segunda-feira, 27 de julho de 2020

3 Imperativos no Convite de Jesus




O que Jesus queria dizer com “vinde a mim?” E quem era os “cansados e sobrecarregados” no pensamento de Jesus? O que estava deixando essas pessoas cansadas e sobrecarregadas? O que Jesus quis dizer sobre o descanso?

Nesse texto, responderemos essas perguntas e suas implicações práticas para a vida cristã.

Vinde a mim

Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei (Mt 11.28).

“Vinde a mim”, é o primeiro imperativo no convite de Jesus. Quando disse essas palavras, ele estava estendendo o convite aos cansados e oprimidos. Ir a Jesus segundo Hendriksen, significa crê nele como está descrito em Jo 6.35: “O que vem a mim de modo algum terá fome, e o que crê em mim de modo algum terá sede.” Além do mais, a fé, sendo fruto do Espírito Santo produz o fruto do Espírito: amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão e domínio próprio (Gl 5.22)[1]. Assim, podemos entender que esse convite de Jesus é lançado a qualquer pecador, somente ele tem autoridade para convidar os homens a fazerem parte do seu reino, Cristo convida de forma graciosa essas pessoas.

As pessoas que estavam cansadas e sobrecarregadas eram “os judeus” no contexto de Jesus. Mateus escreveu esse evangelho para o público judeu com objetivo demonstrar que Jesus era o Messias profetizado pelos profetas da Antiga Aliança. Jesus via essas pessoas como “cansadas,” isto é, intenso trabalho unido a aborrecimento e fadiga[2], isso que a religiosidade da época produzia. “Sobrecarregadas” era no sentido de oprimir alguém com ritos e preceitos humanos. Dessa forma, é evidente que Jesus queria libertar aquelas pessoas da religiosidade.  

Os fariseus eram os grandes responsáveis de deixar aquelas pessoas cansadas e sobrecarregadas. Jesus disse sobre eles: “Atam fardos pesados [e difíceis de carregar] e os põem sobre os ombros dos homens; entretanto, eles mesmos nem com o dedo querem movê-los (Mt 24.4).” Segundo Beacon, “isso era uma referência aos judeus, sob o jugo da lei. A lei – escrita oral – como era interpretada e aplicada pelos rabinos, tornava-se um fardo excessivo para se carregar[3].” Assim, poderíamos entender que isso faz uma clara referência ao peso do pecado no homem, sobre o seu coração. Entretanto, esse convite também se aplica aos cristãos que estão cansados e fracos.

Por último, Jesus faz uma promessa graciosa: “e eu vos aliviarei.” Cristo se referia literalmente o “descanso”, ou seja, com a Minha presença. Ele é o verdadeiro pastor para fazer o homem repousar em pastos verdejantes, levar as águas tranquilas e trazer refrigero a alma (Sl 23.2,3).

Tomai o meu jugo

Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para a vossa alma (Mt 11.29).

“Jesus convida a tomar o seu jugo,” que é o segundo imperativo do convite de Jesus. O que Jesus queria dizer “tomai sobre vós o meu jugo?” Segundo Carson, era um “jugo posto sobre animais para puxar cargas pesadas, é uma metáfora para a disciplina do discipulado. Embora Jesus não esteja oferecendo o jugo da lei nem a libertação de todas as restrições”[4]. Segundo Hendriksem, “Na literatura judaica, um jugo representava uma soma total de obrigações que, segundo o ensino dos rabinos, uma pessoa deve assumir.” Dessa forma, Jesus estava convidando aquelas pessoas a submeter-se ao seu jugo, isto é, um convite a obedecer ao Senhorio.

A razão de Jesus convidar a “tomar o seu jugo” é justamente porque o Seu jugo é suave, e Seu fardo é leve (Mt 11.30). O que Jesus queria dizer com “jugo suave” e “fardo leve?” Conforme Hendriksem, o jugo era uma armação de madeira, colocada sobre os ombros de uma pessoa a fim de tornar o volume ou fardo mais fácil de carregar, distribuindo o seu peso em proporções iguais aos lados opostos do corpo. Assim, para tornar agradável à tarefa de carregar, o jugo não tinha só de estar bem ajustado aos ombros, não provocando irritação, mas também a carga não podia ser demasiadamente pesada. No sentido figurado, Jesus assegura aquelas pessoas que estavam sendo oprimidas com as doutrinas legalistas dos fariseus, o seu jugo é agradável e seu fardo é leve, ou seja, aquilo que Ele requer de nós é leve. Jesus estava demostrando que a simples confiança nele e a obediência aos seus mandamentos, por gratidão a salvação conquistada na cruz, são deleitosos.      

Aprendei de mim

Aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para a vossa alma (Mt 11.29).

“Aprendei de mim,” é o terceiro imperativo no convite de Jesus. A princípio, a razão de Cristo convidar aquelas pessoas aprenderem dele, era justamente porque somente ele pode revelar o Pai (Mt 11.27). Além disso, Cristo as convida-a porque o mesmo é manso e humilde, ao contrário dos fariseus que não apresentavam tal característica. Mateus destaca a mansidão e a humidade de Jesus (18.1-10; 19.13-15), Jesus é servo messiânico profetizado pelos profetas no Antigo Testamento (Is 42.2,3; 53.1,2; Zc 9.9). Assim, Cristo demonstra que tem toda autoridade para convidar qualquer pessoa aprender dele.

E achareis descanso para a vossa alma” são diretamente citadas de Jeremias 6.16. O descanso referido por Jesus é o “caminho antigo”, “o bom caminho”, ou seja, a Palavra de Deus, quem andar nela achará descanso para a alma. Jesus disse: “Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim (Jo 14.6).” Logo, o descanso prometido por Jesus é o cumprimento de Jeremias 6.16, toda a Escritura aponta para Cristo. Esse descanso, não está apenas para o mundo porvir, mas para o presente também.

Conclusão

Apesar de essa passagem ser aplicada muita das vezes as pessoas não convertidas a Cristo, Jesus tinha em (mente) indivíduos que conheciam a lei – povo de Deus.

Uma das lições deixadas nesse texto é sobre o legalismo. O legalismo tem deixado as pessoas cansadas e sobrecarregadas com suas doutrinas humanas e cheias de tradições. Jesus demonstra que somente nele o homem encontrará descanso, isso ele se referia um retorno as Escrituras (Jr 6.16). Portanto, essa passagem tem aplicação tanto para os cristãos, como para os não cristãos.

 

Sidney Muniz

 

Notas:



[1] Comentário do Novo Testamento Mateus volume 1 – William Hendriksem

[2] Bíblia Revista e Atualizada Interlinear

[3] Comentário Bíblico Beacon

[4] O Comentário de Mateus – D. A. Carson

sexta-feira, 24 de julho de 2020

Comentário Bíblico Mensal: Julho/2020 - Capítulo 4 - Jesus Cristo - O Exemplo Supremo de Vigilância Espiritual




Comentarista: Emanuel Barros



Texto Bíblico Base Semanal: Hebreus 4.9-16

9. Portanto, resta ainda um repouso para o povo de Deus.
10. Porque aquele que entrou no seu repouso, ele próprio repousou de suas obras, como Deus das suas.
11. Procuremos, pois, entrar naquele repouso, para que ninguém caia no mesmo exemplo de desobediência.
12. Porque a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais penetrante do que espada alguma de dois gumes, e penetra até à divisão da alma e do espírito, e das juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e intenções do coração.
13. E não há criatura alguma encoberta diante dele; antes todas as coisas estão nuas e patentes aos olhos daquele com quem temos de tratar.
14. Visto que temos um grande sumo sacerdote, Jesus, Filho de Deus, que penetrou nos céus, retenhamos firmemente a nossa confissão.
15. Porque não temos um sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas; porém, um que, como nós, em tudo foi tentado, mas sem pecado.
16. Cheguemos, pois, com confiança ao trono da graça, para que possamos alcançar misericórdia e achar graça, a fim de sermos ajudados em tempo oportuno.

