sábado, 27 de novembro de 2021

Comentário Bíblico Mensal: Novembro/2021 - Capítulo 5 - A Dedicação de Neemias para com Israel

 




Comentarista: Henrique Lins



Texto Bíblico Base Semanal: Neemias 13.1-12

1. Naquele dia leu-se no livro de Moisés, aos ouvidos do povo; e achou-se escrito nele que os amonitas e os moabitas não entrassem jamais na congregação de Deus,

2. Porquanto não tinham saído ao encontro dos filhos de Israel com pão e água; antes contra eles assalariaram a Balaão para os amaldiçoar; porém o nosso Deus converteu a maldição em bênção.

3. Sucedeu, pois, que, ouvindo eles esta lei, apartaram de Israel todo o elemento misto.

4. Ora, antes disto, Eliasibe, sacerdote, que presidia sobre a câmara da casa do nosso Deus, se tinha aparentado com Tobias;

5. E fizera-lhe uma câmara grande, onde dantes se depositavam as ofertas de alimentos, o incenso, os utensílios, os dízimos do grão, do mosto e do azeite, que se ordenaram para os levitas, cantores e porteiros, como também a oferta alçada para os sacerdotes.

6. Mas durante tudo isto não estava eu em Jerusalém, porque no ano trinta e dois de Artaxerxes, rei de babilônia, fui ter com o rei; mas após alguns dias tornei a alcançar licença do rei.

7. E voltando a Jerusalém, compreendi o mal que Eliasibe fizera para Tobias, fazendo-lhe uma câmara nos pátios da casa de Deus.

8. O que muito me desagradou; de sorte que lancei todos os móveis da casa de Tobias fora da câmara.

9. E, ordenando-o eu, purificaram as câmaras; e tornei a trazer para ali os utensílios da casa de Deus, com as ofertas de alimentos e o incenso.

10. Também entendi que os quinhões dos levitas não se lhes davam, de maneira que os levitas e os cantores, que faziam a obra, tinham fugido cada um para a sua terra.

11. Então contendi com os magistrados, e disse: Por que se desamparou a casa de Deus? Porém eu os ajuntei, e os restaurei no seu posto.

12. Então todo o Judá trouxe os dízimos do grão, do mosto e do azeite aos celeiros.

Momento Interação

Estando tudo pronto física e estruturalmente com a Casa de Deus reformada e bem assim a cidade com seus muros e demais construções. Estando aí também o povo de Deus que Neemias se empenhou em trazer para a cidade. Primeiramente, depois de tudo isso, foi feita a renovação da aliança com Deus e em seguida houve a dedicação do muro que culminou com grandes sacrifícios e extrema alegria (palavra repetida nesse versículo apenas em 5 oportunidades!) – 12.43. Agora sim, somente faltava uma coisa para ficar tudo completo e Neemias concluir seus objetivos. O último ato de Neemias foi reformar o povo de Deus.

A santificação do povo de Deus aconteceu principalmente pela exclusão dos estrangeiros (vs 1 ao 3) -, do serviço no templo – vs 4 ao 14 -, da observância do sábado (vs 15 ao 22) -, e do divórcio das mulheres estrangeiras (vs 23 ao 31). Veio à memória do povo por casa da leitura da Lei quando Esdras leu a Lei para o povo de Deus a possibilidade de corrupção do programa de restauração por causa dos estrangeiros. A promessa de obediência geral à lei de Deus (10.28, 29) acarretou a separação dos povos vizinhos para evitar a corrupção religiosa e a idolatria (10.28). O povo que tinha sido levado ao cativeiro e mesmo eles depois de retornarem haviam renegado esse aspecto da promessa. O que exigiu uma atitude bem enérgica da liderança e de todo povo.

Introdução

Na relação dos que assim fizeram essa aliança não consta – não se sabe o motivo – o sacerdote Esdras, embora este tenha desempenhado um importante papel em Neemias 8. Talvez Azarias seja uma variante de pronúncia do nome Esdras. O que se depreende do texto é que o seu trabalho foi concluído com êxito, pois vemos já em Neemias 9.3 que o próprio povo já estava lendo e compreendendo a lei. A lista dos que selaram, em sua maior parte, são de pessoas desconhecidas o que vem reforçar um tema central em Esdras-Neemias que é a participação do povo de Deus como um todo e não apenas os grandes líderes. O restante do povo, inclusive mulheres e filhos e filhas, todos os que tinham saber e entendimento (Ne 10.28,29), fez o juramento de obediência a todas as suas estipulações, renovando assim a aliança.

Eles, no vs 29, firmemente aderiram ou seja ratificaram a renovação da aliança de andarem na Lei de Deus, que foi dada por meio de Moisés, dando um destaque especial à proibição dos casamentos mistos por causa da transgressão que cometeram e que tinha marcado a nação. Dos versos 30 ao 32, eles se comprometeram, em aliança, jurando solenemente, a procederem segundo a Lei de Deus dada por meio de Moisés, servo de Deus para porem em prática todos os preceitos, decretos e ordens do Senhor. Com ênfase na Lei da segregação em assuntos matrimoniais (Ne 10.31; Ed9); a Lei do sábado como sinal da aliança (Ne 10.32); a Lei do jubileu ou do perdão periódico de dívidas, visando à justiça social (Ne 10.32). Além disso ainda se comprometeram (Ne 10.32-39), com preceitos cultuais, resumidos em tributos: primícias, dízimos e outras ofertas (Lv 27.30-33; Nm 18; Êx 44.30).

Naquela época não existia exposição do texto bíblico em aparelhos audiovisuais como os projetores de multimídia, nem havia condições de se fazer cópias ou gravar textos, áudios e vídeos sobre a Lei. Um era o que lia e todo o povo ouvia. Assim, a transmissão da Lei e das histórias era feita com habilidades de oratórias e pessoalmente, exigindo de todos silêncio e máxima atenção, pois do contrário teriam perdido o sentido e comprometeria a compreensão do texto lido. A habilidade de falar, de escrever, de gravar na memória era muito mais evoluída principalmente por conta da necessidade. Hoje, tudo está gravado e disponível de tantas formas que nossos dons e talentos intelectuais se atrofiaram ou mesmo se perderam ao longo dos tempos.

Toda a Bíblia, suas narrativas e forma literária de se expressar, leva em conta esse detalhe da oralidade e, na verdade, funciona muito bem, mas exige de nós esforços e muita concentração e paciência. Esdras leu. O povo ouviu. Os líderes, os sacerdotes, os levitas depois ainda explicaram ao povo toda a lei e eles entenderam. Então confessaram seus pecados, adoraram ao Senhor e renovaram a aliança diante de Deus e das autoridades civis e religiosas de Judá.

I. A Determinação de Neemias

Jerusalém foi preparada para a dedicação pelo seu repovoamento onde o capítulo 11 apresenta as pessoas comuns que repovoaram Jerusalém e os seus arredores e no capítulo 12, os sacerdotes e levitas que repovoaram Jerusalém. Dos versos 1 ao 36, do capítulo 11, encontraremos essa relação daqueles que viviam dentro ou perto de Jerusalém, sendo que os que habitavam Jerusalém vai dos vs 1 ao 19; os que habitaram nas cidades de Judá, dos vs 20 ao 24; e, os residentes nas aldeias, dos vs 25 ao 36. Era o desafio de Neemias, o governador, e de Esdras, o sacerdote, o repovoamento da cidade de Jerusalém. A sua preparação, com o templo reformado e com os muros já concluídos, davam ânimo e forças para aqueles que ainda estavam indecisos e não queriam largar uma vida certa no campo por algo duvidoso na cidade.

Assim, a dedicação dos muros seguindo um ritual de festas, consagrações davam ao povo motivo de alegria que os manteriam unidos em torno de um objetivo. Neemias e os principais líderes souberam explorar isso muito bem do povo de Deus. Ao mesmo tempo em que reedificavam a cidade física, também tratavam da parte espiritual e emocional do povo de Deus que tinha sofrido muito por causa da sua rebeldia. Haviam promessas específicas relacionadas à obediência que foram feitas em Neemias 10.10 a 39 e o povo aqui, dessa lista, logo a observou, principalmente fazendo ir para a cidade, o dízimo do povo (vs 1 e 2).

Era a luta de toda a liderança o repovoamento da “santa cidade” de Jerusalém (vs 1, 18; Is 48.2; 52.1). Essa santidade, sem a qual ninguém pode ver ao Senhor (Hb 12.14) havia se espalhado:

Nos utensílios santos (Ed 1.7; 8.28);
Nos sacerdotes santos (Ed 8.28);
No povo santo (Ed 9.2).
No lugar/santuário santo (Ed 9.8).
Nas portas santas (3.1).
Nos sábados santos (9.14).
Até que toda a cidade e tudo que nela havia tinha se tornado santo, a “Casa de Deus”, que o Senhor havia decidido reconstruir (Ed 1.2);
Estando assim a Casa de Deus completa, “santa”, a dedicação final poderia ser feita, conforme veremos a seguir em Neemias 12.27-43.

Eram novos tempos surgindo e novas esperanças. Se eles soubessem que dentro de pouco tempo haveria de estar ali naquelas cidades reerguidas por eles o Filho do Homem e Senhor das nações e do universo todo, haveriam de se alegrar ainda mais, mas não sabiam de nada.
E nós, no presente momento que aguardamos a vinda do Messias, como ele prometeu que voltaria, o que temos feito e preparado para a sua recepção? Ou isso é de somenos importância? Obviamente, somente pensariam nisso os que realmente o aguardam, os demais achariam tudo isso “normal!”.

II. Os Objetivos de Neemias

Jerusalém foi preparada para a dedicação pelo seu repovoamento onde no capítulo 11 vimos as pessoas comuns que repovoaram Jerusalém e os seus arredores e, agora, no capítulo 12, veremos até o vs 26, os sacerdotes e levitas que repovoaram Jerusalém. Agora, encerrando os preparativos para a dedicação, é feita a relação dos sacerdotes e dos levitas. São eles os que retornaram no tempo de Zorobabel. Essa lista vincula o final de Neemias com o início de Esdras, unindo, destarte, os trabalhos de Zorobabel, Esdras e Neemias. É preciso cuidado para não confundir o Esdras deste primeiro versículo com Esdras, o sacerdote, pois este somente veio depois, uns 80 anos após o regresso de Zorobabel. 

