sábado, 5 de fevereiro de 2022

Comentário Bíblico Mensal: Fevereiro/2022 - Capítulo 1 - O Cristão e os Relacionamentos




Comentarista: Matheus Gonçalves



Texto Bíblico Base Semanal: 1 Pedro 2.11-17


11. Amados, peço-vos, como a peregrinos e forasteiros, que vos abstenhais das concupiscências carnais, que combatem contra a alma;

12. Tendo o vosso viver honesto entre os gentios; para que, naquilo em que falam mal de vós, como de malfeitores, glorifiquem a Deus no dia da visitação, pelas boas obras que em vós observem.

13. Sujeitai-vos, pois, a toda a ordenação humana por amor do Senhor; quer ao rei, como superior;
14. Quer aos governadores, como por ele enviados para castigo dos malfeitores, e para louvor dos que fazem o bem.

15. Porque assim é a vontade de Deus, que, fazendo bem, tapeis a boca à ignorância dos homens insensatos;

16. Como livres, e não tendo a liberdade por cobertura da malícia, mas como servos de Deus.

17. Honrai a todos. Amai a fraternidade. Temei a Deus. Honrai ao rei.



Momento Interação

Em seu ministério terreno, o Senhor Jesus deu grande importância à questão do amor ao próximo. Certa vez um fariseu lhe perguntou sobre qual seria o grande mandamento da lei. Em outras palavras, ele queria saber qual dos 613 mandamentos identificados na religião judaica, era o mais importante. Jesus respondeu a pergunta do fariseu com um mandamento duplo: o primeiro e maior de todos os mandamentos é aquele que ensina que devemos amar a Deus sobre todas as coisas (Mt 22.37,38; cf. Dt 6.5). Já o segundo mandamento é aquele que diz: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Mt 22.39; cf. Lv 19.18). É evidente que o verdadeiro amor ao próximo é um amor sacrifical e abnegado; pois envolve buscar o bem-estar do próximo sem qualquer interesse próprio. Jesus não apenas ensinou sobre a necessidade de o homem amar o próximo como si mesmo, mas também demonstrou na prática esse compromisso. Assim, sua conduta serve de exemplo a todos os cristãos (1 Jo 3.16).

Introdução

Relacionamento interpessoal refere-se às relações entre pessoas, grupos ou equipes, sejam elas pessoais, profissionais ou familiares. É da natureza do ser humano se relacionar e, quanto melhores e mais positivas forem essas relações, maiores serão as chances de construirmos conexões verdadeiras com as pessoas com quem convivemos. Para isso, elementos como empatia e respeito são fundamentais. Somos seres sociáveis, precisamos do convívio, do contato com outras pessoas. Também é comum buscarmos aprovação social. Sermos aceitos, fazer parte de algo, está relacionado à nossa necessidade de associação, a necessidade de estarmos nos relacionando com pessoas que tenham gostos, valores e ambições parecidas com as nossas. Tudo isso é muito importante para o ser humano, para que ele possa encontrar e se identificar com a sua tribo, seu grupo de afinidades, encontrar pessoas que sintam as mesmas coisas, que discutem os mesmos temas.

As pessoas que devemos ter conosco, em nossa caminhada, são as pessoas que acreditem em nós, em nosso potencial, em nossos sonhos. Pessoas que nos aceitem como somos, que se identifiquem com nossa essência e que acreditem em nossas potencialidades. É maravilhoso quanto temos sonhos e podemos compartilha-los com pessoas que imediatamente se engajam, se entregam para realiza-los juntos. Pessoas que nos estimulem a crescer, a aumentar nosso desenvolvimento, que elevem nossa frequência e que nos impulsionem a sair da zona de conforto. Pessoas que nos provoquem a ser cada dia melhores e que nos façam evoluir. É primordial olhar em volta e estar cercado de pessoas bacanas, positivas, que tenham ambições e vontade de crescer e se desenvolver, porque estas pessoas te estimularão a fazer a mesma coisa – e você fará o mesmo por elas! Ao contrário disso as pessoas das quais você não precisa são aquelas que sugam suas energias, que te colocam para baixo e fazem com que você não queira evoluir.

I. A Importância dos Relacionamentos

Todo Ser Humano se relaciona para viver e para se sentir inserido na sociedade. Mas o que são relações interpessoais? Quando falamos de relações interpessoais, estamos nos referindo ao relacionamento entre duas ou mais pessoas. Relacionar-se não é algo muito fácil, requer de nós um esforço grande, e isso inclui aceitação, respeito mútuo e principalmente empatia, que é a capacidade de se colocar no lugar do outro. Por mais difícil que seja nos relacionarmos com outras pessoas, temos que nos esforçar, pois o nosso sucesso em qualquer área da nossa vida, depende disso. Para nos relacionarmos bem, podemos começar observando a forma como nos relacionamos com nós mesmos, essa relação é chamada de intrapessoal.