Momento Interação

“Vigiai e orai” é uma ordem que significa que o povo de Deus deve estar sempre atento e em constante oração. O crente deve vigiar e orar para que ele não venha ceder às debilidades de sua carne e possa estar sempre preparado para o grande dia da volta do Senhor Jesus. Através da vigilância e da oração, podemos vencer as tentações que nos sobrevêm (Mt 26.40; Mc 13.33). Por muitas vezes Jesus ensinou sobre a importância da oração e a necessidade da vigilância. Então seria natural que em alguma ocasião o Senhor Jesus combinasse os verbos “vigiar” e “orar” na mesma expressão ao dizer “vigiai e orai”. Numa aplicação prática, a ordem “vigiai e orai” é uma exortação a uma vida santificada, sabendo que o Dia do Senhor se aproxima. Vigiar é estar em guarda, estar atento, sempre alerta; e esse conceito de vigilância e cautela espiritual sempre estará associado nas Escrituras com a ideia de oração contínua e perseverante. Os crentes não possuem recursos suficientes em si mesmos para estarem alertas diante dos perigos espirituais. Eles precisam buscar o auxílio divino, a sabedoria e o fortalecimento de Deus, para resistir em qualquer circunstância. Por isso a ordem: Vigiai e orai!

Introdução

O tempo que Jesus esteve no Getsêmani não foi fácil para Ele. A Bíblia diz que Jesus estava muito angustiado. Inclusive, Ele disse aos seus três discípulos mais próximos que sua alma estava profundamente triste até a morte (Mt 26.38). Então Ele pediu que os três discípulos vigiassem juntamente com Ele ali. Em seguida Jesus foi para um lugar um pouco mais reservado e, prostrado sobre o seu rosto, orou ao Pai. Foi naquela ocasião que Jesus fez a conhecida oração: “Meu Pai, se possível, passe de mim este cálice! Todavia, não seja como eu quero, e sim como tu queres” (Mt 26.39). A oração de Jesus no Getsêmani foi tão intensa que o escritor de Hebreus diz que ali Jesus clamou ao Pai com lágrimas (Hb 5.7). Alguns comentaristas dizem que talvez a oração de Jesus no Getsêmani tenha dado origem ao costume cristão de orar ajoelhado. Vale lembrar que os judeus geralmente oravam em pé.

O evangelista Lucas também traz duas informações importantes sobre o que aconteceu com Jesus no Getsêmani enquanto Ele orava. O escritor bíblico diz que tamanha foi a angústia de Cristo que seu suor se tornou como gotas de sangue caindo sobre a terra. Ele também informa que um anjo do céu apareceu para confortar Jesus (Lc 22.43,44). Mateus ainda esclarece que naquela noite Jesus orou três vezes no Jardim do Getsêmani. No intervalo entre uma oração e outra, Jesus sempre encontrou os seus discípulos dormindo. Foi nesse contexto que Jesus fez a seguinte exortação: “Vigiai e orai, para que não entreis em tentação; na verdade o espírito está pronto, mas a carne é fraca“ (Mt 26.41).

I. Vigiai e Orai

Jesus explicou para os três discípulos que Ele estava muito angustiado naquele momento, e lhes pediu para que eles ficassem alertas ali com Ele. Jesus ainda se afastou sozinho um pouco mais e orou ao Pai. Mas ao retornar, Ele encontrou os discípulos dormindo. Foi então que Ele falou a Pedro: “Vocês não foram homens capazes de velar comigo uma única hora? Vigiai e orai para que não entreis em tentação; na verdade, o espírito está pronto, mas a carne é fraca” (Mt 26.41). Ao dizer “vigiai e orai” naquele momento, Jesus estava literalmente dizendo: “Mantenham-se alerta e continuem orando, para que não entrem em tentação”. Depois disso, mais uma vez Jesus se afastou deles para orar. Mas os discípulos, porém, não conseguiram obedecer ao pedido do Senhor Jesus. 

Quando Ele retornou, novamente os três foram achados dormindo. Mas talvez Jesus também tenha declarado “vigiai e orai” uma vez mais, dias antes do evento no Jardim do Getsêmani, na mesma semana da crucificação. Isso teria acontecido durante o sermão escatológico em que Jesus falou aos seus discípulos sobre o que haveria de acontecer até o fim dos tempos. Já no fim do sermão, Jesus falou muito claramente que o dia e a hora de seu retorno são desconhecidos. Por esse motivo Ele exige que seus seguidores estejam sempre preparados. Então nesse contexto Ele alertou: “Olhai, vigiai e orai; porque não sabeis quando chegará o tempo” (Mc 13.33).

Na noite em que Jesus foi preso, os discípulos mais próximos dele não conseguiram vigiar e orar. Por isso eles acabaram por ceder à tentação. Naquele contexto, a tentação para os discípulos consistia na possibilidade de eles se mostrarem infiéis a Jesus. De fato, infelizmente foi isso o que aconteceu. Eles não permaneceram vigilantes, e nem oraram fervorosamente. É significativo que Jesus dirigiu as palavras “vigiai e orar para que não entreis em tentação” diretamente ao apóstolo Pedro. O resultado de sua falta de comprometimento com a ordem de Jesus pôde ser visto tão logo quando ele negou o seu Mestre. Mas a declaração “vigiai e orai” certamente é uma ordem atual e muito importante para todos nós. Seu princípio é verdadeiro e sua mensagem deve soar todos os dias nos corações dos redimidos.

Os cristãos genuínos almejam vividamente pelo dia da vinda de Cristo. Aquele que aguarda ansiosamente por um evento, jamais deve ser pego de surpresa quando sua data chegar. Por isso os crentes devem vigiar e orar a todo tempo; eles devem estar sempre alertas, dedicando total atenção às coisas de Deus e orando persistentemente sem cessar. Os seguidores de Cristo devem se manter sempre espiritualmente despertados, com seus corações e mentes alertas, para que possam vencer a tentação.

II. Espírito Pronto - Carne Fraca

A declaração “o espírito está pronto, mas a carne é fraca” significa que a natureza humana é frágil e possui suas debilidades, enquanto o espírito deseja fazer o que é bom. Foi Jesus quem disse essas palavras enquanto estava no Jardim do Getsêmani (Mt 26.41; Mc 14.38). Jesus disse que a carne é fraca na noite em que Ele foi traído e preso. É importante saber disso porque a declaração “o espírito está pronto, mas a carne é fraca” deve ser considerada à luz de seu contexto. Naquela noite Jesus estava passando por um momento muito difícil. Ele mesmo declarou que estava enfrentando uma angústia enorme (Mt 26.38). Tudo isso porque Jesus estava prestes a tomar o cálice amargo que lhe foi proposto. Por esse motivo em sua oração Ele dizia: “Pai, se possível, afasta de mim este cálice“ (Mt 26.39). Esse cálice era o furor da ira divina que seria derramado sobre Ele por causa do pecado que Ele tomou sobre si.

Então naquele momento decisivo da história da redenção, Jesus foi até o Jardim do Getsêmani orar. Ali Ele convidou seus três discípulos mais próximos para ir a um lugar mais reservado. Então Ele pediu que Pedro, Tiago e João ficassem vigiando e orando com Ele. Em seguida, Jesus se afastou ainda mais um pouco no jardim. Os três discípulos, porém, não foram capazes de atender ao pedido de Jesus. Tão logo eles pegaram no sono. Quando Jesus voltou, encontrou os três dormindo. Foi então que Ele disse ao apóstolo Pedro: “Vigiai e orai, para que não entreis em tentação; o espírito está pronto, mas a carne é fraca” (Mc 14.38). Antes de dizer que a carne é fraca, Jesus diz que o espírito está pronto. Evidentemente esse espírito da qual Jesus fala não deve ser confundido com o Espírito Santo. Na verdade Jesus fala do espírito do ser humano em sua relação para com Deus. As traduções bíblicas contribuem com esse entendimento ao registrar a palavra espírito com sua letra inicial minúscula.

Portanto, o espírito que Jesus diz estar pronto deve ser entendido como uma referência ao ser invisível do homem, visto em seu relacionamento com Deus. É através de seu espírito que o homem presta culto a Deus e recebe o favor divino. Certa vez Jesus disse que os verdadeiros adoradores adoram o Pai em espírito e em verdade (Jo 4.23). Jesus diz que a carne é fraca justamente para fazer uma contraposição ao espírito que está pronto. Então nesse contexto em que Jesus declara que a carne é fraca, o significado da palavra “carne” não deve ser confundido com aquele significado tão comum em outras partes do Novo Testamento que denota a natureza humana corrompida e caída, e que é a fonte do desejo pecaminoso (cf. Rm 7.25; 8.4-9). W. Hendriksen diz que a palavra “carne”, no sentido que lhe é atribuído na expressão “a carne é fraca”, indica a natureza humana considerada do prisma de sua fragilidade e necessidades, tanto físicas quanto psíquicas (cf. Is 40.6-8). J. MaCArthur diz que o próprio Cristo também estava familiarizado com o sentimento das fraquezas humanas (Hb 4.15). Essas fraquezas, no entanto, devem ser subjugadas à vontade divina.