Dos versos 12 ao 21, vemos as listas de sacerdotes e levitas do tempo de Joiaquim, filho de Jesua, o sumo sacerdote do primeiro grupo a regressar do exílio. Há um paralelo entre essa lista de 12 a 21 e de 1 a 7, todas deste capítulo. A de 12 a 21 é uma repetição da de 1 a 7, com algumas variações: não inclui Hatus, citado após Amarias e Maluque – vs 2; traz variações de nomes: Reum, vs 3 é igual a Harim, vs 15; Miamim, vs 5 é igual a Miniamim, vs 17. O fato é que o estudo e o aprofundamento nessas listas e nas genealogias é um trabalho complexo, exaustivo e, confesso, frustrante, pois dificilmente se conseguirá a perfeição exata desses registros.

A redação desse trecho (Ne 12) está na primeira pessoa do singular o que seria um indicativo que isso fizesse parte das memórias de Neemias. Essa cerimonia que não poderia ser feita sem os levitas – vs 27 - primeiramente era feita para o muro e por extensão para toda a Casa de Deus – templo, comunidade, cidade – que agora já estava toda concluída. Uma representação de autoridades, sacerdotes e levitas sobe ao remate da muralha num ponto a oeste da cidade. Dai se movimentam processionalmente, um grupo para o sul e outro para o norte, dobram os dois para o oriente e tornam a girar para encontrar-se num ponto a leste, de onde descem para entrar no templo. O resto do povo acompanharia a procissão pela parte inferior da muralha ou esperaria na entrada do templo.

Quanto às disposições para o sacerdócio envolvendo a manutenção deles e dos levitas, o envolvimento era de todo povo de Deus. O cumprimento das promessas feitas em Neemias  10.30-39 se iniciou em Neemias 11.1 e continuou em Neemias 12.44-47. Esses versículos mostram que o povo não desamparou a Casa de Deus. Eles estavam todos empenhados, em unidade de propósitos e finalidades. Não eram apenas os grande líderes que eram essenciais para a realização do plano redentor de Deus, mas todos.

III. Neemias Remove os Problemas em Jerusalém

Estando tudo pronto física e estruturalmente com a Casa de Deus reformada e bem assim a cidade com seus muros e demais construções. Estando aí também o povo de Deus que Neemias se empenhou em trazer para a cidade. Primeiramente, depois de tudo isso, foi feita a renovação da aliança com Deus e em seguida houve a dedicação do muro que culminou com grandes sacrifícios e extrema alegria (palavra repetida nesse versículo apenas em 5 oportunidades! - Ne 12.43). Agora sim, somente faltava uma coisa para ficar tudo completo e Neemias concluir seus objetivos. O último ato de Neemias foi reformar o povo de Deus.

A santificação do povo de Deus aconteceu principalmente pela exclusão dos estrangeiros vs 1 ao 3 -, do serviço no templo – vs 4 ao 14 -, da observância do sábado – vs 15 ao 22 -, e do divórcio das mulheres estrangeiras – vs 23 ao 31. Veio à memória do povo por casa da leitura da Lei quando Esdras leu a Lei para o povo de Deus a possibilidade de corrupção do programa de restauração por causa dos estrangeiros. A promessa de obediência geral à lei de Deus (Ne 10.28,29) – acarretou a separação dos povos vizinhos para evitar a corrupção religiosa e a idolatria (Ne 10.28). O povo que tinha sido levado ao cativeiro e mesmo eles depois de retornarem haviam renegado esse aspecto da promessa. O que exigiu uma atitude bem enérgica da liderança e de todo povo.

Dos versos 4 ao 14, veremos que tanto as promessas de não desamparar a casa de Deus (Ne 10.39) como também as promessas com respeito aos depósitos e aos dízimos (Ne 10.37-39); (Ne 13.12) - haviam sido quebradas – vs 11 e a situação exigia uma reforma. Neemias precisou retornar à Babilônia no 32º ano de Artaxerxes, rei da Babilônia e, nesses tempos, Eliasibe, sacerdote encarregado da câmara da casa de Deus tinha se aparentado com Tobias e feito para ele uma câmara grande nos pátios da Casa de Deus. Era isso uma clara evidência da negligência da Casa de Deus que contrariava nitidamente a promessa feita em Neemias 10.39. Neemias ficou indignado com isso e fez que Tobias fosse expulso do templo e ai ordenou que se purificassem as câmaras e para ali tornou a trazer todos os utensílios com as ofertas de manjares e o incenso (Ne 13.9).

Neemias ainda soube que os quinhões dos levitas não estavam sendo entregues – veja as promessas feitas em Neemias 10.37. Os levitas não possuíam terras (Nm 18.20-24; Dt 14.29; 18.1), apesar de alguns, parece-nos, talvez terem uma fonte de renda particular (Dt 18.8). A dependência dos levitas do sustento que o povo fornecia pode explicar a relutância de muitos levitas de deixar a Babilônia (Ed 8.15-20; Ml 2.17; 3.13-15) uma vez que o repovoamento não era total, mas, inicialmente, apenas uma décima parte deles. Neemias acaba contendendo com os magistrados e os censura (Ne 11). 

A promessa de não desampararem a Casa de Deus havia sido quebrada (Ne 10.39). Não havia explicações razoáveis para o desamparo da Casa de Deus, nem da negligência para com os levitas. Assim, Neemias restaura a manutenção dos levitas evitando o êxodo deles para o campo. No verso 14, novamente Neemias, pela quarta vez usa a expressão “lembra-te” numa oração. Também é essa a segunda vez de quatro orações desse tipo feitas por Neemias. A partir do verso 15 até o 22, Neemias está procurando reformar o povo quanto ao sábado, pois a promessa de guardá-lo, feita em Neemias10:31, também, igualmente, havia sido quebrada. Era preciso reparar isso urgentemente.

Conclusão

Assim, Neemias limpou e reformou todo o povo tirando as coisas prejudiciais a eles que os comprometiam diante de Deus aos quais tinham se aliançado novamente. Encerramos a história desses três fantásticos líderes de Israel que enfrentaram momentos muito difíceis pelo que passava a nação de Judá. O recomeço de tudo não foi fácil. Foram tempos trabalhosos, de perseguições e de muita luta, garra e vontade de vencer,  mas triunfaram em nome do Senhor e para honra e glória de seu nome.

Quando todos estão unidos em um só propósito, o resultado da ação é orquestral e seu final esplêndido. Reparem numa orquestra, onde cada um é uma pessoa diferente com seus problemas e habilidades e ninguém sabe do dia daquele instrumentista ou cantor. Eles todos tocam ou cantam sob a regência de um maestro empolgado e vibrante e o resultado é a música que agrada os nossos ouvidos. Se alguém ali sai do tom ou não segue o maestro, logo tudo é prejudicado. Assim também aconteceu com o povo de Israel que estava ali sob as lideranças de Zorobabel, Esdras e de Neemias os quais souberam conduzi-los e levá-los ao cumprimento de seus objetivos. 

A restauração estava sendo completa: física, estrutural, social, emocional e espiritual. Naquele povo de Deus estava havendo unidade de propósitos.

Sugestão de Leitura da Semana: LINHARES, Gustavo. Tempos Trabalhosos. São Paulo: Evangelho Avivado, 2021.


Comentário Bíblico Mensal: Novembro/2021 - Capítulo 4 - O Retorno dos Valores Morais e Espirituais em Jerusalém

 




Comentarista: Henrique Lins



Texto Bíblico Base Semanal: Neemias 8.1-18


1. E chegado o sétimo mês, e estando os filhos de Israel nas suas cidades, todo o povo se ajuntou como um só homem, na praça, diante da porta das águas; e disseram a Esdras, o escriba, que trouxesse o livro da lei de Moisés, que o SENHOR tinha ordenado a Israel.

2. E Esdras, o sacerdote, trouxe a lei perante a congregação, tanto de homens como de mulheres, e todos os que podiam ouvir com entendimento, no primeiro dia do sétimo mês.

3. E leu no livro diante da praça, que está diante da porta das águas, desde a alva até ao meio-dia, perante homens e mulheres, e os que podiam entender; e os ouvidos de todo o povo estavam atentos ao livro da lei.

4. E Esdras, o escriba, estava sobre um púlpito de madeira, que fizeram para aquele fim; e estava em pé junto a ele, à sua mão direita, Matitias, Sema, Anaías, Urias, Hilquias e Maaséias; e à sua mão esquerda, Pedaías, Misael, Melquias, Hasum, Hasbadana, Zacarias e Mesulão.

5. E Esdras abriu o livro perante à vista de todo o povo; porque estava acima de todo o povo; e, abrindo-o ele, todo o povo se pôs em pé.

6. E Esdras louvou ao Senhor, o grande Deus; e todo o povo respondeu: Amém, Amém! levantando as suas mãos; e inclinaram suas cabeças, e adoraram ao Senhor, com os rostos em terra.

7. E Jesuá, Bani, Serebias, Jamim, Acube, Sabetai, Hodias, Maaséias, Quelita, Azarias, Jozabade, Hanã, Pelaías, e os levitas ensinavam o povo na lei; e o povo estava no seu lugar.

8. E leram no livro, na lei de Deus; e declarando, e explicando o sentido, faziam que, lendo, se entendesse.

9. E Neemias, que era o governador, e o sacerdote Esdras, o escriba, e os levitas que ensinavam ao povo, disseram a todo o povo: Este dia é consagrado ao Senhor vosso Deus, então não vos lamenteis, nem choreis. Porque todo o povo chorava, ouvindo as palavras da lei.

10. Disse-lhes mais: Ide, comei as gorduras, e bebei as doçuras, e enviai porções aos que não têm nada preparado para si; porque este dia é consagrado ao nosso Senhor; portanto não vos entristeçais; porque a alegria do Senhor é a vossa força.

11. E os levitas fizeram calar a todo o povo, dizendo: Calai-vos; porque este dia é santo; por isso não vos entristeçais.

12. Então todo o povo se foi a comer, a beber, a enviar porções e a fazer grande regozijo; porque entenderam as palavras que lhes fizeram saber.

13. E no dia seguinte ajuntaram-se os chefes dos pais de todo o povo, os sacerdotes e os levitas, a Esdras, o escriba; e isto para atentarem nas palavras da lei.

14. E acharam escrito na lei que o Senhor ordenara, pelo ministério de Moisés, que os filhos de Israel habitassem em cabanas, na solenidade da festa, no sétimo mês.

15. Assim publicaram, e fizeram passar pregão por todas as suas cidades, e em Jerusalém, dizendo: Saí ao monte, e trazei ramos de oliveiras, e ramos de zambujeiros, e ramos de murtas, e ramos de palmeiras, e ramos de árvores espessas, para fazer cabanas, como está escrito.

