terça-feira, 31 de agosto de 2021

Missões - Um Fator Primordial na vida do Cristão

 




Por Leonardo Pereira



O conceito de missionário tem se distorcido ao longo do tempo. Os cristãos de hoje em dia se dividem entre aqueles que “tem chamado missionário” e aqueles que não. Mas é correto pensar dessa forma? É apenas um missionário o que é enviado para um país subdesenvolvido? No dicionário, temos a definição principal de “missão” como a “incumbência que alguém deve executar a pedido ou por ordem de outrem; encargo”. Então, basicamente, ser missionário é cumprir uma ordem que lhe foi dada por alguém que está a frente da missão. Certo? Devemos entender então que, se tudo é feito d’Ele, por Ele e para Ele. A missão é inteiramente d’Ele!

A missão é simples e foi deixada pelo próprio Deus encarnado, Jesus Cristo. E não apenas para aqueles onze que ouviram a mensagem da boca do próprio Messias. Mas para toda a igreja, até a volta do Senhor! Nós chamamos esta conversa de Jesus “A Grande Comissão”. Se analisarmos cuidadosamente, veremos que, se a missão é uma incumbência, a comissão é o ato de incumbir! “Então, Jesus aproximou-se deles e disse: “Foi-me dada toda a autoridade nos céus e na terra. Portanto, vão e façam discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a obedecer a tudo o que eu ordenei a vocês. E eu estarei sempre com vocês, até o fim dos tempos” (Mt 28.19,20).

O que preciso para fazer parte da missão?

A primeira coisa a fazer para ser um missionário é aceitar Jesus e ser batizado em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Mesmo Jesus apenas começou sua missão depois de ser batizado por João Batista (Mt 3.13). É necessário receber o Espírito Santo. É Ele quem dá poder, coragem e autoridade para que a missão seja realizada. Estamos muito enganados ao pensar que essas coisas eram destinadas apenas aos discípulos de Jesus naquele tempo. Como cristãos, somos discípulos do Cristo também, então a mesma palavra é estendida a todos os que crêem n’Ele e pelo Seu nome foram batizados. Quando Jesus diz que algo foi dado aos discípulos “de graça”, diz sobre Si mesmo e sobre a Sua mensagem. Isso passou de um para o outro desde aquela época e se torna presente hoje em nossas vidas junto com a missão que foi deixada há dois mil anos pelo Rei dos Reis.

Começando a missão

Agora que tudo que é necessário para se tornar parte da Grande Comissão de Cristo foi feito, basta ir. Alimentar-se diariamente da Palavra de Deus, orar ao Senhor por orientação e sabedoria e jejuar para estar sempre mais perto d’Ele. Junto com isso, diga a todos o que você pode sobre o perdão dos pecados e as coisas que Jesus fez em sua vida. Anuncie o evangelho (boas novas) a seus pais, irmãos, tios, primos e toda a família. Fale sobre o amor de Cristo pelas pessoas do seu trabalho ou do seu ambiente acadêmico. Não esqueça: faça discípulos! Você não pode só plantar uma semente e se recusar a regá-la para crescer. Claro, não podemos esquecer que existem alguns a quem o Senhor chama para serem enviados para lugares específicos. Como os missionários que vemos indo para outros países. Mas agora, entendendo qual é a missão, sabemos que ser missionário não significa necessariamente ir para a África.

Que Deus, o Pai do Senhor Jesus Cristo, conceda-lhe graça, paz e o poder do Espírito Santo para que todas as missões sejam realizadas até o fim do mundo. Amém!


Davi herdou o pecado?

 




Por Leonardo Pereira



Salmo 51.5 diz: "Eu nasci na iniquidade, e em pecado me concebeu minha mãe". Este versículo é frequentemente arrancado de seu contexto para defender a doutrina da depravação herdada. São muitos os problemas com tal interpretação. Outros textos negam claramente a ideia do pecado herdado (Ez 18.20, por exemplo). Jesus usou as crianças como exemplo da pureza inocente que todos nós precisamos adquirir (Mt 19.13-15). 1 João 3.4 nos diz que o pecado é cometido (não herdado). Romanos 5.12 diz que todos nós participamos da morte que Adão sofreu, não porque herdamos seu pecado, mas porque cometemos nossos próprios pecados. Qualquer interpretação de Salmo 51.5 que sugira depravação herdada contradiz estas afirmações claras da Escritura.

Mas o que Davi está tentando dizer? Salmo 51 é o apelo agoniado de um coração ensanguentado. Davi tinha encarado a feiura de seu próprio pecado. Ele não está falando sobre o pecado de Adão, ou de sua própria mãe. Ele fala sobre "minha iniquidade", "meu pecado" e "minhas transgressões" (Sl 51.2,3). O versículo 4 é uma declaração absoluta de culpa pessoal: "Pequei contra ti, contra ti somente, e fiz o que é mal perante os teus olhos, de maneira que serás tido por justo no teu falar e puro no teu julgar." No versículo 4, encontramos as chaves que precisamos para entender o versículo 5. 1) Davi está usando uma hipérbole, ou figura de linguagem exagerada, para ressaltar a profundidade do seu pecado diante de Deus. O fato é que ele não pecou somente contra Deus. Pecou contra Bate-Seba quando cometeu adultério com ela, contra Urias quando roubou sua esposa e assassinou o esposo inocente, contra Joabe que foi o cúmplice involuntário no assassinato de Urias e de outros soldados (2 Sm 11). 2) Davi está realçando a magnitude de seus pecados contra o Senhor. 3. Ele está reconhecendo a pureza e a justiça de Deus em contraste com seu próprio estado pecaminoso.