Então ao dizer que “o espírito está pronto, mas a carne é fraca”, basicamente Jesus estava dizendo que o espírito está sempre disposto, mas a carne, com suas debilidades naturais, não acompanha essa disposição. Isso ficou muito claro no comportamento dos discípulos. Naquela noite no Getsêmani, os discípulos de Jesus estavam numa verdadeira batalha entre seu espírito pronto e sua carne fraca. O espírito de cada um deles estava disposto a atender ao pedido de Jesus e permanecer alerta em oração; mas a fraca carne estava conduzindo-os ao sono, e assim, de certa forma, tornando-os vulneráveis aos desejos de Satanás.

III. O Exemplo de Jesus Cristo

Jesus disse: “Pai, se possível, afasta de mim este cálice!”, quando estava orando no monte das Oliveiras, num jardim chamado de Getsêmani. Como foi dito, isto ocorreu na noite em que Ele foi traído. Antes, Ele havia acabado de celebrar a última Páscoa com seus discípulos, dado as instruções finais a eles, e instituído a Ceia do Senhor como uma ordenança a ser observada por seus seguidores. Depois dessas coisas, Ele partiu para o Monte das Oliveiras como de costume. Ali Ele pediu que seus discípulos vigiassem em oração. Ele se afastou um pouco deles com o objetivo de orar. A Bíblia diz que ali Jesus orou ao Pai intensamente.

Naquele momento ele estava experimentando um estado de agonia tão extremo que até o seu suor se transformou em gotas sangue. O escritor de Hebreus também descreve que naquele momento Jesus apresentou um grande clamor com lágrimas ao Pai (Hebreus 5:7). Ali ele estava vivendo os momentos finais antes da prisão que resultaria em sua morte. Foi justamente nesse contexto que Ele clamou: “Pai, se possível, afasta de mim este cálice”. O significado que mais se harmoniza ao contexto do pedido de Jesus Cristo ao Pai, é o de que o cálice nesse versículo indica a ira divina.

Ao dizer: “Pai, se possível, afasta de mim este cálice!”, Jesus demonstrou estar apavorado com a terrível experiência iminente a qual se submeteria. Diferentemente do que alguns pensam, Ele não estava temendo os sofrimentos físicos da cruz, apesar de que a crucificação era a forma mais dolorosa e cruel de execução da época. Definitivamente Ele não estava com medo de ser açoitado, humilhado, torturado e finalmente morto. O que deixava Jesus horrorizado a ponto de pedir: “Pai, se possível, passe de mim este cálice!”, era a expectativa de ter de suportar todo o peso da ira de Deus. Ao carregar o pecado de seu povo sobre si, Aquele que nunca pecou se fez pecado por nós (2 Co 5.21).

Consequentemente, o caráter santo e justo de Deus exige o castigo pela iniquidade. A Bíblia diz que Deus é tão santo e puro que seus olhos não suportam contemplar o mal (Hc 1.13). Dessa forma, Jesus teria de enfrentar a morte sabendo que estaria completamente abandonado da presença misericordiosa e amorosa do Pai. Todo o cálice da maldição divina por causa do pecado estava prestes a ser derramado sobre Ele na cruz do Calvário. Ali Ele haveria de experimentar todo o horror do inferno para redimir o seu povo. Na cruz, Ele não gritou: “Meu Deus, está doendo!”; nem mesmo disse: “Meu Deus, eu não quero morrer, me tira daqui!”; mas seu grito foi: “Meu Deus, meu Deus! Por que me abandonastes?“ (Mt 27.46). Esse grito de angustia revela o extremo amargor do cálice que lhe foi dado a tomar.

Conclusão

Jesus não apenas orou pedindo: “Pai, se possível, afaste de mim este cálice!”, mas Ele também acrescentou: “Que não seja feita a minha vontade, mas a tua”. Essa foi uma declaração de completa submissão ao Pai. Sabemos que na Trindade ontológica não existe qualquer ideia de hierarquia. Pai, Filho e Espírito Santo são igualmente Deus, possuidores dos mesmos atributos e merecedores de igual glória e honra. Mas na economia da salvação o Filho não hesitou em se submeter voluntariamente e totalmente a vontade do Pai. Saiba mais sobre o que é a Trindade. Aqui é preciso entender que não houve qualquer conflito entre a vontade divina e os desejos de Cristo em sua humanidade. Isto fica claro quando Ele próprio diz: “Agora, está angustiada a minha alma, e que direi eu? Pai, me salva desta hora? Não; eu vim precisamente com este propósito, para esta hora” (Jo 12.27). 

A frase: “Pai, se possível, afasta de mim este cálice”, jamais deve ser vista como significando uma declaração de que Jesus queria escapar de sua missão. Ao contrário disso, ela deve ser vista como uma oração que reflete a profundidade, a importância e o valor da obra redentora de Cristo em nosso favor. Sua morte não foi como qualquer outra morte. Não foi um mero exemplo a ser seguido. Não foi simplesmente um ato heroico como foram as mortes de muitos mártires da História. Sua morte foi expiatória! Ele ocupou o lugar de pecadores, e por eles tomou o cálice da ira de Deus até o fim.



Sugestão de Leitura da Semana: SILVA, Oliveira. Panorama Bíblico - Volume 7 - Epístolas Gerais. São Paulo: Evangelho Avivado, 2020.

quarta-feira, 22 de julho de 2020

Na Bonança ou no Temporal - Nós Precisamos de Deus




Por Leonardo Pereira



O mundo que conhecemos hoje se difere em grande demasia de período que compreende 10, 20, 30, 50 anos atrás. As relações pessoais, interpessoais, familiares e eclesiásticas também sofreram um tremendo impacto em decorrência das décadas. Evoluções nos relacionamentos, na tecnologia, no fácil acesso à educação e ao emprego, foram resultados marcantes dos últimos tempos. No entanto, a drástica mudança social, as mídias digitais, a manifestação de movimentos a favor ou contrários aos preceitos judaico-cristãs, traz a tona  uma intensa e urgente reflexão, de que chegamos a um período da história da nação em que a sociedade, sobretudo a sociedade evangélica brasileira, precisa olhar mais do que nunca, olhar para trás e compreender o que foi construído e desconstruído ao longo do tempos.

Muito além das mudanças ocasionadas pelo Pós-Modernismo advindo de seus adeptos, encontra-se os valores permanentes das Escrituras Sagradas, a qual boa parte da população crê, e exerce grande ênfase em sua vida, em sua família e na comunidade aonde reside. Uma nação só é nação se ela exerce os valores tradicionais da conservação cristã (o amor à Deus, a Família e ao Próximo). Tirando todos os valores que se encontram na Palavra do Senhor de uma nação. Rapidamente, a mesma entra em um estágio completo de ruína social, moral, ética e espiritual. As nações, povos, tribos que intentam banir Deus de seus habitat's, todas elas sofrem por não possuírem um direcionamento correto e com elas, milhares de pessoas por se afastarem da presença de Deus e da sua Palavra. A história mostra exatamente desta forma, e hoje não é diferente.

Diante do sofrimento de inúmeras pessoas mundo afora que sofrem de diversas formas, pelas Escrituras Sagradas, encontramos dois homens similares que entre a bonança e o temporal, buscaram ao Senhor de maneira contínua - Jó e Neemias. A vida deste dois gigantes da fé no Senhor é marcado por momentos de calmaria e de tempestades. Jó era o homem mais rico da sua geração. Possuía riquezas e bens, mas ainda que tivesse tudo o que precisava, sabia ele que o que mais precisava em sua vida, era do Senhor.  Por outro lado, Neemias era copeiro do rei Artaxerxes. Era um homem de confiança do rei e possuía uma posição muito privilegiada. Ainda assim, quando soube da ruína de Israel por intermédio de seu irmão, chorou continuamente e entrou em um estado de lamento que tomou-lhe sua alma. O único que poderia buscar naquele momento de tristeza e de dor, não era o rei nem os seus homens de confiança, mas sim à Deus, e foi o que ele fez imediatamente.