16. Saiu, pois, o povo, e os trouxeram, e fizeram para si cabanas, cada um no seu terraço, nos seus pátios, e nos átrios da casa de Deus, na praça da porta das águas, e na praça da porta de Efraim.

17. E toda a congregação dos que voltaram do cativeiro fizeram cabanas, e habitaram nas cabanas, porque nunca fizeram assim os filhos de Israel, desde os dias de Jesua, filho de Num, até àquele dia; e houve mui grande alegria.

18. E, de dia em dia, Esdras leu no livro da lei de Deus, desde o primeiro dia até ao derradeiro; e celebraram a solenidade da festa sete dias, e no oitavo dia, houve uma assembléia solene, segundo o rito.


Momento Interação

O povo de Deus não é formado apenas das construções físicas, com seus templos, suas cidades, seus comércios, seus muros, sua segurança. O povo também precisava ser restaurado, renovado, reformado, principalmente em sua aliança com Deus, de modo a constituir uma comunidade santa. Esdras depois de receber a comitiva deles que pediram que trouxesse a eles o livro da Lei de Moisés, exatamente no primeiro dia do sétimo mês, estando ele em um púlpito de madeira que fizeram para aquele fim, leu o Livro da Lei, desde a alva até ao meio-dia. Foi de fato um momento muito solene e de comoção de todos que ali estavam atentos para ouvirem a palavra de Deus. Esdras abriu o livro à vista de todos – vs 5 - e todos se colocaram de pé atentos. Esdras leu o livro e bendisse ao Senhor – vs 6 – e todo o povo respondeu Amém! Amém! Levantando as mãos (Sl 63.4) naquele momento, juntos, se inclinaram e adoraram o Senhor com o rosto em terra! Mas aquele momento não ficou somente na leitura simples da lei, pois que os levitas, Esdras e até Neemias começaram a ensinar o povo e a tirar todas as dúvidas que por ventura pudessem ter. a doutrina da clareza das Escrituras não exclui a necessidade de uma exposição fiel por pessoas treinadas na Palavra (Ed 7.6-10). Aproveitando aquele momento especial da nação em volta de Deus, da Lei de Deus, diante do muro reformado, na Porta das Águas, diante da cidade reerguida, de seu templo restaurado e da cidade que estava sendo repovoada, Neemias, Esdras e os levitas pregaram ao povo dizendo que aquele era um dia especial consagrado ao Senhor.

Introdução

A despeito de todas as provocações e ameaças, Neemias permaneceu firme em seu propósito e a reconstrução é concluída. A conclusão do muro não poderia mais ser frustrada pelos inimigos, mas havia a possibilidade de surgirem outros tipos de oposição; assim foram tomadas medidas apropriadas para proteger a cidade. O povo de Deus não é formado apenas das construções físicas, com seus templos, suas cidades, seus comércios, seus muros, sua segurança. O povo também precisava ser restaurado, renovado, reformado, principalmente em sua aliança com Deus, de modo a constituir uma comunidade santa. Esse aspecto do programa de restauração que vai até o final do livro de Neemias.

I. O Retorno aos Valores Morais do Senhor 

Depois de assentadas as portas – vs 1 – que é uma indicação clara de que o muro estava completo, Neemias, preocupado, e com razão, com a segurança, nomeia seus líderes escolhidos, tementes a Deus e lhes dá ordens para vigiar, guardar e cuidar dali daquele lugar que estava ainda com poucos moradores. Neemias escolheu guardas encarregados de proteger as portas. Ele também lhes deu instruções para que não se abrissem as portas de Jerusalém até que o sol aqueça – vs 3. Normalmente essas portas eram abertas ao amanhecer; esse atraso visava aumentar a segurança da cidade.

O grande objetivo de Neemias era agora, entre outras coisas, executar o seu programa de restauração de levar mais pessoas, tantas quanto possíveis, a Jerusalém e, depois, santificar a nação. Esta última seção tratará da reconstrução dessa comunidade como um aspecto da reconstrução da “Casa de Deus” – veja Esdras capítulo 7 ao 10. A Casa de Deus somente estaria completa com o povo de Deus nela, organizado, vivendo em segurança e produzindo. O repovoamento de Jerusalém foi uma característica central desse programa. Neemias liderou o povo numa renovação da aliança, na devoção à cidade e em reformas morais e sociais, como teremos oportunidade de estudar.

Apesar de muitas pessoas terem regressado à terra nessa ocasião, Jerusalém continuava relativamente despovoada, talvez por ser o centro de tensões internacionais ou tudo ali estar numa fase embrionária. A expectativa profética era de que Jerusalém transbordaria de gente (Is 9.19,20; 54.2; Ez 36.10-33; Zc 8.4-8). Assim, Neemias insistiu para que mais exilados viessem morar na cidade. Parece que a capital não estava atraindo o povo e aí vemos as questões de segurança, falta de boas condições econômicas – exceto para os empregados do templo. Além do templo, Jerusalém não abrigava uma administração central interessante e muito menos contava com um comércio atraente. Isso acabava fazendo o povo preferir o campo à cidade. Desde o primeiro decreto de Ciro em 538 a.C. até a conclusão do muro, em 444 a.C. já se tinham passado quase cem anos. O programa de restauração de Neemias havia sido abençoado por Deus com o propósito de repovoar Jerusalém, como ficará claro quando esse assunto voltar a ser tratado em Neemias 11.1,2.

II. O Retorno aos Valores Espirituais do Senhor

Coincidentemente – se bem que não cremos em coincidências quando Deus está no caso -, ou melhor, providencialmente, era este o sétimo mês onde os filhos de Israel e todo povo se ajuntou como um só homem na praça, diante da Porta das Águas, para dizerem a Esdras, o escriba e sacerdote, que trouxesse o Livro da Lei de Moisés que o Senhor tinha prescrito a Israel. Essa relação de participantes – homens e mulheres capazes de entenderem o que ouviam atentamente - que volta a aparecer no v. 3, está de acordo com o que a lei prescrevia para a leitura da lei na Festa dos Tabernáculos (Dt 31.10-13).

Era o primeiro dia do sétimo mês, ou seja, a época exata em que era comemorada a Festa das Trombetas que convergia, depois do Dia da Expiação, para a Festa dos Tabernáculos. A Festa das Trombetas (depois chamada de Rosh Hashaná ou Ano Novo - Lv 23.23-25; Nm 29.1-6) acontecia em 1 de tisri (setembro-outubro) com o propósito era comemorar o início do ano civil. Era um dia de descanso e de fazer ofertas onde as trombetas e os chifres eram tocados o dia inteiro. Já a Festa dos Tabernáculos, ou das Cabanas (Lv 23.33-36a; 39-43; Jo 7.2,37), acontecia no período de 15 a 21 de tisri (setembro-outubro também) com o propósito de lembrar a peregrinação do povo ao deserto. Era uma semana de festa por causa da colheita onde o povo que morava em cabanas, oferecia sacrifícios de agradecimentos.

No meio dessas duas festas, no dia 10 de tisri (setembro-outubro igualmente), acontecia o Dia da Expiação (Lv 16; 23.26-32; Hb 9.27) com o propósito de oferecer sacrifícios pelos pecados dos sacerdotes e do povo e purificar o santuário. Era um dia de descanso e jejum onde eram também oferecidos sacrifícios. Esdras depois de receber a comitiva deles que pediram que trouxesse a eles o livro da Lei de Moisés, exatamente no primeiro dia do sétimo mês, estando ele em um púlpito de madeira que fizeram para aquele fim, leu o Livro da Lei, desde a alva até ao meio-dia. Foi de fato um momento muito solene e de comoção de todos que ali estavam atentos para ouvirem a palavra de Deus. Esdras abriu o livro à vista de todos – vs 5 - e todos se colocaram de pé atentos. Esdras leu o livro e bendisse ao Senhor – vs 6 – e todo o povo respondeu Amém! Amém!

III. O Retorno aos Valores da Palavra de Deus

Mas aquele momento não ficou somente na leitura simples da lei, pois que os levitas, Esdras e até Neemias começaram a ensinar o povo e a tirar todas as dúvidas que por ventura pudessem ter. a doutrina da clareza das Escrituras não exclui a necessidade de uma exposição fiel por pessoas treinadas na Palavra (Ed 7.6-10). Aproveitando aquele momento especial da nação em volta de Deus, da Lei de Deus, diante do muro reformado, na Porta das Águas, diante da cidade reerguida, de seu templo restaurado e da cidade que estava sendo repovoada, Neemias, Esdras e os levitas pregaram ao povo dizendo que aquele era um dia especial consagrado ao Senhor.

Não era para chorarem, nem prantearem, mas se alegrarem na presença do Senhor. Também deveriam comer carnes gordas, beberem bebidas doces e enviar porções aos que nada tinham preparado para si (Sl 22.26). Era aquele um dia consagrado ao Senhor! Era um dia em que a tristeza estava proibida de entrar nessa grande festa porque “A ALEGRIA DO SENHOR É A VOSSA FORÇA”. Nos versos 11 e 12 os levitas novamente disseram a eles que se calassem e não se entristecessem porque aquele era um dia santo, especial e todo o povo, porque entenderam as palavras que lhes fizeram saber, se foi:

A comer – comer carne gorda;
A beber – beber bebida doce;
A enviar porções – aos que não tinham preparado nada para si;
A ter grande regozijo.

Depois do ano novo celebrado com grande alegria, no dia seguinte, ainda continuavam atentos às palavras da Lei e acharam uma parte escrita na Lei falando dos filhos de Israel que deveriam habitar em cabanas, durante a festa do sétimo mês. Assim, novamente em união e empolgados com as festas e com o Senhor e a sua Lei, saíram aos montes trazendo ramos de oliveiras, de zambujeiros, de murtas, de palmeiras e de árvores frondosas para fazerem cabanas, cada um no seu terraço, nos pátios, nos átrios da Casa de Deus, na praça da Porta das Águas e na praça da Porta de Efraim. Toda a congregação dos que voltaram do cativeiro fizeram cabanas, e habitaram nas cabanas. Era essa uma maneira de lembrar da vida no deserto depois da libertação da escravidão no Egito, mas antes da entrada na Terra Prometida (Lv 23.42,43).