É aqui que entra o versículo 5, Davi sente-se tão longe da intimidade com Deus, isto é, como se jamais tivesse estado em comunhão com ele. Quando Davi olha para seus próprios pecados desprezíveis, ele não pode imaginar jamais ter andado com Deus. Salmo 51 não é uma defesa da doutrina humana da depravação herdada, e não empresta nenhum apoio a tais práticas não bíblicas como o batismo dos recém-nascidos. Mas este Salmo é um olhar angustiado para a feiura do .pecado e a profundidade do verdadeiro arrependimento.


sábado, 28 de agosto de 2021

Comentário Bíblico Mensal: Agosto/2021 - Capítulo 5 - Israel no Plano da Redenção da Humanidade

 




Comentarista: Éverton Souza



Texto Bíblico Base Semanal: João 4.6-24

6. E estava ali a fonte de Jacó. Jesus, pois, cansado do caminho, assentou-se assim junto da fonte. Era isto quase à hora sexta.

7. Veio uma mulher de Samaria tirar água. Disse-lhe Jesus: Dá-me de beber.

8. Porque os seus discípulos tinham ido à cidade comprar comida.

9. Disse-lhe, pois, a mulher samaritana: Como, sendo tu judeu, me pedes de beber a mim, que sou mulher samaritana? (porque os judeus não se comunicam com os samaritanos).

10. Jesus respondeu, e disse-lhe: Se tu conheceras o dom de Deus, e quem é o que te diz: Dá-me de beber, tu lhe pedirias, e ele te daria água viva.

11. Disse-lhe a mulher: Senhor, tu não tens com que a tirar, e o poço é fundo; onde, pois, tens a água viva?

12. És tu maior do que o nosso pai Jacó, que nos deu o poço, bebendo ele próprio dele, e os seus filhos, e o seu gado?

13. Jesus respondeu, e disse-lhe: Qualquer que beber desta água tornará a ter sede;

14. Mas aquele que beber da água que eu lhe der nunca terá sede, porque a água que eu lhe der se fará nele uma fonte de água que salte para a vida eterna.

15. Disse-lhe a mulher: Senhor, dá-me dessa água, para que não mais tenha sede, e não venha aqui tirá-la.

16. Disse-lhe Jesus: Vai, chama o teu marido, e vem cá.

17. A mulher respondeu, e disse: Não tenho marido. Disse-lhe Jesus: Disseste bem: Não tenho marido;

18. Porque tiveste cinco maridos, e o que agora tens não é teu marido; isto disseste com verdade.

19. Disse-lhe a mulher: Senhor, vejo que és profeta.

20. Nossos pais adoraram neste monte, e vós dizeis que é em Jerusalém o lugar onde se deve adorar.

21. Disse-lhe Jesus: Mulher, crê-me que a hora vem, em que nem neste monte nem em Jerusalém adorareis o Pai.

22. Vós adorais o que não sabeis; nós adoramos o que sabemos porque a salvação vem dos judeus.

23. Mas a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque o Pai procura a tais que assim o adorem.

24. Deus é Espírito, e importa que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade.

Momento Interação

A maioria de nós, se não todos, já sofreu por familiares ou amigos que não depositam sua fé em Jesus. Deus age de diversas maneiras na vida das pessoas, mas, mesmo assim, muitas continuam resistentes à Sua mensagem. O apóstolo também passou por essa experiência. Sua profunda oração era pela salvação dos seus compatriotas judeus. (Rm 10.1) Ao longo dos Evangelhos, percebemos que os israelitas possuíam uma profunda religiosidade externa; todavia, uma compreensão dos requisitos da justiça divina estava ausente (veja, por exemplo, as censuras de Jesus aos escribas e fariseus, em Mateus 23. Assim, Israel não se sujeitou à justiça de Deus – não obedeceu às Suas ordens para que cressem (Rm 6.17), procurando agir do próprio jeito (Rm 10.2-4). A despeito da boa vontade de Paulo (10.1) e dos braços estendidos de Deus, Israel não creu. Deus, muitas vezes, e de muitas maneiras, falou a Israel. Deu-lhes sua Lei. Enviou-lhes Seus profetas. Manifestou Seu poder providente e Sua libertação compassiva. Israel, porém, respondeu ao Senhor com rebeldia e deliberada ingratidão. As Escrituras haviam longamente testemunhado a respeito da vinda do Senhor Jesus (Jo 5.39) Paulo declara que “o fim da lei é Cristo, para justiça de todo aquele que crê” (Rm 10.4).