O Clamor de Jó em tempos de Brandura

Antes de toda aflição que Jó passaria e que acompanhamos em decorrer do livro que leva o seu nome, encontramos um servo fiel do Senhor que clama pela sua família e os santificava diante da presença do Senhor: "Sucedia, pois, que, decorrido o turno de dias de seus banquetes, enviava Jó, e os santificava, e se levantava de madrugada, e oferecia holocaustos segundo o número de todos eles; porque dizia Jó: Porventura pecaram meus filhos, e amaldiçoaram a Deus no seu coração. Assim fazia Jó continuamente" (Jó 1.5). Jó não somente buscava ao Senhor quando lhe era conveniente ou quando passava por aflições. Ele sendo o homem mais piedoso da sua geração, o mais rico e o mais conhecido, fazia continuamente aquilo que era sua principal característica. Clamar ao Senhor. O homem mais conhecido do Oriente Antigo nos ensina que nada é maior em nossa agenda do que nos rendermos diante do Altíssimo, por nossos familiares, por nossos amigos e pela nação brasileira. A fama de Jó não se deve aos bens que ele possui ou o quanto granjeou em sua vida material, mas sim, o quanto ele dedicava toda madrugada ao Senhor continuamente.

O Clamor de Neemias por Jerusalém em Ruínas

A narrativa de Neemias começa de modo autobiográfico, tanto em sua vida particular como também em sua vida espiritual: " As palavras de Neemias, filho de Hacalias. E sucedeu no mês de Quislev, no ano vigésimo, estando eu em Susã, a fortaleza, Que veio Hanani, um de meus irmãos, ele e alguns de Judá; e perguntei-lhes pelos judeus que escaparam, e que restaram do cativeiro, e acerca de Jerusalém. E disseram-me: Os restantes, que ficaram do cativeiro, lá na província estão em grande miséria e desprezo; e o muro de Jerusalém fendido e as suas portas queimadas a fogo. E sucedeu que, ouvindo eu estas palavras, assentei-me e chorei, e lamentei por alguns dias; e estive jejuando e orando perante o Deus dos céus" (Ne 1.1-4). O amor por Jerusalém era tamanho que dedica a maior parte do capítulo clamando pelo auxílio divino em prol de Jerusalém, sua amada terra: "Ah! Senhor, estejam, pois, atentos os teus ouvidos à oração do teu servo, e à oração dos teus servos que desejam temer o teu nome; e faze prosperar hoje o teu servo, e dá-lhe graça perante este homem. Então era eu copeiro do rei" (Ne 1.11). Neemias não fica inerte diante da situação assoladora de Israel. Ao ouvir sobre a condição da cidade em ruínas, prostra-se diante dos pés do Deus dos Céus, buscando, clamando em lágrimas e confessando os seus pecados, de modo que o Senhor aparte a sua ira de Jerusalém, em decorrência da iniquidade na localidade.

Sempre Precisaremos de Deus!

O objetivo deste artigo é entendermos que estejamos nós em um momento de brandura, ou tempestuoso, sempre precisaremos de Deus. Aqueles que pensam ser autossuficientes, caem em seus próprios caminhos de arrogância, de soberba e da presunção. Envergonhados, reconhecem de pronto a soberania de Deus,e ainda que muitos mantenham o seu orgulho em todo o tempo, lembram-se que o Senhor habita nos céus e que nossas vidas são como um vento passageiro. Lembremo-nos sempre de que o é o Senhor que se mantém soberano e supremo no trono reinando sobre tudo e sobre todos.



Referências: 

ATAÍDE, Romulo; MUNIZ, Sidney; PEREIRA, Leonardo; ROGÉRIO, Marcos. Comentário Bíblico Mensal - Volume 1 - Antigo Testamento. São Paulo: Evangelho Avivado, 2017.

Bíblia Sagrada. Almeida Revista e Corrigida. São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 2009.

MUNIZ, Sidney. O Propósito da Oração. São Paulo: Evangelho Avivado, 2017.

ROGÉRIO, Marcos. Família Cristã. São Paulo: Evangelho Avivado, 2017.

sábado, 18 de julho de 2020

Comentário Bíblico Mensal: Julho/2020 - Capítulo 3 - A Vigilância na Fé Cristã




Comentarista: Emanuel Barros



Texto Bíblico Base Semanal: Lucas 12.35-48

35. Estejam cingidos os vossos lombos, e acesas as vossas candeias.
36. E sede vós semelhantes aos homens que esperam o seu senhor, quando houver de voltar das bodas, para que, quando vier, e bater, logo possam abrir-lhe.
37. Bem-aventurados aqueles servos, os quais, quando o Senhor vier, achar vigiando! Em verdade vos digo que se cingirá, e os fará assentar à mesa e, chegando-se, os servirá.
38. E, se vier na segunda vigília, e se vier na terceira vigília, e os achar assim, bem-aventurados são os tais servos.
39. Sabei, porém, isto: que, se o pai de família soubesse a que hora havia de vir o ladrão, vigiaria, e não deixaria minar a sua casa.
40. Portanto, estai vós também apercebidos; porque virá o Filho do homem à hora que não imaginais.
41. E disse-lhe Pedro: Senhor, dizes essa parábola a nós, ou também a todos?
42. E disse o Senhor: Qual é, pois, o mordomo fiel e prudente, a quem o senhor pôs sobre os seus servos, para lhes dar a tempo a ração?
43. Bem-aventurado aquele servo a quem o seu senhor, quando vier, achar fazendo assim.
44. Em verdade vos digo que sobre todos os seus bens o porá.
45. Mas, se aquele servo disser em seu coração: O meu senhor tarda em vir; e começar a espancar os criados e criadas, e a comer, e a beber, e a embriagar-se,
46. Virá o senhor daquele servo no dia em que o não espera, e numa hora que ele não sabe, e separá-lo-á, e lhe dará a sua parte com os infiéis.
47. E o servo que soube a vontade do seu senhor, e não se aprontou, nem fez conforme a sua vontade, será castigado com muitos açoites;
48. Mas o que a não soube, e fez coisas dignas de açoites, com poucos açoites será castigado. E, a qualquer que muito for dado, muito se lhe pedirá, e ao que muito se lhe confiou, muito mais se lhe pedirá.

Momento Interação

O propósito da vigilância é o de guardar, o de manter-se acordado e de pé ante tudo o que possa nos furtar ou arrancar da posição firme em que nos encontramos. É exigido portanto daquele que vigia que esteja em atitude de alerta permanente, para que possa detectar os perigos que o rodeiam, e que não raro se encontram em seu próprio interior. Outra atitude importante para o que vigia é a de prudência. Sem prudência é impossível haver uma vigilância que seja eficaz.

A prudência nos leva a nos desviarmos do mal – a evitar o confronto direto em provocações incitadas pelo Inimigo para que percamos a nossa paz. A vigilância requer também que sejamos sóbrios, porque como poderíamos vigiar eficazmente estando embriagados e com nossa capacidade de observação prejudicada por estados de consciência alterados? Precisamos também ser disciplinados e criteriosos, para que sejamos determinados e constantes em nosso procedimento para preservar o bom depósito da fé que nos foi confiado por Deus para ser guardado. E ainda necessitamos de sabedoria para discernir entre o que é bom e o que é mau; entre o que é correto e incorreto; entre o vil e o precioso, de forma a tomarmos as decisões adequadas a cada situação que somos chamados a viver.
Por se encontrar numa guerra constante, de muitas batalhas e sem tréguas contra os poderes das trevas, o crente, como bom soldado de Cristo, deve estar sempre vigilante em seu posto, de maneira a não livrar somente a sua alma como também a de muitos que se encontrarem na mesma esfera da sua atuação. Esta é uma vigilância para usar com autoridade e poder todas as armas espirituais e componentes da armadura espiritual, quer de ataque (espada da Palavra de Deus, etc) ou de defesa (escudo da fé etc), sempre que for necessário. Esta é uma luta para ser vencida de joelhos e em oração constante no Espírito Santo.

E assim também nós necessitamos de vigilância e oração para não negarmos a Jesus não somente em nossas atitudes como em nossas ações, em relação aos mandamentos que Ele nos tem dado em Sua Palavra. Necessitamos de vigilância para perseverar até o fim, e por isso somos alertados pelo Senhor a termos todo o cuidado e empenho e vigilância especialmente para que sejamos achados dignos de sermos arrebatados por Ele em sua volta. Um grande peso de responsabilidade recairá sobre todos os crentes que ainda estiverem vivendo neste mundo por ocasião da proximidade do dia do arrebatamento da Igreja, porque são diversos os alertas da Palavra de Deus quanto à necessidade de santificação para que sejamos arrebatados.