Aprender a relacionar-se consigo mesmo é ir em busca do autoconhecimento. Quando conhecemos a nós mesmos, aprendemos a nos amar e possivelmente a amar o próximo. Aprendemos a identificar aquilo que nos agrada e passamos a viver em busca do que nos traz alegria. Concentre-se em reparar como você trata as pessoas, principalmente as mais próximas, pois normalmente esse é o modo como você se trata. Quando você entende o que funciona pra você fica muito mais fácil aperfeiçoar as relações com os outros. Desenvolva a arte de se relacionar bem consigo mesmo para que seus relacionamentos pessoais e de trabalho sejam saudáveis. Quem possui a habilidade de se relacionar bem com os demais, se torna um profissional desejado, pois trabalha bem em equipe.

Só trabalha bem em equipe quem sabe se relacionar. Trabalhar em equipe é realizar determinadas tarefas, em prol de alcançar um único objetivo comum. Numa equipe, os membros se apoiam mutuamente, cooperam uns com os outros e compartilham tarefas. É necessário que haja sinergia entre o grupo e que o espírito de cooperação prevaleça, trazendo os resultados esperados. Quando valorizamos o trabalho em equipe aprendemos a dar importância às pessoas que nos cercam e entendemos que cada uma tem uma forma diferente de contribuir. Cada pessoa tem suas próprias experiências ao longo da vida, e isso faz com que tenham crenças diferentes. Entendendo isso, fica mais fácil aceitar que as pessoas são diferentes umas das outras, que agem e reagem de maneira própria em cada situação. Ainda bem que não somos iguais! Se permanecermos abertos a novas formas de pensar e de fazer, a vida pode ficar mais dinâmica e divertida!

II. Os Relacionamentos como Base de Convivência

A vida cristã é sempre sobre relacionamento. Ela começa com a salvação, a restauração de nosso relacionamento com Deus (Romanos 5.1), continua por meio da santificação ou o crescimento de nossa relação com Deus (2 Co 3.18) e culmina com nossa glorificação, quando estivermos plenamente em comunhão com Deus (1 Co 13.12). Naquela que talvez seja uma das mais claras declarações sobre o cristianismo, Jesus respondeu sobre qual é a maior mandamento, registrado no evangelho de Marcos 12.28-31: "Um dos mestres da lei aproximou-se e os ouviu discutindo. Notando que Jesus lhes dera uma boa resposta, perguntou-lhe: “De todos os mandamentos, qual é o mais importante?” Respondeu Jesus: “O mais importante é este: ‘Ouça, ó Israel, o Senhor, o nosso Deus, o Senhor é o único Senhor. Ame o Senhor, o seu Deus, de todo o seu coração, de toda a sua alma, de todo o seu entendimento e de todas as suas forças’. O segundo é este: ‘Ame o seu próximo como a si mesmo’. Não existe mandamento maior do que estes".

É legítimo afirmarmos que esta síntese do evangelho nos aponta para uma relação amorosa com Deus e com os outros. Em um mundo em que relacionamentos estão se tornando cada vez mais descartáveis e “virtuais”, é fundamental ao líder que deseja terminar bem que invista em relacionamentos saudáveis. Este é o artigo final de série sobre terminar bem. O eixo desta série de artigos é justamente explorar os hábitos que são encontrados naqueles que finalizam bem sua carreira cristã. Importa lembra que terminar bem não significa terminar com sucesso de acordo com o mundo, mas de acordo com Deus.

Existem muitas instruções sobre relacionamentos na Bíblia. Este tema certamente é digno de ser estudado com muito mais profundidade do que permite este artigo. No entanto, eu gostaria de alistar apenas algumas instruções que, a meu ver, são fundamentais. Para tanto vou me concentrar em apenas uma passagem: Romanos 12.9-21. Antes de iniciar este estudo, porém, creio que é importante destacar que muito embora relacionamentos sejam o fundamento da fé cristã, isso não significa que todos os cristãos tenham igual facilidade em lidar com seus relacionamentos. Na verdade, é minha firme convicção que todo cristão é limitado no cumprimento das instruções de Cristo sobre relacionamentos. Todos podemos crescer em um aspecto ou outro.

III. Relacionamentos no Contexto Bíblico

Há muita gente em nossas igrejas com um grau enorme de dificuldade na área de relacionamento. Seja por causa da timidez; seja em função de traumas do passado; com uma porção de preconceitos e atitudes egoístas; com um temperamento explosivo, pavio curto, sem o mínimo de paciência; gente que critica negativamente, que possui uma postura ácida; pessoas com uma insatisfação crônica; gente que murmura, pragueja; que age com falsidade, dissimulação, relacionando-se hipocritamente. Todas essas tendências e práticas pertencem à natureza de Adão, que herdamos em nossa constituição humana, pecaminosa e perversa. Jeremias trouxe da parte de Deus o seguinte diagnóstico do nosso coração ou da nossa natureza: “O coração é enganoso e incurável, mais que todas as coisas; quem pode  conhecê-lo? Eu, o Senhor, examino a mente e provo o coração, para retribuir a cada um segundo os seus caminhos e segundo o fruto das suas ações” (Jr 17.9,10).
 