Introdução

Como israelita crente em Jesus, o apóstolo Paulo sentia grande tristeza no coração por seus compatriotas não compartilharem sua fé. Nos tempos do Antigo Testamento, Deus escolheu a nação de Israel como Seu povo especial (Êx 19.5,6). Alianças foram seladas, leis e promessas, recebidas de Deus. Os patriarcas e o próprio Messias haviam sido israelitas (Rm 9.1-5). Apesar de todas as vantagens desfrutadas pelos judeus segundo a carne, a nação tragicamente havia rejeitado a Cristo. Isso significava que as promessas divinas não se cumpririam? O Senhor havia falhado com Israel? Haveria ainda um futuro para a nação, ou sua rejeição da fé seria final? E como as respostas a essas perguntas afetam a nós, cristãos gentios.

Existem intensos debates teológicos sobre o texto que está entre os capítulos 9 e 11 da Epístola aos Romanos. Estes capítulos tratam dos papéis dos judeus e dos gentios na História. Nos primeiros capítulos da epístola (Rm 1.1-3.20). Paulo mostra que tanto os judeus quanto os gentios são totalmente pecadores. Entre os capítulos 3 (vers. 20) e 8 (vers. 39), o Apóstolo ensina que ambos, judeus e gentios, encontram a salvação do mesmo modo. A partir do capítulo 9, Paulo concentra sua exposição sobre os papeis distintos de judeus e gentios no plano de Deus para a História. Em Romanos 9:1-29, o Apóstolo fala da soberana eleição divina, depois prossegue falando sobre a incredulidade e fé de Israel (Rm 9.30-11.10) abordando as oportunidades que Israel teve, o fato de que eles rejeitaram a justiça de Deus e, por último, o futuro de Israel. Depois, ele conclui com exortações para judeus e gentios (Rm 11.11-36).

I. Jesus provém da Tribo de Judá

Jesus é chamado o leão da tribo de Judá porque ele é o rei e sua família era da tribo de Judá. Deus tinha prometido que o salvador viria de Judá. O leão representa a força e o poder. Em Apocalipse 5.5, Jesus é descrito como o leão da tribo de Judá. Essa é uma referência a uma profecia de Jacó sobre a descendência de seu filho Judá. Cada um dos filhos de Jacó deu seu nome a uma tribo de Israel. No seu leito de morte, Jacó profetizou que Judá seria como um leão, que reina e tem poder (Gn 49.9,10). O leão é o rei dos animais. Por causa de sua força, o leão domina sobre seu território e todos os animais o temem. Por isso, o leão se tornou símbolo da realeza. Jacó profetizou que de Judá sairia um reinado eterno. Pelos seus pais terrenos, Jesus era descendente do rei Davi, que era da tribo de Judá. O reino de Davi terminou mas o reino de Jesus é para sempre! Ele é o verdadeiro leão de Judá, porque todo poder e toda a força pertencem a ele (Fp 2.9-11).

Na Bíblia, o leão é usado muitas vezes para representar força e poder. O leão não tem medo e enfrenta seus inimigos com coragem (Pv 28.1). Ele impõe respeito. Mas a figura do leão nem sempre está associada à nobreza e a coisas boas. Também pode representar a ferocidade e a violência. O leão persegue sua presa com astúcia e ataca sem misericórdia. Sua mordida é fatal. É por isso que a Bíblia diz que o diabo é como um leão que quer nos comer (1 Pe 5.8). Em algumas passagens, o ataque do leão também representa o castigo de Deus. A frase “Leão da tribo de Judá” aparece uma única vez nas Escrituras. No capítulo 5 do livro do Apocalipse, lemos sobre o livro selado com sete selos. O texto bíblico diz que ninguém, no céu, na terra e nem debaixo da terra, podia abrir o livro ou mesmo olhar para ele. Então João, que recebeu da parte de Deus as revelações registradas no livro do Apocalipse, ficou desesperado.

Ele chorava muito porque havia percebido que ninguém era digno de abrir o livro e desatar os seus selos. Então um dos anciãos disse a João: “Não chores; eis aqui o Leão da tribo de Judá, a raiz de Davi, que venceu, para abrir o livro e desatar os seus sete selos” (Ap 5.5). Esse versículo que designa Cristo como o Leão da tribo de Judá é uma clara referência a Gênesis 49.9,10. As palavras do ancião ecoam as palavras do patriarca Jacó. Antes de morrer, Jacó abençoou seus doze filhos. Esses filhos deram origem às doze tribos de Israel, que formavam o povo do Senhor. Em sua bênção, Jacó disse: “Você é um leãzinho, ó Judá. Você vem subindo, filho meu, depois de matar a presa. Encurva-se e deita-se como um leão, e como um leão velho; quem o despertará? O cetro não se apartará de Judá, nem o bastão de comando de entre seus pés, até que venha aquele a quem ele pertence; e a obediência das nações é sua” (Gn 49.9,10).