Introdução

O ensino sobre a vigilância é constante no ministério de Jesus (Mt 26.41 ver Ef 6.18). Já vimos que a palavra “vigiar” significa: “estar atento”. O contrário da palavra “vigiar” é justamente “dormir” (Mc 14.37; Ef 5.14; Rm 13.11). Do ponto de vista bíblico, o sono espiritual, tem conotação negativa, pois leva o homem a um estado de invigilância. Jesus falou disto quando disse: “Vigiai, pois, porque não sabeis quando virá o senhor da casa; se à tarde, se à meia-noite, se ao cantar do galo, se pela manhã, para que, vindo de improviso, não vos ache dormindo” (Mc 13.35,36). Foi quando as dez virgens cochilaram que chegou o esposo “E, tardando o esposo, tosquenejaram todas, e adormeceram” (Mt 25.5). A “demora” da volta de Cristo se constitui num teste de resistência e fidelidade para aqueles que professam segui-lo. Por isso, somos exortados a perseverança (Mt 24.13; Lc 8.15; Rm 2.7; 1ª Tm 4.16; Ap 3.10-11). Devemos também exorta-nos uns aos outros (Hb 10.25).

I. Vigilância contra o Pecado

Conhecer e obedecer a Palavra de Deus nos ajuda a andar de maneira digna, protegendo-nos do pecado. Enquanto estamos discutindo a importância de conhecer a doutrina direita antes dever bem, vamos ver uma maneira conhecer a Bíblia nos ajuda a andar de maneira digna: protege-nos do pecado. De vez em quando você pode ouvir as pessoas que têm uma atitude fatalista em relação ao pecado, dizendo: "Eu não poderia me ajudar" ou "O Diabo me fez fazer isso." Tais desculpas são tolos para os cristãos para fazer uma vez que Deus nos deu os meios para resistir à tentação.

O salmista disse: "Tua palavra que eu tenho valorizado no meu coração, para eu não pecar contra Ti" (Sl 119.11). Sem conhecimento, estamos indefesos e vulneráveis. Sabendo-verdade de Deus por estudo e por nós aplicativo permite a dizer não ao pecado e sim a justiça. Qualquer pessoa que coloca sua fé em Jesus Cristo, mas que não guarda a Palavra de Deus constantemente na vanguarda de sua mente vai encontrar-se aprisionado em pecado novamente e novamente. Embora devemos conhecer a Palavra de Deus para nos defender contra o pecado e obedecer a vontade de Deus, há um perigo. Uma vez que sabemos Sua verdade, que são responsabilizados por aquilo que sabemos.

Pedro 2.21 fala de apóstatas, aqueles que sabiam a respeito de Jesus Cristo, mas retornou à sua antiga vida sem nunca comprometendo-se a Ele: "Seria melhor para eles não terem conhecido o caminho da justiça, do que, conhecendo-o, afastar-se do santo mandamento que lhes." Tiago 4.17 diz: "Para aquele que sabe a coisa certa a fazer, e não fazê-lo, a ele que é o pecado." Então não saber é melhor do que saber e não obedecer. O que é melhor, é claro, é saber a Palavra e obedecê-la, porque é o nosso alimento espiritual: "Como crianças recém-nascidas, muito para que o leite puro da palavra, para que por ele vos seja dado crescimento no que diz respeito à salvação" (1 Pe 2.2). Para um cristão, negligenciando a Palavra é a fome espiritual.

II. Vigilância em Tempos de Apostasia

Um cristão vigilante é uma pessoa que tem plena consciência das realidades espirituais da sua vida em Cristo, e obtem a motivação e fôrça para a sua vida dessa fonte divina. Êle tem também consciência dos perigos espirituais contidos no reino oposto de Satanás, e resiste-lhes activamente. Tal batalha trava-se no reino espiritual das nossas vidas, pois nós não lutamos contra carne e sangue, mas sim contra um poder espiritual hostil e seus malévolos princípios (Ef 6.12). Quanto mais nos lembrarmos da realidade desse outro mundo invisível, mais vigilantes devemos estar. Quanto mais inclinados estivermos para o mundo secular, menos vamos considerar as realidades espirituais, desprezando assim ordenar as nossas vidas de harmonia com elas. Estar vigilante no sentido bíblico, requere que os nossos olhos estejam abertos a certas realidades e que tal conhecimento determine as nossas decisões e ações. Há três perspectivas espirituais que todo o cristão vigilante deve conhecer. O aumento do conhecimento dessas perspectivas habilitá-lo-á afinar a sua compreensão e a determinar quais as ações mais apropriadas:

A primeira é uma perspectiva dirigida para o alto, pois nós devemos manter sempre os  olhos no Senhor Jesus para O podermos seguir e caminhar segundo os mandamentos da Sua Palavra: “Ponhamos de parte todo o peso e o pecado que tão facilmente nos enreda, e corramos com perseverança a corrida que está à nossa frente, olhando para Jesus, o autor e consumador da nossa fé” (Hb 12.12). Os pecados e as preocupações e cargas que trazemos às costas podem facilmente perturbar o nosso relacionamento com Ele, e devem ser confessados e abandonados se desejarmos uma dedicação verdadeira ao nosso Guia e Salvador. Devemos ter constantemente em mente que Ele pode regressar a qualquer momento para pedir contas aos Seus discípulos das suas vidas depois de convertidos (Mc 13.33-37; Rm 14.10-12). Quando Cristo nos mostra o caminho na Sua Palavra e O seguimos diariamente, então faremos obras próprias de arrependimento, evitando assim a possibilidade de comparecermos de mãos vazias perante o trono do Seu julgamento (1 Co 3.9-16).

A segunda perspectiva é uma perspectiva dirigida ao interior, e diz respeito a um exame contínuo de nós próprios, de forma a podermos verificar sob a direção do Espírito Santo, se existe algum fermento de pecado nas nossas vidas (1 Co 5.6-8). Davi orou: “Sonda me ó Deus e conhece o meu coração; prova-me e conhece os meus pensamentos; vê se existe em mim algum caminho mau e guia-me no caminho eterno” (Sl 139.23,24). Nós devemos acautelar-nos constantemente contra más atitudes e pensamentos que podem entrar nos nossos corações. Para o podermos fazer, devemos considerar cautelosamente tudo quanto lemos e vemos, que espécie de conversação usamos e qual a natureza das nossas amizades. “Vigiai e orai para não entrardes em tentação. O espírito por certo está pronto mas a carne é fraca” (Mt 26.41).

A terceira perspectiva, que devemos adotar, é dirigida ao exterior. A este respeito devemos considerar dois aspectos: Devemos poder discernir a necessidade espiritual de outras pessoas e fazer o necessário para lhes proclamar o evangelho de Cristo. Jesus disse: “Levantai os olhos e olhai para os campos, pois eles já estão brancos para a ceifa… De verdade a ceifa é abundante, mas os ceifeiros são poucos “(Jo 4.35; Mt 9.37). Nós devemos dedicar-nos ao serviço do Senhor e suprir as necessidades espirituais de outras pessoas. E, desta maneira, podemos fazer colheita para o Seu reino.
O outro aspecto desta terceira perspectiva, é tomarmos nota das estratégias e falsos ensinamentos do inimigo e evitarmos ser apanhados por armadilhas malignas através da sua astuta decepção. Os ignorantes que estão a seguir o mau caminho devem ser avisados, cuidando nós ao mesmo tempo de nós mesmos para não sermos enganados: “Irmãos, se algum homem for surpreendido n’alguma ofensa, vós que sois espirituais encaminhai êsse num espírito de mansidão, olhando por vós mesmos para que não sejais também tentados” (Gl 6.1). “Portanto, que aquele que pensa estar de pé tenha cuidado e não caia” (1 Co 10.12). Nós devemos confiar diariamente que o Senhor Jesus nos proteja contra as artimanhas do diabo, e procurar não perder a nossa perspectiva espiritual, pois isso levar-nos-ia a cair por não conhecermos as estratégias do inimigo.

