus encarnado, nosso Senhor e Salvador, nos mostrou o que fazer através do Seu ensinamento. Por três anos, incansavelmente, dia e noite, Jesus trabalhou juntamente com aqueles doze homens pregando o Evangelho da Graça de Deus. O resultado é o que vemos hoje.



Sugestão de Leitura da Semana: SANTOS, Matheus. O Viver do Cristão. São Paulo: Evangelho Avivado, 2019.


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