Considerando esse pano de fundo, fica fácil compreender o uso da figura do leão na bênção de Jacó. Ao dar sua benção sobre seus descendentes, Jacó distinguiu Judá, indicando que a tribo proveniente dele, seria aquela que governaria, isto é, o reino seria colocado em Judá. Por esse motivo, o patriarca designa Judá como filhote de leão. A profecia de Jacó foi confirmada posteriormente pela aliança davídica, visto que o rei Davi pertencia à tribo de Judá (2 Sm 7.16). Mas as palavras de Jacó encontram seu cumprido pleno somente em Cristo, o legitimo Leão da tribo de Judá. Assim, a figura do leão era um símbolo adequado para representar a linhagem real davídica da tribo de Judá. Essa linhagem, finalmente, culminou no Messias, Jesus Cristo. Ele é o verdadeiro rei que haveria de vir através dessa tribo, o representante final da casa de Davi. Por isto Ele é adequadamente designado no Apocalipse como o Leão da tribo de Judá.

II. A Salvação vem dos Judeus

Embora a Bíblia hebraica não indique especificamente em qualquer lugar que a descendência matrilinear deva ser utilizada, o Judaísmo rabínico moderno acredita que existam várias passagens no Torá onde isso seja entendido ou insinuado, tais como Deuteronômio 7.1-5, Levítico 24.10 e Esdras 10.2,3. Além disso, há vários exemplos nas Escrituras de gentios se convertendo ao Judaísmo (cf. Rt 1.16) e sendo considerados tão judeus como um judeu étnico. Então, vamos considerar estas três perguntas: Era Jesus um judeu etnicamente? Era Jesus um judeu religiosamente? E então, finalmente, se Jesus era um judeu, por que os cristãos não seguem o Judaísmo?

1) Era Jesus um judeu etnicamente, ou seja, era a sua mãe uma judia? Jesus claramente se identificava com os judeus de Sua época como o Seu povo e tribo, assim como com a religião deles (apesar de corrigir seus erros). Deus propositadamente o enviou a Judá: “Veio para o que era seu (Judá), mas os seus (Judá) não o receberam. Contudo, aos que o receberam (judeus), aos que creram em seu nome, deu-lhes o direito de se tornarem filhos de Deus...” (Jo 1.11,12) e Ele disse claramente: "Vocês, samaritanos, adoram o que não conhecem; nós adoramos o que conhecemos, pois a salvação vem dos judeus" (Jo 4.22). 

O primeiro versículo do Novo Testamento claramente proclama a etnia judaica de Jesus. "Registro da genealogia de Jesus Cristo, filho de Davi, filho de Abraão" (Mt 1.1). É evidente em certas passagens, como Hebreus 7.14: "Pois é evidente que o nosso Senhor descende de Judá", que Jesus descendia da tribo de Judá, da qual tomamos o nome "judeu". E o que dizer de Maria, a mãe de Jesus? Na genealogia de Lucas, capítulo 3, vemos claramente que Maria era uma descendente direta do Rei Davi, o que deu a Jesus o direito de ascender ao trono judaico, bem como demonstrou que Jesus era um judeu etnicamente.

2) Era Jesus um judeu religiosamente? Ambos os pais de Jesus tinham "feito tudo o que era exigido pela Lei do Senhor" (Lc 2.39). Seu tio e tia, Zacarias e Isabel, também eram judeus seguidores fiéis do Torá (Lc 1.6), por isso podemos ver que provavelmente toda a família levava a sua fé judaica muito seriamente. No Sermão da Montanha (Mt 5-7), Jesus sempre afirmou a autoridade da Torá e dos Profetas (Mt 5.17), até mesmo no Reino dos céus (Mt 5:19-20). Ele regularmente frequentava a sinagoga (Lc 4.16), e Seu ensino era respeitado pelos outros judeus de Seu tempo (Lc 4:15). Ele ensinou no templo judaico em Jerusalém (Lc 21.37), e se não fosse um judeu, a Sua ida àquela parte do Templo simplesmente não teria sido permitida (At 21.28-30).

3) Então, se Jesus era judeu, por que é que os cristãos não seguem o Judaísmo? As Leis do Judaísmo foram dadas a Moisés para os filhos de Israel em um pacto sagrado e especial no Monte Sinai, assim como registrado no livro do Êxodo. Nesta aliança, Deus escreveu as Suas leis em tábuas de pedra e Israel foi ordenado a ser obediente em tudo o que lhes tinha sido revelado. Entretanto, esta aliança maravilhosa era apenas um retrato de um pacto novo e melhor que Deus um dia daria ao Seu povo, tanto os judeus quanto os gentios. Os cristãos não seguem o Judaísmo hoje porque a aliança mosaica foi cumprida em Jesus Cristo. Jesus disse: "Não pensem que vim abolir a Lei ou os Profetas; não vim abolir, mas cumprir" (Mt 5.17). E o escritor aos Hebreus escreveu: "Chamando ‘nova’ esta aliança, ele tornou antiquada a primeira; e o que se torna antiquado e envelhecido, está a ponto de desaparecer" (Hb 8.13).