Conclusão

Desde os tempos de Josué, filho de Num, até aquele momento – mais ou menos uns 1000 anos tinham se passado! Jamais Israel tinha feito isso novamente (Ne 8.17) pelo que muito se alegraram. Foi assim que dia após dia (Ne 8.18) Esdras leu no Livro da Lei de Deus e celebraram a festa por sete dias e no oitavo dia houve uma assembleia solene, segundo o prescrito. Fazendo um paralelo por causa deste oitavo dia com a Festa dos Pães Asmos (março-abril), foi igualmente que o Senhor Jesus no grande dia da festa, ou seja, também no oitavo dia da festa – neste dia era feita uma prece especial com pedidos para que houvesse chuvas - ele se levantou e proclamou em alto e bom som que se alguém tivesse sede, era para vir até ele e beber: “No último dia, o grande dia da festa, levantou-se Jesus e exclamou: Se alguém tem sede, venha a mim e beba” (Jo 7.37).

Sugestão de Leitura da Semana: MENEZES, Walter. Liderança e Legado. São Paulo: Evangelho Avivado, 2018.


domingo, 21 de novembro de 2021

Série Movimento Pentecostal - O Pentecostalismo no Brasil e o seu Futuro (Artigo 3 de 3)

 




Por Leonardo Pereira


O surgimento do chamado pentecostalismo moderno – porque houve algumas manifestações do tipo pentecostal em outros séculos da história da Igreja - surgiu nos primeiros anos do século XX, exatamente a partir de 1901, em diferentes pontos dos EUA. Houve uma primeira manifestação no estado do Kansas, na cidade de Topeka, mas o que deu realmente notoriedade e fama para o movimento pentecostal inicial e o que começou a torná-lo um movimento internacional foi o famoso Avivamento da Rua Azusa , em Los Angeles, em 1906. Esse episódio se deu sob a liderança de um pastor negro chamado William Seymour . Como tinham pessoas de muitas etnias e nacionalidades participando deste avivamento da Rua Azusa, isso contribuiu para a rápida difusão do movimento, não só nos Estados Unidos, mas em outros países. Tanto é que, quatro anos depois, o pentecostalismo chegou no Brasil. No entanto, dentro de pouco tempo, houve outra cidade dos Estados Unidos que se tornou um grande centro do movimento pentecostal: Chicago.

O Começo do Pentecostalismo no Brasil

Aqui, no Brasil, o movimento começou em 1910, com a Igreja Congregação Cristã no Brasil, através de um pregador chamado Luigi Francescon , o pioneiro pentecostal no Brasil. No ano seguinte, em 1911, chegou o segundo grupo, Assembleia de Deus. Francescon baseou suas atividades em São Paulo, e a Assembleia de Deus, em Belém do Pará. Daniel Berg  e Gunnar Vingren , dois missionários suecos que tinham sido batistas e depois se tornaram pentecostais, foram os fundadores da Assembleia de Deus no Brasil. Isso significa que essas duas igrejas agora estão completando seu centenário. Segundo Paul Freston , um sociólogo muito conhecido nos meios evangélicos e um grande estudioso do protestantismo brasileiro, há três ondas, três períodos de implantação do pentecostalismo no Brasil. A primeira onda é representada por essas duas igrejas antigas. A segunda onda é dos anos 40 e 50, quando o pentecostalismo se tornou mais urbano, e surgiram igrejas como a do Evangelho Quadrangular , a Igreja Pentecostal o Brasil para Cristo  e, um pouco depois, a Igreja Deus é amor . E a partir dos anos 70, a terceira onda, que é o neopentecostalismo, começou com a Igreja Universal do Reino de Deus, de Edir Macedo , que foi fundada em 1977, no Rio de Janeiro. Outras dessa onda são a Igreja Internacional da Graça de Deus e a Igreja Mundial do Poder de Deus ; inclusive os nomes são muito parecidos. 

A Expansão Pentecostal no Brasil

Ao longo dos últimos cem anos, a expansão pentecostal no país contribuiu para transformar o campo religioso brasileiro, para consolidar o pluralismo religioso e para constituir um mercado religioso competitivo no país. O pentecostalismo é um movimento religioso muito diversificado internamente, marcado por grande pluralidade teológica, litúrgica, estética, organizacional (modelos de governo eclesiástico distintos) e comportamental. Pode-se afirmar que há, na verdade, múltiplos pentecostalismos. Portanto, não há uma igreja representativa de seu conjunto. Por outro lado, em termos de sua amplitude demográfica, a Assembleia de Deus ocupa uma posição privilegiada, uma vez que concentrava 47,5% dos pentecostais brasileiros em 2000, segundo os dados do Censo Demográfico do IBGE. 

Mas, dividida em duas grandes convenções nacionais, a Assembleia de Deus apresenta grande variação interna nos planos doutrinário, eclesiástico, dos usos e costumes, da relação com os meios de comunicação de massa e com a política partidária. Isso se deve, em parte, à sua ampla distribuição geográfica pelo país, à sua composição em diferentes ministérios dotados de relativa autonomia e às idiossincrasias de suas lideranças pastorais locais. Em suma, a própria Assembleia de Deus contém enorme diversidade interna, variando dos que se mantêm apegados aos velhos usos e costumes de santidade pentecostal e se opõem à instrumentalização política da igreja e dos fiéis aos novos defensores da Teologia da Prosperidade, e daí por diante.

Qual é a igreja que melhor representa hoje a proposta pentecostal?

Vários fenômenos têm contribuído, em maior ou menor medida, para o crescimento pentecostal desde meados do século passado. No plano jurídico, a separação entre Estado e igreja e a garantia de liberdade religiosa permitiram a inserção e criação de novos grupos religiosos no país, bem como sua expansão e legitimação. O que, por sua vez, possibilitou a formação e consolidação do pluralismo e de um mercado religioso. Nos planos social e econômico, a enorme desigualdade social, a explosão da violência e da criminalidade urbana, as altas taxas de pobreza, a elevada proporção de lares monoparentais, chefiados por mulheres pobres, a precariedade da situação de grande parte dos trabalhadores no mercado de trabalho, sobretudo no informal, favorecem uma religião que tende a direcionar sua missão de salvação aos sofredores e desprivilegiados. 

Não é à toa que o lema proselitista da Igreja Universal é "Pare de sofrer: Nós temos a solução". Nos planos cultural e religioso, a disseminada religiosidade popular, marcada por crenças e práticas de cunho mágico e taumatúrgico de matriz cristã, o elevado contingente de católicos não praticantes e a relativa fragilidade institucional da Igreja Católica, caracterizada pelo baixo número de vocações sacerdotais e de padres, facilitam o trânsito religioso e o trabalho evangelístico dos pentecostais. E, no campo político, os pentecostais têm sido demandados a participar da política partidária e influir na esfera pública por candidatos, partidos e governantes.

O Rumo da Igreja Pentecostal no Brasil

Sem incorrer em futurologia, pode-se afirmar que elas tendem a se acomodar crescentemente ao "mundo" que, retoricamente, tanto combatem, mas mantendo sempre certa defasagem, por conta de suas inclinações sectárias ancoradas no velho literalismo bíblico e numa moralidade sexual cristã de caráter tradicionalista. Tal adaptação, aliás, vem ocorrendo de forma acelerada desde os anos 50. Evidências disso existem aos montes, tais como a adoção proselitista dos meios de comunicação de massa, que antes eram considerados demoníacos, o paulatino abandono dos usos e costumes de santidade (antes biblicamente fundamentados e, por isso, sagrados), a incorporação dos ritmos e estilos musicais da moda, o ingresso na política partidária (proibido atualmente por poucas igrejas), a valorização positiva dos bens e riquezas materiais, como demonstra soberbamente a Teologia da Prosperidade, que vem se disseminando por boa parte do campo evangélico. 

O aumento da escolaridade dos fiéis e das novas lideranças pastorais, por exemplo, tenderá a promover modificações nas relações entre o rebanho e seus pastores, de modo a reduzir as distâncias hierárquicas, e a incitar cada vez mais a busca por melhor formação teológica. Um dos caminhos prováveis que várias igrejas pentecostais deverão percorrer é o de diminuição do fervor missionário em favor da qualificação pastoral e de sua prédica, mais ao gosto das classes médias, tendendo, com isso, a assemelhar-se, um pouco, com denominações protestantes tradicionais. Tal opção, porém, tende a gerar cismas diversas, justificadas com o propósito de resgatar o fervor primitivo, romper com a erudição teológica, ou com um Evangelho de "muito saber", mas "frio" e de "pouco poder". Cismas que são importantes para tentar manter seu extenso recrutamento entre os mais pobres. Por várias razões, é provável também que seu crescimento diminua nas próximas décadas. Por enquanto, o terreno brasileiro para sua expansão é dos mais férteis.

O Legado do Pentecostalismo no Brasil

O pentecostalismo produziu transformações gigantescas no protestantismo brasileiro. Até o surgimento do pentecostalismo, o protestantismo era composto pelas chamadas igrejas tradicionais ou históricas da Reforma. A partir do pentecostalismo, houve uma mudança radical, primeiro um crescimento exponencial do protestantismo brasileiro por causa do crescimento pentecostal, e depois os pentecostalistas introduziram, no protestantismo brasileiro, inclusive nas igrejas históricas em maior ou menor grau, uma série de crenças e práticas que hoje influenciam bastante principalmente o chamado evangelicalismo brasileiro. As pregações ao ar livre, os cultos evangelistas com apelos fortemente emocionais, um novo estilo de música, as manifestações físicas, com pessoas levantando as mãos e batendo palmas, dizendo glória, aleluia etc., tudo isso é herança do movimento pentecostal. 

No que diz respeito ao neopentecostalismo, essa explosão imensa representada por igrejas gigantescas, como a Igreja Universal do Reino de Deus e sua nova teologia, diferente do pentecostalismo tradicional, que é a Teologia da Prosperidade, trouxe todo um conjunto novo de valores e práticas que os pentecostais e os protestantes desconheciam até então. No protestantismo tradicional sempre houve uma extrema valorização da vida espiritual, das realidades transcendentais em contraste com as realidades do mundo material, que era considerado de menor importância para o crente. O neopentecostalismo defende que não tem problema em aceitar esse mundo, de querer ser rico e importante, porque isso é bênção de Deus.

O legado do pentecostalismo é misto. Ele trouxe contribuições valiosas, mas também trouxe elementos extremamente problemáticos e preocupantes para o protestantismo brasileiro, por exemplo, o personalismo, o culto da personalidade através desses líderes, que são quase que idolatrados por muitas igrejas e que fazem questão de criar entre seus fiéis uma profunda veneração por eles. São líderes como o Edir Macedo e o Estevam Hernandes , da Igreja Renascer em Cristo. A riqueza e o sucesso são apontados como provas da fidelidade a Deus e das benções de Deus sobre a vida das pessoas, criando uma espiritualidade individualista, egocêntrica, onde a pessoa só busca seus projetos e objetivos pessoais, deixando de lado os interesses da comunidade. No entanto, há coisas positivas também. Muita gente foi beneficiada pelo trabalho das igrejas pentecostais. Muitas famílias e comunidades foram transformadas.