Tiago, inspirado pelo Espírito Santo, nos dá uma exortação preciosa: “Meus amados irmãos, tende certeza disto: todo homem deve estar pronto para ouvir, ser tardio para falar e tardio para se irar. Porque a ira do homem não produz a justiça de Deus” (Tg 1.19,20). A confrontação do apóstolo aqui é muito eficaz. Funciona mesmo. Ele coloca muito bem aqui os três traços vitais de um relacionamento saudável: Amor, humildade e mansidão. Então, o amor tem disposição para ouvir o próximo; a humildade sabe esperar o momento para falar e a mansidão não reage negativamente. Jesus era assim. Em todo o Seu riquíssimo ministério Ele teve atitudes e atos marcados pelo amor, pela humildade e pela mansidão. Deixou muito claro que o Seu amor era incomparável (João 15.13,14) e que devemos aprender dEle que é manso e humilde de coração (Mt 11.29). 

O amor, dizem as Escrituras, “tudo sofre, tudo crê, tudo espera e tudo suporta” (1 Co 13.4-8). O amor supera preconceitos, diferenças, temperamentos, egoísmo, timidez e quaisquer outros sentimentos que não estão em Cristo Jesus. O amor supera todas as barreiras e fossos estabelecidos pelo homem. O amor perdoa, abençoa, encoraja, compreende, aceita e coopera. No amor não há extratos, níveis sociais e econômicos. A linguagem do amor é a da aceitação, do perdão e da festa. O amor ouve, espera e descansa nAquele que tudo pode (Fil 4.13). No amor não há medo. A linguagem do amor é a da coragem, franqueza, legitimidade e coerência. No verdadeiro amor não há máscaras. O amor olha nos olhos e diz a verdade pura e simples.

A humildade, por sua vez, significa que reconheço a minha pequenez, minhas limitações e que sou pó. Como dizia o padre Antonio Vieira, somos pó em pé. Fomos alcançados pela graça. Perdoados por um pecado que não podíamos cobrir e resgatar. Jesus nos libertou a todos pelo Seu sangue derramado na cruz. O Seu poder se aperfeiçoa em nossa fraqueza, debilidade. A humildade é o oposto da arrogância. Devemos reconhecer sempre as nossas mazelas. Jesus foi humilde de coração (Mt 11.29). Por isso, a humildade sabe ouvir, esperar e descansar. Na humildade considero o outro superior a mim mesmo. A humildade é uma grande benção de Deus nos relacionamentos. Esta foi a orientação sábia de Paulo aos irmãos em Filipos (2.5-8). A humildade é a linguagem da igualdade. Todos nos encontramos no mesmo nível – o da cruz.
 
A mansidão é o terceiro traço vital nos relacionamentos. Ser manso é submeter todos os meus direitos ao Senhor. Depositar a minha pretensa reputação aos Seus pés. Jesus sempre foi manso. A mansidão é uma atitude da pessoa regenerada, salva pela graça de Deus em Cristo Jesus. Ela nos aponta para a não-reação negativa, para o caminhar a segunda milha, para o sofrer em silêncio e abençoar os que nos perseguem. Significa vivermos em paz com os outros (Rm 12.18). Então, a mansidão aprende a ouvir, esperar e descansar. Estevão, diante do sofrimento, foi manso. Ele possuía o caráter de Cristo, o caráter do Cordeiro que foi para o matadouro mudo, sem abrir a Sua boca. O profeta Isaias fala claramente acerca desta verdade: “Ele foi oprimido e afligido, mas não abriu a boca; como um cordeiro que é levado ao matadouro, e como ovelha muda diante dos seus tosquiadores, ele não abriu a boca” (Is 53.7).

Conclusão

Que esses traços vitais estejam em nós e nos nossos relacionamentos. Que o Senhor Jesus Cristo domine completamente as nossas relações a partir do nosso coração.  Que a Sua paz seja o árbitro em nossos corações e sejamos agradecidos (Col 3.15). Louvemos a Deus, dignifiquemos o Seu grandioso nome, pelos nossos irmãos. Não respondamos ao agravo. Reconheçamos as nossas profundas limitações, falhas e os nosso defeitos. Então, sejamos prontos para ouvir; tardios para falar e tardios para se irar. A justiça de Deus vai agir na vida daqueles que vivem o amor, a humildade e a mansidão à semelhança de Jesus, nosso Salvador e Senhor. 


Recomendação de Leitura da Semana: SANTOS, Matheus. O Viver do Cristão. São Paulo: Evangelho Avivado, 2019.


 

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