Como cristãos, não mais precisamos seguir a antiga aliança porque ela foi substituída. Temos agora uma melhor aliança, com um melhor sacrifício, administrada por um melhor Sumo Sacerdote! "Portanto, irmãos, temos plena confiança para entrar no Santo dos Santos pelo sangue de Jesus, por um novo e vivo caminho que ele nos abriu por meio do véu, isto é, do seu corpo. Temos, pois, um grande sacerdote sobre a casa de Deus. Sendo assim, aproximemo-nos de Deus com um coração sincero e com plena convicção de fé, tendo os corações aspergidos para nos purificar de uma consciência culpada e tendo os nossos corpos lavados com água pura. Apeguemo-nos com firmeza à esperança que professamos, pois aquele que prometeu é fiel" (Hb 10.19-23).

A Bíblia nos revela que no início, Deus, escolheu um povo para ensinar seus preceitos, sua lei, sua vontade. Devemos nos alegrar, porque através dos escolhidos, a vontade de Deus, de uma forma, ou de outra, chega até nós. Atos dos Apóstolos também, revela que a Salvação é também, para os pagãos, salvo erro meu.  Não se acende uma lamparina debaixo da cama.  Os que estão fora do caminho é que precisam ser resgatados. Não se trata de controvérsia e considero os Judeus, um povo especial.

III. Importa que adorem à Deus em Espírito e em Verdade

Adorar em espírito e em verdade é adorar a Deus de todo coração, com a ajuda do Espírito Santo. A verdadeira adoração vem do coração, não de fatores externos como o lugar, a cerimônia ou palavras repetidas. Adorar em espírito e em verdade é adorar com sinceridade e fé (Jo 4.23,24). Adorar é mostrar amor, respeito e dedicação a Deus. Rituais como ir à igreja e cantar louvores ajudam a expressar essa adoração mas só têm valor quando são fruto do desejo do coração de adorar a Deus. Deus não se agrada de rituais sem sinceridade (Sl 51.16,17). Adorar em verdade é adorar por querer adorar a Deus, por tudo que Ele é e tudo que Ele faz. Adorar em espírito é adoração viva. O espírito é aquilo que nos liga a Deus e nos dá vida. A verdadeira adoração vem da comunhão com Deus. Podemos ter essa comunhão através do Espírito Santo, que mora dentro de cada pessoa salva (At 2.38).

Jesus falou sobre adorar em espírito e em verdade porque uma mulher samaritana lhe tinha perguntado como se deve adorar a Deus. Os judeus e samaritanos brigavam sobre a forma correta de adorar a Deus. Os judeus adoravam no templo em Jerusalém mas os samaritanos achavam que a adoração deveria ser feita no monte que eles consideravam sagrado (Jo 4.19-21). No Velho Testamento Deus tinha escolhido o templo de Jerusalém como o único lugar de adoração, para impedir que os israelitas misturassem a adoração ao Deus verdadeiro com a adoração a deuses falsos. No templo, debaixo da instrução dos sacerdotes, os judeus aprendiam sobre Deus, o adoravam e ofereciam sacrifícios (Dt 12.4-7). A localização era importante mas não era o mais importante. O que contava era a atitude dos adoradores.

Tanto os judeus quanto os samaritanos perderam esse foco. Muitos deles começaram a dar mais importância ao lugar e às cerimônias que ao estado do coração dos adoradores. No seu pensamento, quem cumprisse os rituais de maneira certa estava bem com Deus, mesmo se não fosse feito pelas razões certas nem com sinceridade. Adorar a Deus era apenas um ritual. Jesus voltou a centrar a atenção naquilo mais importava: o coração. O grande mandamento é amar a Deus com tudo que somos (Mt 22.37,38). Essa é a verdadeira adoração. Muitos se escudam no legalismo, outros no formalismo, sem nos esquecermos dos tradicionalistas. Os emocionalistas acusam os racionalistas, e surgem inúmeras forma de fanatismos. Porém, todos se esquecem que somente os nascidos de novo podem adorar a Deus em espírito e em verdade. Quando o homem nasce de novo através da mensagem do evangelho, não há um tempo ou lugar específico para adorar. Os verdadeiros adoradores adoram em todo tempo e em todos os lugares.

A Bíblia demonstra que, se o homem adora em espírito, concomitantemente ele está na Verdade, e se adora ’em verdade’ é porque vive em Espírito! Adoração não é um estilo de vida como apregoam. Adorar em espírito e em verdade só é possível quando se conhece a Deus, ou seja, quando Deus passa a habitar no homem “O Espírito de verdade, que o mundo não pode receber, porque não o vê nem o conhece; mas vós o conheceis, porque habita convosco, e estará em vós” (Jo 14.17). Quando é que o homem passa a estar em Deus e Deus no homem, fazendo morada? (1 Co 3.16). Somente após crer na mensagem do evangelho “Em quem também vós estais, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação; e, tendo nele também crido, fostes selados com o Espírito Santo da promessa” (Ef 1.13).