Referências:

ALENCAR, Gedeon Freire de. Matriz Pentecostal Brasileira - Assembléias de Deus - 1911 a 2011. São Paulo: Editora Recriar, 2019.

ALVES, Eduardo Leandro. A sociedade Brasileira e o Pentecostalismo Clássico. Rio de Janeiro: CPAD, 2021.

ARAÚJO, Isael de. História do Movimento Pentecostal no Brasil. Rio de Janeiro: CPAD,

DAMASCENO, Guilherme. Pentecostalismo Brasileiro. São Paulo: Editora Reflexão, 2018.

MARIANO, Ricardo. Neopentecostais: Sociologia do novo pentecostalismo no Brasil. São Paulo: Edições Loyola, 2019.

MATOS, Alderi. A Caminhada Cristã na História. Viçosa/MG: Editora Ultimato, 2005.

MATOS, Alderi. Os Pioneiros Presbiterianos do Brasil. São Paulo: Cultura Cristã, 2019.

SOARES, Esequias. O Pentecostalismo Brasileiro. Rio de Janeiro: CPAD, 2021.

PASSOS, João Décio. Pentecostais: origens e começo. São Paulo: Editora Paulinas, 2005.




sábado, 20 de novembro de 2021

Comentário Bíblico Mensal: Novembro/2021 - Capítulo 3 - A Organização de Neemias em Jerusalém

 




Comentarista: Henrique Lins



Texto Bíblico Base Semanal: Neemias 4.1-23


1. E sucedeu que, ouvindo Sambalate que edificávamos o muro, ardeu em ira, e se indignou muito; e escarneceu dos judeus.

2. E falou na presença de seus irmãos, e do exército de Samaria, e disse: Que fazem estes fracos judeus? Permitir-se-lhes-á isto? Sacrificarão? Acabá-lo-ão num só dia? Vivificarão dos montões do pó as pedras que foram queimadas?

3. E estava com ele Tobias, o amonita, e disse: Ainda que edifiquem, contudo, vindo uma raposa, derrubará facilmente o seu muro de pedra.

4. Ouve, ó nosso Deus, que somos tão desprezados, e torna o seu opróbrio sobre a sua cabeça, e dá-os por presa, na terra do cativeiro.

5. E não cubras a sua iniqüidade, e não se risque de diante de ti o seu pecado, pois que te irritaram na presença dos edificadores.

6. Porém edificamos o muro, e todo o muro se fechou até sua metade; porque o coração do povo se inclinava a trabalhar.

7. E sucedeu que, ouvindo Sambalate e Tobias, e os árabes, os amonitas, e os asdoditas, que tanto ia crescendo a reparação dos muros de Jerusalém, que já as roturas se começavam a tapar, iraram-se sobremodo,

8. E ligaram-se entre si todos, para virem guerrear contra Jerusalém, e para os desviarem do seu intento.

9. Porém nós oramos ao nosso Deus e pusemos uma guarda contra eles, de dia e de noite, por causa deles.

10. Então disse Judá: Já desfaleceram as forças dos carregadores, e o pó é muito, e nós não poderemos edificar o muro.

11. Disseram, porém, os nossos inimigos: Nada saberão disto, nem verão, até que entremos no meio deles, e os matemos; assim faremos cessar a obra.

12. E sucedeu que, vindo os judeus que habitavam entre eles, dez vezes nos disseram: De todos os lugares, tornarão contra nós.

13. Então pus guardas nos lugares baixos por detrás do muro e nos altos; e pus ao povo pelas suas famílias com as suas espadas, com as suas lanças, e com os seus arcos.

14. E olhei, e levantei-me, e disse aos nobres, aos magistrados, e ao restante do povo: Não os temais; lembrai-vos do grande e terrível Senhor, e pelejai pelos vossos irmãos, vossos filhos, vossas mulheres e vossas casas.

15. E sucedeu que, ouvindo os nossos inimigos que já o sabíamos, e que Deus tinha dissipado o conselho deles, todos voltamos ao muro, cada um à sua obra.

16. E sucedeu que, desde aquele dia, metade dos meus servos trabalhava na obra, e metade deles tinha as lanças, os escudos, os arcos e as couraças; e os líderes estavam por detrás de toda a casa de Judá.

17. Os que edificavam o muro, os que traziam as cargas e os que carregavam, cada um com uma das mãos fazia a obra e na outra tinha as armas.

18. E os edificadores cada um trazia a sua espada cingida aos lombos, e edificavam; e o que tocava a trombeta estava junto comigo.

19. E disse eu aos nobres, aos magistrados e ao restante do povo: Grande e extensa é a obra, e nós estamos apartados do muro, longe uns dos outros.

20. No lugar onde ouvirdes o som da buzina, ali vos ajuntareis conosco; o nosso Deus pelejará por nós.

21. Assim trabalhávamos na obra; e metade deles tinha as lanças desde a subida da alva até ao sair das estrelas.

22. Também naquele tempo disse ao povo: Cada um com o seu servo fique em Jerusalém, para que à noite nos sirvam de guarda, e de dia na obra.

23. E nem eu, nem meus irmãos, nem meus servos, nem os homens da guarda que me seguiam largávamos as nossas vestes; cada um tinha suas armas e água.


Momento Interação

As oposições à reconstrução estavam chegando com Sambalate e Tobias que zombavam e menosprezavam todo trabalho que se estavam fazendo. A intenção era humilhar o povo para fazê-los desanimar de todo trabalho e não lutarem pelo que estavam fazendo. Os três primeiros versos narram essa reação deles que estavam movidos de inveja e, com forte preconceito, os chamavam de fracotes, como se eles não estivessem também em cativeiro. A diferença era que os judeus acreditavam em seu líder e estavam disposto a trabalhar e enfrentar qualquer oposição. Eles além do líder que era muito bom, tinham o apoio de toda a comunidade e o apoio real. Eles jamais iriam recuar, mas teriam de enfrentar forte oposição. Neemias (Ne 4.4,5) vai então fazer uma de suas três orações (Ne 6.14; 13.29) imprecatórias neste livro pedindo que maldições justas caíssem sobre os seus inimigos. Elas somente eram feitas em situações extremadas de enfrentamento do inimigo (Sl 79.12; 94.1-3; 137.7-9). No entanto, orações similares devem ser entendidas no contexto de guerra santa do Antigo Testamento e devem ser contrabalançadas com bondade e misericórdia para com outros (Mt 5.43,45; Rm 12.14-21).

Introdução

Neemias aqui está reconstruindo os muros com a participação de todo o Israel e ainda enfrentando algumas oposições. A cidade é constituída de um muro ao redor no qual há diversas portas. Os reparos começaram na Porta das ovelhas, seguiram no sentido anti-horário até retornarem à Porta das Ovelhas, novamente. Jesus Cristo, o Messias esperado, aquele que entraria nessa cidade que estava sendo reconstruída por Neemias e todo povo de Deus, ele mesmo se chamou de a Porta das Ovelhas! O assunto das portas dos muros sendo restaurados aqui, em Neemias 3, e as portas da Nova Jerusalém e o fato de Jesus ser a Porta das Ovelhas merece, de nossa parte, uma dedicação maior ao assunto a fim de estudá-lo adequadamente partindo agora do capítulo 4 até o capítulo 6.

I. Os Inimigos da Obra de Jerusalém (Ne 4.1-23)

As oposições à reconstrução estavam chegando com Sambalate e Tobias que zombavam e menosprezavam todo trabalho que se estavam fazendo. A intenção era humilhar o povo para fazê-los desanimar de todo trabalho e não lutarem pelo que estavam fazendo. Os três primeiros versos narram essa reação deles que estavam movidos de inveja e, com forte preconceito, os chamavam de fracotes, como se eles não estivessem também em cativeiro.  A diferença era que os judeus acreditavam em seu líder e estavam disposto a trabalhar e enfrentar qualquer oposição. Eles além do líder que era muito bom, tinham o apoio de toda a comunidade e o apoio real. Eles jamais iriam recuar, mas teriam de enfrentar forte oposição.
Neemias (vs 4 e 5) vai então fazer uma de suas três orações (Ne 6.14; 13.29) imprecatórias neste livro pedindo que maldições justas caíssem sobre os seus inimigos.

Elas somente eram feitas em situações extremadas de enfrentamento do inimigo (Sl 79.12; 94.1-3; 137.7-9). No entanto, orações similares devem ser entendidas no contexto de guerra santa do Antigo Testamento e devem ser contrabalançadas com bondade e misericórdia para com outros (Mt 5.43,45; Rm 12.4-21). Jesus não nos ensinou a vingar, nem buscar a morte de nossos inimigos ou a maldição deles, mas tudo a Deus entregar que está vendo tudo e a ele pertence toda a vingança, como está escrito: “Ora, nós conhecemos aquele que disse: A mim pertence a vingança; eu retribuirei. E outra vez: O Senhor julgará o seu povo”. (Hebreus 10:30). Eles oraram, mas não esperaram acontecer algo, junto com a oração a ação correspondente de trabalho e muito trabalho. A obra prosseguia firme e já até a metade o muro tinha se fechado (vs 6).

Nos versos 7 e 8 outros grupos se juntam a Sambalate e a Tobias, e aos outros opositores das obras de Deus, quais sejam os arábios, amonitas. O novo grupo que a eles se ajuntou agora eram os homens de Asdode, os asdoditas. Neemias agora estava completamente cercado desses opositores, uma vez que Asdode ficava a oeste de Jerusalém. Eles ficaram deveras irados com as boas notícias que vinham das construções e que já se começavam a fechar até as brechas dos muros. Nesse momento sobressai um grande desânimo em Judá por causa dos escombros e desses opositores. No verso 11 vemos que agora eles ameaçavam era de morte os que nos muros trabalhavam. Iriam ali se infiltrarem apenas para matar os trabalhadores.
Era uma espécie de guerra psicológica procurando mesmo enfraquecer e desanimar todo o povo de Deus.

A atitude do homem de Deus, Neemias, foi então colocar guardas e vigias para estarem atentos às ameaças dos inimigos e assim transmitirem paz e segurança aos trabalhadores já desanimados mesmo de tanto trabalho necessário. Assim, em meio às ameaças crescentes, os trabalhadores empunhavam armas pela primeira vez depois do exilio. Neemias também não cessava de fortalecê-los com palavras e exemplos., chamando a atenção de todos que o Senhor estaria ali com eles, por isso não deveriam temer nada.