III. Vigilância Sempre

O texto de Marcos 13.37 é muito enfático: “O que, porém, vos digo, digo a todos: vigiai”. A ordem para vigiar não está apenas no ensino de Jesus. Encontra-se também em Paulo, tanto no discurso dirigido aos presbíteros de Éfeso (At 20.31) como nas cartas endereçadas aos Coríntios (1 Co 16.13) e aos Tessalonicenses (1 Ts 5.6). Aos cristãos judeus expulsos de Jerusalém e espalhados pelo Ponto, pela Galácia, Capadócia, Ásia e Bitínia, Pedro escreve: “Sede sóbrios e vigilantes” (1 Pe 5.8) A igreja em Sardes recebe a mesma exortação (Ap 3.2). Depois de glorificado Jesus declarou que é: “bem-aventurado aquele que vigia...” (Ap 16.15). É exigido daquele que vigia atitude de alerta permanente (1 Ts 5.6; Rm 13.11). A vigilância na fé cristã pode ser entendida o ato de permanecer acordado (Lc 12.36- 38; 1 Ts 5.6). Estar alerta e acordado tem como objetivo evitar o comportamento negligente ou indolente que pode levar alguém a cair em alguma cilada ou ceder a alguma tentação que acaba enfraquecendo sua fé em Cristo (Mt 24.42; 25.13; 26.41; 1 Co 16.13; 1 Ts 5.6; 1 Pe 5.8; Ap 3.2; 16.15). Todos nós precisamos de vigilância espiritual, e são inúmeras as recomendações bíblicas acerca da importância da vigilância constante para o crente. Diariamente somos submetidos a diversas tentações, e diante disso o conselho Jesus é: “Vigiai e orai, para que não entreis em tentação” (Mt 26.41).

Conclusão

Ter consciência dos perigos espirituais contidos no reino oposto de Satanás, e resiste-lhes ativamente. Tal batalha trava-se no reino espiritual das nossas vidas, pois nós não lutamos contra carne e sangue, mas sim contra um poder espiritual hostil e seus malévolos princípios (Ef 6.12). Quanto mais nos lembrarmos da realidade desse outro mundo invisível, mais vigilantes devemos estar. Acerca disso Paulo diz: “Porque não ignoramos os seus ardis” (2 Co 2.11). Pedro também afirmou que: “o diabo […] anda em derredor, bramando como leão, buscando a quem possa tragar” (1 Pe 5.8). Quanto mais inclinados estivermos para o mundo secular, menos vamos considerar as realidades espirituais, desprezando assim ordenar as nossas vidas de harmonia com elas. Estar vigilante no sentido bíblico, requer que os nossos olhos estejam abertos a certas realidades e que tal conhecimento determine as nossas decisões e ações.



Sugestão de Leitura da Semana: GOMES, Eliezér. Maturidade Espiritual. São Paulo: Evangelho Avivado, 2019.

sábado, 11 de julho de 2020

Comentário Bíblico Mensal: Julho/2020 - Capítulo 2 - Vivendo em Constante Vigilância




Texto Bíblico Base Semanal: 1 Pedro 5.1-10

1. Aos presbíteros, que estão entre vós, admoesto eu, que sou também presbítero com eles, e testemunha das aflições de Cristo, e participante da glória que se há de revelar:
2. Apascentai o rebanho de Deus, que está entre vós, tendo cuidado dele, não por força, mas voluntariamente; nem por torpe ganância, mas de ânimo pronto;
3. Nem como tendo domínio sobre a herança de Deus, mas servindo de exemplo ao rebanho.
4. E, quando aparecer o Sumo Pastor, alcançareis a incorruptível coroa da glória.
5. Semelhantemente vós jovens, sede sujeitos aos anciãos; e sede todos sujeitos uns aos outros, e revesti-vos de humildade, porque Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes.
6. Humilhai-vos, pois, debaixo da potente mão de Deus, para que a seu tempo vos exalte;
7. Lançando sobre ele toda a vossa ansiedade, porque ele tem cuidado de vós.
8. Sede sóbrios; vigiai; porque o diabo, vosso adversário, anda em derredor, bramando como leão, buscando a quem possa tragar;
9. Ao qual resisti firmes na fé, sabendo que as mesmas aflições se cumprem entre os vossos irmãos no mundo.
10. E o Deus de toda a graça, que em Cristo Jesus nos chamou à sua eterna glória, depois de havemos padecido um pouco, ele mesmo vos aperfeiçoe, confirme, fortifique e estabeleça.
11. A ele seja a glória e o poderio para todo o sempre. Amém.

Momento Interação

Os apóstolos sempre fizeram sérias advertências no sentido da vigilância, da perseverança, da santificação, da oração, da comunhão, do amor e de todos os deveres que são impostos à própria condição de ser um filho de Deus.Isto porque sendo um fato consumado que um filho de Abraão deve praticar as obras de Abraão, fica bem claro que um filho de Deus deve praticar as obras de Deus.

O dever de ser fiel e de frutificar está afirmado de modo muito claro na parábola das dez virgens e na dos talentos. Nas quais aprendemos que a falta total de empenho em diligência produzirá um dano eterno longe da presença de Deus. Então que todo crente lance fora o pensamento perverso que é possível agradar a Deus e viver como um verdadeiro crente, enquanto se é negligente quanto aos deveres ordenados pelo Senhor em Sua Palavra. Não é possível agradar ao Senhor enquanto se ama ao mundo e o pecado. Não há para Deus algo como um crente pela metade, assim como não há uma filiação pela metade, pois ou ela é plena ou não há nenhuma filiação.

De igual modo não é aceitável ao Senhor uma santificação sem constância. Uma visão de que é possível ser um crente aprovado enquanto não se vive de modo aprovado em busca de um crescimento que seja diário. Se por um lado sabemos que a nossa salvação é eterna e segura, não devemos por outro lado, descuidar do dever que nós é imposto, de vivermos como filhos amados, perseverando até o fim, de modo a agradar ao Senhor e a termos a plena certeza daquilo que conquistamos pela graça mediante a fé. O Senhor nos alerta desde o céu quanto a isto. A trombeta de alerta soa continuamente pela Palavra nos avisando do perigo que há num viver negligente e desordenado, condescendente quanto ao pecado.

Introdução

Além da fragilidade humana, o crente precisa vigiar também porque “...o diabo, vosso adversário, anda em derredor, bramando como leão, buscando a quem possa tragar” (1ª Pd 5.8). Toda tentação é proveniente da própria natureza humana (1 Co 10.13; Tg 1.13-15), todavia, o principal agente da tentação é Satanás (Mt 4.3; Lc 4.2; 1 Ts 3.5; Tg 4.7). Precisamos estar vigilantes e fortalecermo-nos no Senhor a fim de vencer as batalhas espirituais, que somos submetidos (Ef 6.10-18). Jesus exortou os crentes de Esmirna a serem fiéis até a morte, mesmo diante das tentações do diabo (Ap 2.10). Da mesma forma, falou aos crentes de Filadélfia, dizendo: “Eis que venho sem demora; guarda o que tens, para que ninguém tome a tua coroa” (Ap 3.11). A necessidade da vigilância espiritual se dá também pelo fato de ser o retorno de Cristo um evento repentino. Diversas vezes, Jesus exortou os seus discípulos sobre isso (Mt 24.36,42,44; 25.13; Mc 13.33; Lc 12.46). Infelizmente, não são poucos aqueles que têm a promessa do Senhor como tardia, ao ponto de desacreditarem dela (2 Pe 3.4). Todavia, Jesus nos assegurou que viria “sem demora” (Ap 3.11; 22.12,20). A Bíblia nos exorta a estarmos vigilantes para não sermos pegos de surpresa e sermos achados dormindo naquele dia (Mc 13.36; Lc 21.34).

I. Vigilância, Zelo e Prudência

Sabendo da fragilidade humana, Jesus exortou os apóstolos a estarem vigilantes, para vencerem as tentações (Mt 26.41; Mc 14.38). Fomos perdoados e libertos dos nossos pecados (1 Jo 2.12; Rm 6.22), todavia, ainda não estamos livres da presença do pecado na nossa natureza humana. Isto somente se dará quando nosso corpo for glorificado, por ocasião do arrebatamento da Igreja (1 Co 15.51-54). Precisamos viver vigilantes, a fim de não sermos vencidos pelo pecado (Rm 6.11,12; 1 Co 15.34). Vigiar significa “observar, prestar atenção”. O verbo “vigiar” traduz pelo menos cinco palavras hebraicas no Antigo Testamento e outras cinco palavras gregas no Novo Testamento. Na Bíblia a palavra “vigiar” é aplicada em diferentes contextos. Mas o mais importante para a vida prática cristã é aquele sentido em que vigiar implica na ideia de ficar acordado, estar alerta o tempo todo com o objetivo de evitar o comportamento negligente ou indolente que pode levar alguém a cair em alguma cilada ou ceder a alguma tentação que acaba enfraquecendo sua fé em Cristo (cf. Mt 24.42; 25.13; 26.41; 1 Co 16.13; 1 Ts 5.6; 1 Pe 5.8; Ap 3.2; 16.15). Todos nós precisamos de vigilância espiritual. São inúmeras as recomendações bíblicas acerca da importância da vigilância constante para o crente. Diariamente somos submetidos a diversas tentações, e diante disso o conselho do Senhor Jesus é: “Vigiai e orai, para que não entreis em tentação“ (Mt 26;41).