Conclusão

Em suma: para adorar em espírito e em verdade é preciso crer no que anunciou os profetas: “Lançai de vós todas as vossas transgressões com que transgredistes, e criai em vós um coração novo e um espírito novo (…) Então aspergirei água pura sobre vós, e ficareis purificados; de todas as vossas imundícias e de todos os vossos ídolos vos purificarei. E dar-vos-ei um coração novo, e porei dentro de vós um espírito novo; e tirarei da vossa carne o coração de pedra, e vos darei um coração de carne. E porei dentro de vós o meu Espírito, e farei que andeis nos meus estatutos, e guardeis os meus juízos, e os observeis” (Ez 18.31; 36.25-27). Somente o Espírito Eterno, pode purificar o homem através da palavra do evangelho (água pura). O ‘aspergir água pura’ é o mesmo que nascer da água. Somente Deus pode aspergir a água pura, ou seja, o nascer do Espírito. Somente Deus pode fazer do homem uma nova criatura, com novo coração e um novo espírito (Sl 51.10; Is 57.15). 

A nova criatura, ou o novo homem em Cristo é gerado de Deus para a sua glória (Jo 1.12). Deus cria, forma e faz o novo homem em verdadeira justiça e santidade para a sua própria glória “A todos os que são chamados pelo meu nome e os que criei para a minha glória, os formei, e também os fiz” (Is 43.7). Somente os nascidos da água e do Espírito, ou seja, da verdade e do Espírito são capazes de adorar a Deus em espírito e em verdade, pois estes foram criados para louvor da glória de Deus, ou seja, adoração verdadeira (Ef 1.6,12,14 ). O verdadeiro louvor e adoração são provenientes da obra criada por Deus (nova criatura), pois quem dentre as suas criaturas poderá acrescentar honra, glória e louvor a Deus? É por isso que Deus faz todas as coisas para louvor de sua glória!

Sugestão de Leitura da Semana: JÚNIOR, Carlos Alberto. A Obra da Redenção. São Paulo: Evangelho Avivado, 2020.


O Princípio da Sabedoria

 




Por Leonardo Pereira



“O temor do Senhor é o princípio da sabedoria e o conhecimento do Santo é prudência” (Pv 9.10). A busca pela sabedoria jamais pode ser separada da busca por Deus. Se a nossa filosofia não é controlado por uma teologia firme, enfrenta uma barreira impossível de superar. 

As verdades fundamentais sobre Deus constituem as bases do conhecimento. A realidade de Deus é a coisa mais importante que pode-se saber e também a mais óbvia (Rm 1.19,20). No abecedário do conhecimento, começamos com Deus. Aqueles que não crêem muitas vezes se vêem como mais avançados no seu conhecimento. Mas “nenhuma arte, nenhuma filosofia, nenhuma ciência, nenhuma literatura, nada adquirido intelectualmente nem feitos de qualquer tipo compensarão a ignorância em relação a Deus; a alma que não o conhece é um homem ignorante; a época que não o conhece é uma época ignorante” (W. Clarkson). 

O conhecimento sobre Deus também é a “base” do conhecimento. É o princípio de organização que unifica todo o resto, a moldura dentro da qual todas as informações se encaixam. “No dia em que acreditei em Deus de verdade,” escreveu Dag Hammarskjold, “pela primeira vez a vida fez sentido para mim e o mundo tinha um significado.” Em Deus, o caos dos fatos se torna um cosmos de conhecimento. 

A verdade simples é esta: não ficaremos sábios sem buscar a Deus, e não buscaremos a Deus sem humildade, respeito e reverência. Por isso o temor do Senhor é o “princípio” da sabedoria. O orgulho sempre corrompe o processo de aprendizagem. A ilusão de que sabemos mais do que realmente sabemos (junto com a falta de vontade de aceitar verdades que podem ter conseqüências indesejadas) farão com que não progredimos na sabedoria. É o respeito pelo Criador que abre a porta para o crescimento intelectual.

Paulo escreveu sobre certos indivíduos que “detêm a verdade” (Rm 1.18). Há aqueles, ele disse, que evitam os fatos e “desprezam o conhecimento de Deus” (Rm 1.28). Estas são palavras fortes, sem dúvida, mas precisamos escutá-las. Permitimos que Deus seja o princípio da nossa sabedoria do mundo real? Honesta-mente aceitamos isso, a mais fundamental de todas as verdades: “No princípio criou Deus os céus e a terra” (Gn 1.1)?


Comentário Bíblico Mensal: Agosto/2021 - Capítulo 4 - A Nação de Israel no Tempo de Jesus

 




Comentarista: Éverton Souza



Texto Bíblico Base Semanal: Lucas 3.1-18


1. E no ano quinze do império de Tibério César, sendo Pôncio Pilatos presidente da Judéia, e Herodes tetrarca da Galiléia, e seu irmão Filipe tetrarca da Ituréia e da província de Traconites, e Lisânias tetrarca de Abilene,

2. Sendo Anás e Caifás sumos sacerdotes, veio no deserto a palavra de Deus a João, filho de Zacarias.

3. E percorreu toda a terra ao redor do Jordão, pregando o batismo de arrependimento, para o perdão dos pecados;

4. Segundo o que está escrito no livro das palavras do profeta Isaías, que diz: Voz do que clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor; Endireitai as suas veredas.