II. A Exortação de Neemias (Ne 5.1-19)

A especulação financeira, possivelmente acompanhada de juros excessivos, tornou a situação insuportável. Quando alguns dos devedores não conseguiam pagar suas dívidas, seus filhos eram tomados como escravos (v. 5). A estrutura econômica e social estava à beira de um colapso. A situação deles não era nada fácil e logo começaram a clamar e até as suas mulheres (vs 1) começaram a clamar contra os judeus, seus irmãos. Havia uma crise instalada denotando um grande problema dentro da comunidade, e não fora. Havia um grupo – vs 2 - , provavelmente constituído de pessoas que não tinham terras, que por causa do seu trabalho não remunerado para reconstruir o muro, não tinham dinheiro suficiente para comprar alimentos para suas famílias numerosas. Eles pediam apenas o trigo suficiente para não morrerem de fome nem eles nem seus familiares.

Havia ainda outro grupo (vs 3), constituído de donos de terras cujos campos haviam sido provavelmente negligenciados, por causa, entre outros motivos, do trabalho deles no muro. Em decorrência disso, se voltavam para outros para comprar cereais, mas não tinham dinheiro para pagar por eles. Em resultado, haviam hipotecado suas propriedades para comprar o trigo necessário. Sabemos que a crise era feia em Judá e que muitas vezes, a escassez de alimentos era um sinal do julgamento de Deus (Dt 11.16,17; 1 Cr 21.12; Ag 1.7-11). Talvez essa fome tenha sido um julgamento de Deus por causa das ações e do comportamento injusto dos líderes. O que Neemias enfrentava ali como líder não era nada fácil. Até os inimigos do lado de fora eram muito mais fáceis de serem enfrentados do que a crise interna econômica que se alargava ainda mais.

Havia ainda outros grupo constituído de proprietários de terras que, por falta de renda, não tinham como pagar os impostos devidos ao rei persa. Para solucionarem o problema tomaram dinheiro emprestado para pagar os tributos. O resultado de tudo isso para esses três grupos era a escravidão. De acordo com Levítico 25.39-43, um homem que ficava pobre podia vender a si mesmo, juntamente com a sua família, para um outro israelita a fim de recuperar a sua estabilidade financeira. Devia ser tratado como um trabalhador contratado, e não como escravo.  Neemias ficou a par de tudo o que acontecia e muito se aborreceu (vs 6) com os fatos, pelo que repreendeu severamente os nobres e tomou uma medida ousada. Ele os chamou de usurários e neles acabou se incluindo. Ao que parece, tudo indica que Neemias havia contribuído para o problema ao fazer empréstimos a juros, talvez por simples descuido (Ne 1.6,7). Finalmente no verso 10, Neemias, arrependido,  sugere e todos acatam, que fossem literalmente perdoados todos empréstimos.

III. A Conclusão da Obra em Jerusalém (Ne 6.1-19)

Neemias aqui está tratando do último estágio das oposições enfrentadas (cap. 2; 4; 5 e agora no 6) e o muro está perto de sua conclusão. Sambalate, novamente, e Tobias, Gesem, o árabe, e o resto dos nossos inimigos novamente é citado como tendo ouvido que a obra de reconstrução dos muros estava muito adiantada, inclusive com as suas brechas tampadas, faltando apenas agora a coloção das portas. O fato é que essa frase “tendo ouvido...” dá continuidade à série de frases semelhantes e procura trazer o leitor de volta ao assunto principal de Ne 1.1-7.3, do qual as oposições internas do capítulo 5.1-19, foi uma digressão.

O conflito se intensifica até chegar ao seu clímax quando o muro está praticamente pronto. A última tentativa de interromper o trabalho tem três objetivos:

(1)   fazer mal (vs. 2-4).
(2)   amedrontar (vs. 5-9).
(3)   desacreditar (vs. 10-13).

O mesmo está tentando Satanás fazer com a evangelização, com a entrega da mensagem de Deus, que não pode ser de jeito nenhum aprisionada. Ali, ele procurava atingir Neemias; hoje, tenta atingir cada crente na face da terra, pois sabe que a obra que Deus colocou nas suas mãos não pode ser impedida, mas ele sempre tentará. Quando Jesus Cristo subiu aos céus, levou cativo o cativeiro, e deu dons aos homens (Ef 4.8) e, tendo despojado os principados e potestades, os exibiu publicamente e deles triunfou na mesma cruz (Cl 2.15). Agora, todo o poder lhe foi entregue e ele sabe disso que pouco tempo lhe resta e ele irá perseguir os filhos da mulher procurando impedir a obra de Deus – agora, não a reconstrução dos muros da cidade – a proclamação da Palavra de Deus. Veja o que diz o texto de Mateus, o último capítulo, quando Jesus fala aos seus discípulos e a nós.

Sabendo disso, ele procura fazer mal, amedontrar e desacreditar os evangelistas. Ele pode até tentar fazer calar e aprisionar os corpos de Paulos e Silas, mas somente aprisionará os seus corpos, pois a Palavra de Deus não pode ser aprisionada jamais. Sambalate estava intencionalmente decidido a matar e a parar a obra que Neemias empreendia, por isso tanto insistia com ele para que atendesse aos seus chamados persistentes. Neemias sempre lhe dava a mesma resposta e dizia estar ocupado com a reconstrução e que não haveria motivos para ir até ele. Se o muro estava sendo reconstruído, Judá tinha um histórico de rebelião contra os seus governantes e, ainda, Neemias era um líder de grande competência que amava a sua terra natal, o temor e a acusação deles de revolta era bem plausível, por isso que insistiam nisso. No entanto, era a inveja o que mais os motivava a procurar desanimá-los e mesmo subjugá-los.

Por fim, pela quinta vez, Sambalate envia o seu moço com uma carta aberta, não selada – toda carta naquela época costumava ser selada. O propósito da carta era, a primeira vista, atemorizar o povo. Na verdade, porém, tinha como objetivo maior impedir que a reconstrução do muro fosse concluída. Neemias em mais uma das suas curtas orações pede a Deus que fortaleça a sua mão para justamente continuar a obra que tanto tentavam impedir. Quem dera fôssemos assim com a obra que temos de fazer de evangelização no mundo todo!

A despeito de todas as provocações e ameaças, Neemias permaneceu firme em seu propósito e a reconstrução é concluída. Apesar da forte oposição, o muro ao redor de Jerusalém foi completado com sucesso. Na verdade, esse versículo constitui a conclusão da seção anterior iniciada no v. 1, com o v. 16 introduzindo o episódio final de Neemias 1.1-7.3. As últimas seis tentativas de interromper o trabalho haviam fracassado. A conclusão da obra se deu em 25 de elul, após 52 dias (4 x 13 dias) de grande trabalho e concentração, aproximadamente em agosto-setembro de 445 a.C. A frase “ouvindo-o todos os nossos inimigos” gera uma expectativa nos leitores de mais conflito, mas, em vez disso, Neemias prossegue relatando a resolução do caso: os inimigos cessaram suas tentativas de interromper o trabalho.

Conclusão

Nada melhor do que uma grande obra sendo concluída na presença do Senhor. Até os seus inimigos reconheceram que realmente não foi uma tarefa simples terminar toda aquela obra de reforma dos muros em menos de dois meses. Foram oposições externas e internas que os obrigaram a trabalhar com uma mão e porem mãos às armas com a outra. Com um olho fechavam as brechas do muro e os reparavam e com o outro vigiavam o inimigo. Sem dúvida, a obra foi reconhecida como um milagre de Deus, que tinha infundido tal confiança e persistência nos trabalhos dos judeus. Deus está nesse negócio e o melhor a fazermos – posso dizer que pensavam assim os seus inimigos, é respeitarmos essa grande obra! Em breve, muito breve, o Messias estaria por ali, naquela cidade, naquele templo.

Sugestão de Leitura da Semana: SANTOS, Matheus. O Viver do Cristão. São Paulo: Evangelho Avivado, 2019.


sábado, 13 de novembro de 2021

Série Movimento Pentecostal - A Liderança de um Homem de Deus (Artigo 2 de 3)

 




Por Leonardo Pereira



As raízes do movimento pentecostal passam por William Joseph Seymour (1870–1922), um afro-americano, filho dos escravos libertos Simon Seymour e Phyllis Salabarr, que nasceu em Centerville, Louisiana, em 2 de maio de 1870. Considerado um dos fundadores do pentecostalismo moderno, William Seymour era um pregador vibrante a respeito dos dons espirituais, incluindo a cura divina, e acreditava que falar em línguas, a chamada glossolalia, era a principal evidência do batismo com o Espírito Santo. Apesar de suas convicções, Seymour não havia ainda tido nenhuma experiência dessa natureza.

A família de Seymour era pobre, o que fez com que ele recebesse pouca educação formal. Na parte religiosa, seus pais tinham afiliações com as igrejas Batista e Católica, o que o fez transitar entre as duas denominações em sua infância. Em 4 de setembro de 1870, aos quatro meses de vida, ele foi batizado em uma cerimônia católica na Igreja da Assunção em Franklin, Louisiana. Ainda criança, Seymour ficou cego de um olho após ter contraído varíola. No entanto, essa deficiência não o impediu de, anos mais tarde, dedicar-se a Deus como pregador. Sobre a juventude de Seymour, não existem muitas informações, mas foi nessa fase da vida que ele alegou ter visões de Deus. Durante esse período também, Seymour fez muitas viagens.

Em 1895, quando tinha 25 anos, Seymour foi morar em Indianápolis, Indiana. Enquanto trabalhava como garçom em restaurantes e hotéis de luxo, ele passou a frequentar a Simpson Chapel Methodist Episcopal Church, uma congregação afro-americana afiliada à Igreja Metodista Episcopal, predominantemente branca. Cinco anos mais tarde, em 1900, Seymour se mudou para Cincinnati, Ohio, onde se juntou ao Movimento de Restauração da Igreja de Deus, que também era chamado de Os Santos da Luz da Noite. O grupo fazia parte do crescente movimento de Santidade que abraçou uma doutrina radical que incluía a cura pela fé e uma crença no retorno iminente de Cristo, um evento que seria indicado pela integração das raças na adoração - uma conciliação que Seymour tentou realizar, muitas vezes com grande sucesso, ao longo de sua vida pastoral.