II. A Importância da Vigilância Espiritual

Diversas vezes durante seu ministério, o Senhor Jesus Cristo falou sobre essa verdade. Muitas parábolas de Jesus tratam exatamente acerca da questão da vigilância espiritual. Uma dessas parábolas é a Parábola dos Dois Servos (Mt 24.41-48). Nessa parábola Jesus contrasta o comportamento de um bom servo com o comportamento do mau servo. O bom servo, na ausência de seu senhor, procura obedecer e cumprir diligentemente o que lhe fora ordenado. Ele se ocupa de seu trabalho com constante vigilância sabendo que tão logo seu senhor retornará. Já o mau servo não aprecia a vigilância. Ele vive como se nunca terá que prestar contas ao seu senhor. Mas certamente o dia da prestação de contas chegará, e diante do retorno de seu senhor, o servo ruim será levado ao castigo. A vigilância espiritual é necessária aqui e agora, mas ela possui implicações escatológicas. Devemos estar sempre vigilantes esperando o retorno de nosso Senhor Jesus.

Devemos conduzir nossa vida cotidiana com prudência sabendo que tão logo estaremos diante do nosso Deus prestando contas a ele acerca da nossa mordomia cristã; acerca do modo como administramos os recursos e os dons que Ele nos deu; e sobre como consideramos a sua vontade e obedecemos as suas ordens. O apóstolo Pedro escreve que devemos proceder como “bons despenseiros da multiforme graça de Deus” (1 Pe 4.10). O apóstolo Paulo também exorta acerca desse mesmo princípio (1 Co 4.1,2). Além disso, quanto mais tivermos ciência da vontade do Senhor, mais seremos cobrados acerca de nossa obediência e postura de prudência e vigilância (Lc 12.41-48).

III. A Vigilância Espiritual e a Volta de Jesus Cristo

A mensagem central da parábola de Jesus aqui citada, de fato aponta para a realidade de seu retorno. Mas quando isso acontecerá? A Bíblia responde esta pergunta dizendo que o dia desse evento pertence somente a Deus (Mt 24.36). O próprio Jesus falou através de outras parábolas sobre essa questão. Na Parábola do Ladrão de Noite, Jesus comparou o dia de sua vinda à chegada imprevisível de um ladrão que assalta uma casa à noite (Mt 24.42-44). Jesus diz que se um pai de família soubesse em que momento da madrugada o ladrão viria, ele certamente vigiaria e não deixaria que sua casa fosse roubada. Da mesma forma, diz o Senhor Jesus, “o Filho do Homem há de vir à hora em que não penseis” (Mt 24.44). Então como podemos estar aguardando adequadamente esse momento? Vigiando, é claro! Conforme o apóstolo Paulo escreve, através da prudência e da vigilância espiritual o crente não será surpreendido com o retorno de Cristo (1 Ts 5.1-4). Ele não sabe quando o retorno de seu Senhor ocorrerá, mas ele percebe os sinais que revelam que esse dia se aproxima e permanece preparado o tempo todo.

Conclusão

O crente necessita da ajuda do Senhor, da cooperação divina, pois, “se o Senhor não guardar a cidade, em vão vigia a sentinela” (Sl 127.1). Para vigiar, precisamos nos voltar ao Senhor e clamar pela Sua ajuda, pela Sua orientação. Eis porque os meios de santificação são absolutamente indispensáveis para que possamos ter uma vida de vigilância. A vigilância é tarefa nossa, mas devemos sempre lembrar que somos, em tudo, dependentes do Senhor. O  segundo  deles  é  que  a  vigilância  está  associada  a  uma  vida  de  oração,  inclusive  a  oração intercessória,  como  vemos  em  Efésios 6.18.  A  vigilância  deve  sempre  ser  acompanhada  da  oração,  oração  que seja  perseverante  e  que,  inclusive,  envolva  a  intercessão  em  favor  dos  santos.  A  vigilância  não  é individualista,  mas  também  deve  ser  uma  atitude  que  leve  em  conta  o  próximo,  ainda  que  seja  por intermédio da intercessão.



Sugestão de Leitura da Semana: CAMPOS, Ygor. Panorama Bíblico Volume 5 - Os Evangelhos. São Paulo: Evangelho Avivado, 2017.

quinta-feira, 9 de julho de 2020

A Cura do Homem Hidrópico no Sábado




Lucas registra a cura de um homem hidrópico realizado por Jesus no sábado. Um dos principais dos fariseus convida Jesus a sua casa para comer pão, imediatamente aparece um homem enfermo com hidropisia, porém, o aparecimento desse homem era mais uma tentativa de os fariseus acusarem Jesus de quebrar o sábado.

Nesse presente texto, queremos fazer uma síntese de como Jesus agiu diante dos seus opositores e os princípios práticos contidos na passagem para a vida cristã.

Jesus na casa do fariseu

Aconteceu que, ao entrar ele num sábado na casa de um dos principais fariseus para comer pão, eis que o estavam observando (Lc 14.1).

Jesus foi convidado por um dos principais fariseu para comer no sábado na sua casa. Compartilhar refeições era algo importante na vida dos judeus e tonou-se uma parte importante da igreja primitiva (At 2.46). No Oriente, fazer as refeições juntos são um símbolo de amizade e um sinal de compromisso uns com os outros[1].  

Os fariseus viam Jesus como alguém que quebrava a lei, por curar no sábado, portanto trabalhava, e quebrava a lei. Segundo Barklay, “a lei tinha suas regras meticulosas e detalhadas a respeito das refeições no sábado. É obvio, não se podia cozinhar em tal dia, já que isso teria sido trabalhar. Devia-se cozinhar na sexta-feira; e se era necessário manter a comida quente, devia faze-lhe em tal forma que não cozinhasse mais”[2]. Dessa forma, “os fariseus e escribas” consideravam essas regras como religião verdadeira.

Lucas destaca que eles estavam observando Jesus, talvez para detectar qualquer violação da observância do sábado. Sobre isso, Henry comenta: 

“Este fariseu, como outros, parece que teve má intenção ao receber Jesus em sua casa, mas o nosso Senhor isso não lhe impedia de curar um homem, embora soubesse que suscitaria um murmúrio por fazê-lo no dia do repouso”[3]

O proceder de Jesus ensina-nos a prudência como ele se comportava diante de seus inimigos. Geralmente, as pessoas tendem a perder a paciência diante disso, mas Jesus permanecia sereno.

Jesus cura o homem hidrópico no sábado

Ora, diante dele se achava um homem hidrópico. Então, Jesus, dirigindo-se aos intérpretes da Lei e aos fariseus, perguntou-lhes: É ou não é lícito curar no sábado? Eles, porém, nada disseram. E, tomando-o, o curou e o despediu (Lc 14.2-4).

Nesse trecho, podemos destacar três pontos nessa passagem. Primeiro, Jesus diante de um homem hidrópico. Hidrópico ou hidropisia é uma doença que faz com que o corpo de uma pessoa inche bastante[4]. É curioso o fato de esse homem aparecer na casa do anfitrião, talvez os fariseus estavam preparando uma cilada a Jesus, por isso a “observação” (Lc 14.1). Segundo, a defesa de Jesus curar no sábado. Os escribas e fariseus consideravam-se como autoridades da lei, eles esperavam que Jesus curando esse homem no sábado caísse em seu poder. Diante disso, Jesus transferiu a responsabilidade a eles através de uma pergunta: “É ou não é lícito curar no sábado?” A lei condenava tais atos de misericórdia? O preconceito deles e propósitos malignos os impediram de admitir. Terceiro, Jesus curou o homem. Jesus estava consciente que o homem hidrópico não era partidário daquela trama dos fariseus, porém um inocente sofredor que estavam sendo usado pelo anfitrião da casa. Segundo Beacon, “o Mestre, sábio e bondoso como sempre, o curou e o despediu”[5]. Dessa forma, fica evidente a bondade de Cristo diante do problema daquele homem e o legalismo dos escribas e fariseus.

Jesus como intérprete da lei

A seguir, lhes perguntou: Qual de vós, se o filho ou o boi cair num poço, não o tirará logo, mesmo em dia de sábado? A isto nada puderam responder (Lc 14.5,6).