5. Todo o vale se encherá, E se abaixará todo o monte e outeiro; E o que é tortuoso se endireitará, E os caminhos escabrosos se aplanarão;

6. E toda a carne verá a salvação de Deus.

7. Dizia, pois, João à multidão que saía para ser batizada por ele: Raça de víboras, quem vos ensinou a fugir da ira que está para vir?

8. Produzi, pois, frutos dignos de arrependimento, e não comeceis a dizer em vós mesmos: Temos Abraão por pai; porque eu vos digo que até destas pedras pode Deus suscitar filhos a Abraão.

9. E também já está posto o machado à raiz das árvores; toda a árvore, pois, que não dá bom fruto, corta-se e lança-se no fogo.

10. E a multidão o interrogava, dizendo: Que faremos, pois?

11. E, respondendo ele, disse-lhes: Quem tiver duas túnicas, reparta com o que não tem, e quem tiver alimentos, faça da mesma maneira.

12. E chegaram também uns publicanos, para serem batizados, e disseram-lhe: Mestre, que devemos fazer?

13. E ele lhes disse: Não peçais mais do que o que vos está ordenado.

14. E uns soldados o interrogaram também, dizendo: E nós que faremos? E ele lhes disse: A ninguém trateis mal nem defraudeis, e contentai-vos com o vosso soldo.

15. E, estando o povo em expectação, e pensando todos de João, em seus corações, se porventura seria o Cristo,

16. Respondeu João a todos, dizendo: Eu, na verdade, batizo-vos com água, mas eis que vem aquele que é mais poderoso do que eu, do qual não sou digno de desatar a correia das alparcas; esse vos batizará com o Espírito Santo e com fogo.

17. Ele tem a pá na sua mão; e limpará a sua eira, e ajuntará o trigo no seu celeiro, mas queimará a palha com fogo que nunca se apaga.

18. E assim, admoestando-os, muitas outras coisas também anunciava ao povo.

Momento Interação

A datação elaborada de Lucas é colocada no início do ministério de João, e não no início do ministério de Jesus; isso demonstra a importância que Lucas deu a João em seu Evangelho. Essa data era provavelmente 27-29 d.C. Lucas especifica o ano e as principais autoridades à época. O ano era o décimo quinto do império de Tibério César, sendo Pôncio Pilatos presidente da Judéia, e Herodes (em seu testamento, Herodes, o Grande, deixou a administração da Judeia para Arquelau e as tetrarquias para Filipe e Antipas. Porém, Arquelau fez um governo tão ruim que os romanos o retiraram do cargo e indicaram o seu próprio governador, Pôncio Pilatos), tetrarca da Galiléia e seu irmão Filipe tetrarca da Itureia e da província de Traconites, e Lisânias tetrarca de Abilene (um tetrarca era, tecnicamente, um governador que administrava a quarta parte, porém o termo acabou sendo usado para designar regentes insignificantes).

O Herodes relatado aqui é Herodes Antipas. A região que Filipe governava ficava a nordeste do mar da Galileia. Não se tem nenhuma outra informação quanto ao governador Lisânias, mas se sabe que Abilene era uma área mais ao norte das regiões mencionadas aqui. Embora Lucas (Lc 3.2) cite como sumos sacerdotes Anás e Caifás, os judeus tinham apenas um sumo sacerdote de cada vez. Os romanos depuseram Anás e indicaram em seu lugar Caifás, genro de Anás, como sumo sacerdote. Apesar da imposição romana para que Caifás exercesse a função oficialmente, muitos judeus ainda consideravam Anás como o verdadeiro sumo sacerdote. Foi dentro desse contexto e época que veio a palavra de Deus, no deserto, ao João, filho de Zacarias. A mensagem de João não era dele mesmo, mas a diligente palavra do próprio Deus. Por isso que saiu João a percorrer toda a terra ao redor do Jordão pregando o batismo de arrependimento, para perdão de pecados (Lc 3.3)

Introdução

Desde o ano 722 antes de Cristo o país onde vivia o povo de Israel estava dominado por nações estrangeiras. A partir do ano 63 a.C este domínio passou a ser feito pelos romanos. Roma era a maior potência política e econômica daquela época. Em 63 a.C um general de nome Pompeu conquistou a Palestina que desde então passou a fazer parte do império romano. A palestina funcionava como uma província semi-autônoma, pois as autoridades locais foram mantidas. No tempo do nascimento de Cristo o imperador era Otavio Augusto. Ele governou de 27 a.C a 14 d.C. Quando Cristo foi morto o imperador era Tibério e ele reinou de 14 a 37 de nossa era.