O grupo também acreditava na doutrina da santificação, um conceito que remonta ao protestantismo do século 19. No entanto, acreditava em uma conversão e santificação imediata, e não gradual, seguindo a aceitação de Cristo e o batismo no Espírito Santo. Mas o próprio Seymour chegou a declarar: “Minha opinião é que todo cristão precisa crescer em sua fé, seja por um evento, vários eventos ou por um processo”. Seymour foi aluno do pregador pentecostal Charles Parham, fundador do movimento Apostolic Faith, constituído por igrejas independentes que cresceram no sul e no oeste dos Estados Unidos, onde ele realizava as suas reuniões. Nessa mesma época, Seymour era pastor interino de uma pequena igreja em Houston. Com apoio financeiro de Parham, em 1906 Seymour foi para Los Angeles, convidado por Neeley Terry, que falou sobre um movimento de santidade que estava acontecendo na cidade. Mas a ligação com Parham foi corroída após Seymour dar início ao movimento pentecostal, cujas reuniões foram duramente criticadas por Parham.

O pentecostalismo da Rua Azusa

Antes de encabeçar o forte movimento pentecostal da Rua Azusa, Seymour visitou algumas igrejas onde pregava sobre o avivamento, sendo rejeitado em algumas delas e aceito em outras. Em Los Angeles, Seymour foi convidado a pregar na igreja de Julia M. Hutchins, que estabeleceu uma nova congregação depois de ter sido expulsa da Segunda Igreja Batista por causa de sua visão de santidade. Em seus sermões ali, Seymour defendia a importância de uma comunidade religiosa inter-racial e de falar em línguas como um sinal do Espírito Santo. As visões de Seymour e Hutchins não estavam alinhadas, especialmente sobre a glossolalia, o que fez com que ela o impedisse de continuar ministrando em sua igreja.

Considerado o pai do avivamento, sua pregação também não agradou alguns anciãos que não aceitaram o ensinamento de Seymour, principalmente porque ele não havia experimentado o que estava pregando. A Associação da Igreja de Santidade do Sul da Califórnia também condenou a mensagem de Seymour. Depois disso, Seymour foi convidado pelo casal Ruth e Richard Asberry para realizar cultos em sua casa, na Avenida North Bonnie Brae. Junto com seu grupo, logo Seymour se mudou para o local, de onde começou a orar pelo batismo no Espírito Santo, junto com famílias brancas que também frequentavam os cultos. Após cinco semanas de pregação e de oração de Seymour, Edward S. Lee falou em línguas pela primeira vez.

Entusiasmado com a experiência de Lee, Seymour compartilhou seu testemunho e pregou sobre Atos 2, quando, no mesmo culto, outras seis pessoas começaram a falar em línguas, incluindo Jennie Moore, que mais tarde se tornaria a esposa de Seymour. Não muito depois daqueles dias, em 12 de abril, Seymour falou em línguas pela primeira vez, depois de orar uma noite inteira. O grupo cresceu rapidamente e, ainda em 1906, foi para um prédio antes ocupado pela Igreja Metodista Episcopal Africana, na Rua Azusa 312. O local estava sendo usado como depósito e estábulo, o que exigiu uma grande limpeza, feita pelos próprios membros.

A casa recebeu móveis de igreja improvisados. O púlpito foi feito com dois caixotes pregados e os bancos eram de tábuas pregadas em barris vazios. Seymour fez sua casa no andar de acima da igreja e começou a realizar cultos três vezes por dia, sete dias por semana. Uma equipe de voluntários, incluindo negros e brancos e homens e mulheres, ajudava Seymour na realização dos cultos na nova congregação, chamada Missão de Fé Apostólica. As reuniões no local começaram em 14 de Abril de 1906 e continuaram até meados de 1915. Estima-se que o movimento pentecostal iniciado na Rua Azusa, por Seymour, tem cerca de 20 milhões de seguidores nos EUA e 500 milhões em todo o mundo.

Últimos anos de vida

A Notable Biographies registra que Seymour passou os últimos anos de sua vida viajando pelo país, falando principalmente para o público negro. Em 1915, ele publicou um manual, As Doutrinas e Disciplina da Missão de Fé Apostólica da Rua Azusa de Los Angeles, mas sua influência como figura religiosa estava diminuindo. Em 28 de setembro de 1922, Seymour morreu de um ataque cardíaco repentino em Los Angeles. Ele foi enterrado no Cemitério Evergreen em East Los Angeles. Após sua morte, Jennie se tornou pastora da igreja e continuou o trabalho de seu marido, mesmo depois de perder a missão Azusa em 1931. Ela morreu em 1936.

William Seymour morreu antes de realizar muitos de seus objetivos. Ele planejou estabelecer escolas e missões de resgate e formar outras congregações, mas esses sonhos nunca se realizaram. Ainda assim, apesar do rápido declínio em sua influência, Seymour teve um tremendo impacto no movimento pentecostal, que cresceu para incluir mais de meio bilhão de crentes em todo o mundo. Na verdade, o Reavivamento da Rua Azusa é frequentemente citado como uma das raízes do pentecostalismo moderno.



Referências:

DAYTON, Donald. Raízes Históricas do Pentecostalismo. São Paulo: Editora Carisma, 2018.

BARTLEMAN, Frank. A História do Avivamento Azusa. São Paulo: Impacto Publicações, 2016.

OLIVEIRA, José de. Breve História do Movimento Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 2001.

PARHAM, Charles Fox. Uma Voz Clamando no Deserto. São Paulo: Editora Reflexão, 2020.


Comentário Bíblico Mensal: Novembro/2021 - Capítulo 2 - A Edificação dos Muros de Jerusalém

 




Comentarista: Henrique Lins



Texto Bíblico Base Semanal: Esdras 2.1-7; 3.1-8


Esdras 2.1-7

1. Sucedeu, pois, no mês de Nisã, no ano vigésimo do rei Artaxerxes, que estava posto vinho diante dele, e eu peguei o vinho e o dei ao rei; porém eu nunca estivera triste diante dele.

2. E o rei me disse: Por que está triste o teu rosto, pois não estás doente? Não é isto senão tristeza de coração; então temi sobremaneira.

3. E disse ao rei: Viva o rei para sempre! Como não estaria triste o meu rosto, estando a cidade, o lugar dos sepulcros de meus pais, assolada, e tendo sido consumidas as suas portas a fogo?

4. E o rei me disse: Que me pedes agora? Então orei ao Deus dos céus,

5. E disse ao rei: Se é do agrado do rei, e se o teu servo é aceito em tua presença, peço-te que me envies a Judá, à cidade dos sepulcros de meus pais, para que eu a reedifique.

6. Então o rei me disse, estando a rainha assentada junto a ele: Quanto durará a tua viagem, e quando voltarás? E aprouve ao rei enviar-me, apontando-lhe eu um certo tempo.

7. Disse mais ao rei: Se ao rei parece bem, dêem-se-me cartas para os governadores dalém do rio, para que me permitam passar até que chegue a Judá.

Esdras 3.1-8

1. E levantou-se Eliasibe, o sumo sacerdote, com os seus irmãos, os sacerdotes, e reedificaram a porta do gado, a qual consagraram; e levantaram as suas portas, e até à torre de Meá consagraram, e até à torre de Hananel.

2. E junto a ele edificaram os homens de Jericó; também ao seu lado edificou Zacur, filho de Imri.

3. E à porta do peixe edificaram os filhos de Hassenaá; a qual emadeiraram, e levantaram as suas portas com as suas fechaduras e os seus ferrolhos.

4. E ao seu lado reparou Meremote, filho de Urias, o filho de Coz; e ao seu lado reparou Mesulão, filho de Berequias, o filho de Mesezabeel; e ao seu lado reparou Zadoque, filho de Baana.

5. E ao seu lado repararam os tecoítas; porém os seus nobres não submeteram a cerviz ao serviço de seu Senhor.

6. E a porta velha repararam-na Joiada, filho de Paséia, e Mesulão, filho de Besodias; estes a emadeiraram, e levantaram as suas portas com as suas fechaduras e os seus ferrolhos.

7. E ao seu lado repararam Melatias, o gibeonita, e Jadom, meronotita, homens de Gibeom e Mizpá, que pertenciam ao domínio do governador dalém do rio.

8. Ao seu lado reparou Uziel, filho de Haraías, um dos ourives; e ao seu lado reparou Hananias, filho de um dos boticários; e fortificaram a Jerusalém até ao muro largo.


Momento Interação

Neemias descreve aqui como resolveu acompanhar os judeus que estavam regressando. Ele era um membro da corte real cuja responsabilidade era escolher o vinho (Ne 2.1) e evitar que o rei fosse envenenado, mas cuja proximidade com o rei acarretava prestígio e influência na corte.Ele primeiro recebeu um relato (Ne 1.1-3) – já visto -, reagiu ao que ouviu (Ne 1.4-11) – também já visto - e pediu permissão ao rei Artaxerxes I para ir (Ne 2.1-8). A autorização de Deus para o regresso de Neemias foi confirmada pela resposta inesperada do rei. O mês era de nisã e o ano era o vigésimo, próximo de março-abril de 445 a.C., quatro meses depois de Neemias ter recebido aquelas notícias terríveis de Jerusalém onde ele buscou a Deus em orações e jejuns. Era também o ano-novo persa, um tempo de comemoração, talvez aludido pela referência ao vinho (1.11). A reconstrução da cidade era um aspecto da reconstrução da “Casa de Deus” muito importante em Esdras e central em Neemias (1.1 - 7.3). Assim, no vs 5, Neemias faz o seu pedido ao rei. Ele pede um afastamento temporário para cuidar dessas questões, mas esse trabalho levou cerca de doze anos e não parece muito certo que ele tenha pedido tão longo afastamento, mas deixou ao rei clara a questão de que seria algo demorado (Ne 2.5,6). Neemias fez vários pedidos específicos. As duas referências a cartas nos versos 7 e 8 fazem parte de um tema importante em Esdras-Neemias. O projeto de reconstrução era muito extenso, ousado e complicado envolvendo muitas decisões e relacionamentos exteriores. O seu projeto envolvia a cidade, os muros e o palácio do governador. Neemias estava indo bem por conta do beneplácito de Deus (Ed 7.6) e indicava que Deus aprovava o papel de Neemias no programa de restauração.

Introdução

Em Neemias 2, vemos que a dor de Neemias não ficou demonstrada em suas orações, apenas, mas em atitude transformadora. Ele não se conformou em “sentir muito”, definitivamente ele precisava fazer algo, e Deus criou as situações ideais para isso. Quando estava servindo o rei, Artexerxes percebeu seu rosto triste. O que para ele foi uma grande surpresa, pois como diz Neemias: “Nunca antes eu tinha estado triste na presença dele”. Isso nos mostra que, mesmo escravo ele era um funcionário exemplar. Não reclamava, não tratava mal, não amaldiçoava sua autoridade, pelo contrário, abençoava. O rei o amava e se importou com sua dor, a ponto de perguntar-lhe o que estava acontecendo. As orações de Neemias começam a surtir efeito, e a oportunidade é criada.