Jesus faz uma pergunta que os fariseus não foram capazes de responder. Eles sabiam que Jesus estava certo ao curar no sábado, na lei era permitido resgatar um animal quando caia em algum poço – algo que era muito comum na Palestina e muitas vezes causavam acidentes (Ex 21.33). Esses doutores da lei causavam mais preconceitos com suas doutrinas cheias de tradições humanas do que agir com misericórdia, levando a desconsiderar as necessidades dos seres humanos na época. Portanto, Jesus como intérprete da lei deixou claro que não estava quebrando o quarto mandamento, mas cumprindo, a lei não proibia ajudar o próximo. 

O texto deixa claro que nada a isto eles puderam responder (Vv 4). Jesus restaurou a saúde do homem que estava com hidropisia e silenciou os seus inimigos. Eles não podiam responder porque não tinham resposta alguma que incriminasse Jesus. Depois da cura, Jesus abriu uma brecha entre eles, aumentando assim a determinação daqueles homens de destruí-lo. Assim, podemos aprender que o legalismo leva as pessoas a obedecer mais às tradições humanas, Jesus se opôs a isso e nós devemos semelhantemente.

Conclusão

O que podemos aprender com essa passagem? Primeiro, as pessoas estão mais preocupadas em salvar animais que os seres humanos. Segundo, a prudência de Jesus perante os seus inimigos. Terceiro, o quarto mandamento foi um dia criado para praticar boas ações ao próximo. Quarto, o legalismo torna-nos insensíveis diante das necessidades das pessoas.    

 

Sidney Muniz

 

Notas:



[1] Comentário de Warren W. Wierbe - Conciso

[2] Comentário do N.T Barclay

[3] Comentário Bíblico de Matthew Henry

[4] Comentário da Bíblia Shedd

[5] Comentário Bíblico Beacon


sábado, 4 de julho de 2020

Recomendação de Leitura do Mês: A Cruz e o Punhal - David Wilkerson




Por Leonardo Pereira



Grandes histórias trazem-nos encorajamento e grande força para prosseguir com ousadia em nossa caminhada. Histórias estas que são condensadas em obras antológicas são partes de uma literatura clássica que permanece em nosso presente tempo com um precioso valor, especialmente com um objetivo evangelístico e missionário. Existem grandes obras de missão e de evangelismo publicadas em terras brasileiras, mas dentre estas, encontra-se uma que trancendeu os limites das fronteiras nacionais e internacionais, chegando a ser uma obra de estudo para realizar missões evangelísticas. A obra da qual estamos nos referindo é A Cruz e o Punhal, do pastor David Wilkerson, antigo líder da Times Squares Church (Igreja da Times Square  - Nova Iorque - EUA). Esta obra clássica e tão marcante no Brasil e no mundo é a referência da sugestão de leitura da semana do mês de Julho de 2020. Prossigamos em conhecer esta obra com um conteúdo tão riquíssimo e que enche-nos de alegria os nossos corações ao decorre da leitura do ministério evangelístico do pastor David.

O Autor da Obra

David Ray Wilkerson nasceu em 19 de Maio de 1931, na cidade de Hammond, no Condado de Lake, no Estado de Indiana, nos Estados Unidos. Os seus pais eram Pentecostais e viviam num lar cheio de bíblias e orações. O seu avô Jay Wilkerson e o seu pai Kenneth Ann Wilkerson eram evangelistas e exerceram forte influência na vida do pequeno David. Depois que findou os estudos na escola secundária, ingressou no Central Bible College vinculado à Assembleia de Deus, na cidade de Springfield, no Estado do Missouri.

O jovem David iniciou o seu ministério com 14 anos de idade, ministrando diversos sermões. Em 1953, aos 22 anos, casou com Gwen Wilkerson que já conhecia desde a sua adolescência. O casal partilhou a vida comum durante 58 anos até a morte do pastor David Wilkerson em 2011. Da união matrimonial nasceram os filhos: Debbie, Bonnie, Greg e Gary. Depois de casados, David Wilkerson pastoreou diversas igrejas locais nos distritos de Scottdale e Philipsburg, no Estado da Pensilvânia.
Em 1959, aos 28 anos de idade enquanto pastoreava uma Assembleia de Deus, foi impactado com uma matéria veiculada pela Revista Life acerca de menores infratores integrantes da gangue "Dragões" da cidade de Nova York. David Wilkerson cresceu em regiões tranquilas dos Estados Unidos e aquela matéria jornalística parecia inacreditável. Ficou revoltado com os assassinatos cometidos pela gangue. O seu coração ficou cheio de encargo por aqueles jovens, desejava ardentemente apresentar o evangelho de Cristo e resgatar a sociedade nova iorquina.

A Obra e a sua Influência

Nova York era uma desconhecida, exceto por algumas visitas à Estátua da Liberdade. Desconhecia as características do público jovem. Os receios eram muitos, mas o chamado celeste para empreitar uma obra cristã no coração de Nova York era muito consistente. O jovem pastor, realizou vários cultos ao ar livre, ministrando boas novas ao público jovem. O Teen Challenge "Desafio Jovem" foi fundado em 1960. Wilkerson alcançou projeção nacional nos Estados Unidos em 1963, depois da publicação do livro "A Cruz e o Punhal". O livro retrata o início do seu ministério nas ruas violentas de Nova York. Atualmente, é considerado best-seller, com mais de 50 milhões de cópias publicadas em mais de 30 idiomas. Foi considerado um dos 100 livros cristãos mais importantes do Século XX. A Revista Christianity Today incluiu o livro "A Cruz e o Punhal" entre os 50 melhores livros para a formação do leitor evangélico. O reverendo David Wilkerson começou seu ministério em meados de 1958 pregando para pessoas marginalizadas nos subúrbios de Nova Iorque e teve grande sucesso principalmente após a conversão de Nick Cruz que era um chefe de uma temida gangue local. O seu livro autobiográfico A Cruz e o Punhal conta exatamente esse período de sua vida que durou 5 anos.

O Impacto Mundial da Cruz e o Punhal 

O livro virou filme em Hollywood, registrando 50 milhões de espectadores. As filmagens foram fiscalizadas diretamente por David Wilkerson. O ator que interpretou o pastor Wilkerson foi aceito depois de muitas orações e entrevistas. Muitos estudiosos, críticos e historiadores, consideram que o livro "A Cruz e o Punhal" alterou a evangelização do mundo ocidental, inspirando muitos cristãos a testemunharem a sua fé. O movimento Católico-Carismático e o Evangelicalismo-Pentecostal foram muito influenciados pelo best-seller. Em 1967, David Wilkerson iniciou o Youth Crusades (Cruzadas Juvenis) direcionado aos adolescentes de classe média que viviam aborrecidos e inquietos em busca das drogas, da violência e da anarquia. Muitos jovens cristãos demonstraram entusiasmo e consagração ao serviço Cristocêntrico de evangelização. O ministério Teen Challenge (Desafio Jovem) alcançou jovens e adultos em todo o mundo. O impacto mundial do ministério é alvo de pesquisas e documentários, e os seus resultados são impactantes. O Desafio Jovem é o maior, mais antigo e bem sucedido programa de recuperação antidrogas, alcançando mais de 170 centros de atendimento nos Estados Unidos e 250 em todo o mundo.

Por que ler o livro A Cruz e o Punhal?

A leitura deste é recomendada pelo fato de David Wilkerson escrever uma autobiografia de cunho missionário e evangelístico, exortando e incentivando aqueles que amam realizar missões e praticá-la de modo e agradar à Deus e tributar à Ele toda a sua glória. Desde o movimento carismático católico, passando pelos reformados e chegando até os pentecostais, todos os movimentos conhecidos da época como evangélicos foram impactados e influenciados pelos trabalhos missionários de David Wilkerson em Nova Iorque e posteriormente os seus trabalhos de recuperações de jovens dos vícios das drogas e da sua evangelização entre eles. Muito além de ser uma obra contando a sua própria história, o reverendo wilkerson conta a história sobre o desenvolvimento do trabalho de missões em um dos maiores centros urbanos dos Estados Unidos da América e como o Senhor pode utilizar um homem para trazer milhares á sua presença com um coração quebrantado e contrito. Vale muito a pena ler esta obra e ela sem dúvidas nenhuma, é extremamente recomendada como leitura para todos que querem aprender à fazer missões, testemunhar publicamente a sua fé perante á todos e o mais importante, dedicar totalmente sua vida ao Criador e Mantenedor de Todas as Coisas.