Vemos que a disposição de Neemias contagia todo o povo. O projeto que começou em oração começa agora, a materializar-se. Este homem de Deus é um exemplo a ser seguido. Todo líder deveria conhecer de perto a história e a vida dele. Neemias não apenas encorajou o povo a fazer, ele mesmo diretamente, com a “mão na massa”, participou da obra. Muitos líderes apenas dizem o que deve ser feito, mas não participam da execução do projeto. Querem viver na pompa, no glamour da liderança e muitas vezes conhecem apenas a teoria. No caso de Neemias, ele lidera pela capacidade e exemplo. Suas palavras se tornam realidade, a partir de sua atitude e sobretudo, relacionamento com Deus.

I. A Intercessão de Neemias

Enquanto uma parte de Israel estava no cativeiro em Susã, algumas pessoas chegaram de Jerusalem, onde Neemias o copeiro do rei pergunta como estavam os judeus que escaparam da escravidão em terra estranha. As noticias era que os que restaram do cativeiro, estavam em grande miséria e desprezo; assim como também o muro de Jerusalém estava quebrado e as portas estavam queimadas. Israel estava passando fome, desprezados e ainda o muro da cidade estava quebrado e as portas queimadas, o que significa que não tinham estrutura para prosperar, estavam na miséria; por causa da miséria não eram respeitados; o muro quebrado dá a entender que inimigos poderiam entrar, assim como as feras, no momento em que quisessem; além de toda essa situação ruim, ainda tinham os portões queimados. Uma porta dá acesso a outros ambientes, como o acesso a outros níveis; Israel estava num nível só, onde os inimigos, ou qualquer um tinha acesso. A situação era espiritual e materialmente péssima.

Ouvindo essas noticias ruins Neemias estacou, assentou-se, ficou sem ação, chorando durante alguns dias. Mas nesse período em que Neemias esteve muito triste por causa de Israel, ele orou a Deus, uma oração que serve de modelo a todas as gerações. Neemias acertou em várias coisas ao orar essa sua oração, que é mais um exemplo de como orar. Neemias ao ouvir a situação de Israel lamentou-se, chorou e esteve estagnado por vários dias. Fazemos melhor a obra quando sentimos a dor do outro. O Evangelho é sobretudo uma empatia com o necessitado. Neemias sentiu a miséria e o opóbrio do povo, assim como sentiu tristeza pela situação física da cidade que estava sem segurança. O impacto foi tão forte que ele esteve parado, sem ação, sem saber o que fazer, chorando e se angustiando, por vários dias.

Neemias orou e jejuou, devido à imensa tristeza que sentiu pela situação dos que ficaram na terra e não foram levados ao cativeiro.  Orar significa que queremos falar com Deus. Nessa conversa com Deus, a parte que mais interessa é ouvir o que Deus quiser falar conosco, do que propriamente o que falamos à Ele. Quem ora quer ouvir Deus. Quem jejua o faz com propósitos. Jejuar é colocar diante de Deus propósitos que queremos que aconteçam. Cerque a sua situação com oração, com jejuns, com a Palavra, com cultos que você vai e que faz em casa. No problema, ore em casa, ouça hinos, ouça pregações, leia a Biblia muito e muito e mais ainda. Não saia da presença de Deus. Cerque, literalmente o seu problema com apresença de Deus, com a unção, com a Palavra e Deus vai te dar a vitória.

II. A Preparação para a Ida á Jerusalém

Neemias descreve aqui como resolveu acompanhar os judeus que estavam regressando. Ele era um membro da corte real cuja responsabilidade era escolher o vinho (Ne 2.1) e evitar que o rei fosse envenenado, mas cuja proximidade com o rei acarretava prestígio e influência na corte. Ele primeiro recebeu um relato (Ne 1.1-3) – já visto -, reagiu ao que ouviu (Ne 1.4-11) – também já visto - e pediu permissão ao rei Artaxerxes I para ir (Ne 2.1-8). A autorização de Deus para o regresso de Neemias foi confirmada pela resposta inesperada do rei. O mês era de nisã e o ano era o vigésimo, próximo de março-abril de 445 a.C., quatro meses depois de Neemias ter recebido aquelas notícias terríveis de Jerusalém onde ele buscou a Deus em orações e jejuns. Era também o ano-novo persa, um tempo de comemoração, talvez aludido pela referência ao vinho (Ne 1.11).

Estranhou o rei que estava acostumado com Neemias e notou que seu semblante estava caído e, pelo que parece, tinha por ele grande afeição, pois, mostrando interesse, perguntou-lhe por que estava ele tão triste e cabisbaixo. Neemias ao notar que o rei tinha percebido aquele comportamento estranho nele e que ainda tinha notado que ele estava com boa e perfeita saúde aparente, logo concluiu que sua tristeza era de coração e acertou. Neemias tremeu muito de medo, mas não há explicações para essa razão desse medo e logo procurou dar ao rei conhecimento do que se passava com ele e tudo lhe falou sem ocultar nadinha. No verso 3, ele lhe explica “Como não estaria triste o meu rosto, estando a cidade, o lugar dos sepulcros de meus pais, assolada, e tendo sido consumidas as suas portas a fogo?”. Então o rei mostrando ainda mais sensibilidade para o seu caso se oferece a ele para ajudá-lo – vs 4.

A reconstrução da cidade era um aspecto da reconstrução da “Casa de Deus” muito importante em Esdras e central em Neemias (Ne 1.1-7.3). Assim, no vs 5, Neemias faz o seu pedido ao rei. Ele pede um afastamento temporário para cuidar dessas questões, mas esse trabalho levou cerca de doze anos e não parece muito certo que ele tenha pedido tão longo afastamento, mas deixou ao rei clara a questão de que seria algo demorado (Ne 2.5,6). Neemias fez vários pedidos específicos. As duas referências a cartas nos versos 7 e 8 fazem parte de um tema importante em Esdras-Neemias. O projeto de reconstrução era muito extenso, ousado e complicado envolvendo muitas decisões e relacionamentos exteriores. O seu projeto envolvia a cidade, os muros e o palácio do governador. Neemias estava indo bem por conta do beneplácito de Deus (Ed 7.6) e indicava que Deus aprovava o papel de Neemias no programa de restauração.

III. A Organização de Neemias para a Edificação dos Muros

Neemias tinha partido para a Terra Prometida por conta de tantos trabalhos, mas seu regresso trouxe alguns problemas. Doravante, vale o registro, a expressão "ficarem sabendo" formam uma espécie de refrão (Ne 2.19; 4.1,5,15; 6.1 16) como referências aos inimigos de Israel. O que veremos é que o conflito se intensificará gradualmente, até ser resolvido (Ne 6.16). Sambalate é um nome babilônio que significa "Sin [o deus da Lua] concede vida". Ele era o governador de Sarmaria, a região ao norte de Judá. O fato de ele adorar, de algum modo, a Yahweh, o Deus de Israel (2 Rs 17.24-41) é sugerido pelos nomes de seus filhos, Delias e Selemias, que contêm uma forma abreviada de "Yahweh", Tobias. No entanto, coo era de costume, eles adoravam cada entidade conforme os benefícios e interesses que eles tinham nela.

Quanto a Tobias, ao que tudo indica, era o governador de Amam, a região a leste de Judá. Seu nome significa "O SENHOR é bom", sugerindo que seus pais e provavelmente ele próprio adoravam ao Deus de Israel (Ne 6.17,18; 13.4). Ambos, Sambalate e Tobias ficaram muito tristes com a iniciativa de Neemias e essa notícia muito lhes desagradou (vs 10). A oposição, aparentemente parecia ter um aspecto político, mas era de origem religiosa (vs 20; Ed 4.3,4).
Essa oposição experimentada aqui, incentivava os leitores do livro de Neemias a perseverar contra os oponentes em sua época. Neemias se dedicou a reconstruir os muros de Jerusalém visando não apenas à estabilidade política, mas também a criação de uma cidade santa para o templo de Deus.

A despeito de todas as provocações e ameaças, Neemias permaneceu firme em seu propósito. O relato da construção do muro tem seu prosseguimento com uma relação das pessoas responsáveis pelos diferentes partes do muro. Nesse capítulo, veremos que a abrangência dos trabalhos envolve todo o perímetro da cidade e ainda ressalta a participação de todo o povo de Deus, como o próprio livro enfatiza em várias passagens. Havia um grande lidera à frente dos trabalhos, tinha o apoio do rei Artaxerxes, contava com a simpatia do povo e estavam todos animados nos trabalhos que não eram fáceis de serem realizados á época. Elisabe, o sumo sacerdote mencionado no vs 1, era neto de Josué, o sumo sacerdote no tempo de Zorobabel. Ele envolveu os outros sacerdotes e já trataram de reedificar a Porta das Ovelhas.

Conclusão

Neemias não veio para brincar ali naquele lugar e seu foco era o trabalho e o resultado esperado. Ao chegar em Jerusalém, imediatamente, fez um levantamento da situação e propôs a reconstrução dos muros da cidade. Neemias estava agindo com muita cautela. Ao chegar em Jerusalém não tratou imediatamente de tocar trombeta e anunciar seus negócios, mas esperou três dias. Essa espera de três dias de Neemias depois de chegar a Jerusalém é comparável à espera dos três dias de Esdras (Ed 8.32), sendo que Esdras agiu publicamente, mas Neemias, secretamente.

Ainda agindo com cautela ele sai de noite para uma porta chamada de a Porta do Vale. Arqueólogos descobriram uma porta do período persa e a identificaram como sendo essa porta. O que ele viu foi mesmo terrível, pois a cidade estava em ruínas havia quase cento e cinquenta anos. Uma tentativa anterior de reconstruir os muros havia sido interrompida (Ed 4.7-23). Neemias reconheceu a soberania de Deus como fonte suprema de seu plano e fundamento para as ações do rei humano. Foi por isso que depois de chamar a atenção dos líderes de Judá e dizer a eles que tinha o apoio do rei Artaxerxes que eles lhe responderam afirmativamente e se dispondo (Ne 2.18) ao serviço, ou seja “a boa obra”.

A iniciativa de Neemias foi recebida com apoio sincero da parte dos líderes de Judá. Essa atitude dos líderes redundou em sucesso e na bênção de Deus.

Sugestão de Leitura da Semana: MUNIZ, Sidney. O Propósito da Oração. São Paulo: Evangelho Avivado, 2017.