Os romanos mantinham o seu domínio sobre as províncias do império a ferro e fogo e para conseguir isto cobravam impostos de todas as nações dominadas. Freqüentemente faziam recenseamentos nas provinciais para calcular se o recebimento dos impostos estava correspondendo ao crescimento da população. O recenseamento feito na época do nascimento de Cristo tinha esta finalidade (cf. Lc 2.1-7). Nas províncias do império os imperadores eram representados pelos procuradores romanos. No tempo em que Jesus Cristo foi morto o procurador era Pôncio Pilatos. Ele morava na cidade de Cesaréia e visitava Jerusalém somente na época das grandes festas, para cuidar, sobretudo, da segurança da população.

Na Palestina o órgão político mais importante era o SINÉDRIO. Este era como um senado, composto por 71 membros comandados por um sumo-sacerdote. Este órgão era o responsável pela vida dos judeus, pela aplicação do cumprimento da lei e pela ordem interna. No contexto político destacavam-se os partidos político-religiosos que lutavam pelo predomínio no meio do povo. Todos eles tinham ima conotação religiosa. Entre os partidos mais fortes destacavam-se os saduceus, fariseus, essênios e os zelotas. Como hoje, cada partido lutava para continuar influenciando o povo. Foi neste ambiente que Jesus Cristo nasceu como um homem histórico, encarnado na história humana. Foi neste ambiente que ele lançou a semente do reino de Deus e convocou um grupo de pessoas, os apóstolos, para continuar a sua missão. Após Jesus Cristo e especialmente após a revelação do Espírito Santo em Pentecostes, os discípulos começaram a reunir-se em comunidades, tendo por base a comunidade de Jerusalém. Foi assim que nasceu a Igreja.

I. Jesus e os Escribas

Os escribas eram pessoas cuja profissão era escrever. Eles registravam e copiavam coisas importantes por escrito, como: documentos legais ou administrativos, registros históricos, informação comercial e as Escrituras. No Novo Testamento, os escribas também eram professores da lei judaica. Antigamente, poucas pessoas sabiam ler e escrever. Mesmo entre quem sabia, livros e material de escrita eram muito caros e poucos tinham a oportunidade de praticar. Por isso, o escriba tinha uma função muito importante. O trabalho do escriba era registrar por escrito tudo que fosse importante preservar. 

Assim, o escriba atuar em várias áreas diferentes. Ele podia ter a função de contabilista, mantendo registros de compras e vendas para comerciantes, construtoras ou serviços administrativos. Também poderia servir como historiador, escrevendo relatos dos momentos mais importantes de sua época ou de feitos dos reis. Alguns escribas escreviam ficção ou registravam histórias populares. Além disso, muitos escribas tinham uma função religiosa, copiando textos religiosos com exatidão. Onde era preciso alguém que sabia escrever, ali o escriba encontrava trabalho

Várias partes da Bíblia provavelmente foram escritas por escribas. Dois escribas importantes mencionados na Bíblia são Baruque e Esdras. Baruque trabalhava para o profeta Jeremias, que ditava suas palavras de profecia para ele (Jr 36.32). Esdras era um sacerdote, escriba e doutor da Lei de Deus que voltou do exílio na Babilônia e liderou um avivamento religioso judaico (Ed 7.6). Além desses escribas, outros podem ter contribuído para a Bíblia. Vários dos livros históricos e/ou as fontes originais que foram usadas para escrevê-los provavelmente foram escritos por escribas. Outros profetas além de Jeremias podem ter contratado o serviço de escribas para registrar suas palavras.

No Novo Testamento, os escribas judeus eram também doutores, ou mestres, da Lei. Além de copiar os textos sagrados, eles se dedicavam à interpretação e aplicação da Lei de Moisés. Eles eram parecidos com professores de teologia. Os escribas ensinavam a Lei e sua interpretação aos outros judeus e eram muito respeitados por seu conhecimento. Em várias ocasiões, Jesus repreendeu os escribas (mestres da lei) por seus ensinamentos errados (Mt 23.13-15). Muitos escribas davam mais valor às regras da tradição do que às leis de Deus! Por causa disso, vários escribas se tornaram inimigos de Jesus e participaram da conspiração para matá-lo.

II. Jesus e os Fariseus

A origem deste movimento tem como ponto de partida a classe trabalhadora. O surgimento deles provem dos “piedosos” que pertenciam a luta armada de Judas Macabeu. Eles provinham, na época de Jesus das camadas sociais dos artesãos, pequenos comerciantes e gente pertencente à classe média. Tinham características de serem nacionalistas e de odiarem os estrangeiros. Na época de Jesus eram moderados e aceitavam a política da convivência imposta pelos conquistadores romanos. Na Judeia eles faziam a política dos sacerdotes de Jerusalém e das classes ricas de Jerusalém. Os fariseus com as suas atitudes conseguiam manipular o povo e exercer autoridade sobre eles. Aparentemente se apresentavam como partido das massas populares e contra a aristocracia. O povo sem alternativa os respeitavam, pois possuíam peso político sem exercerem o poder.

Os fariseus e saduceus eram dois partidos religiosos que interpretavam a Lei de Deus de forma diferente. Os fariseus eram judeus zelosos, com muitas regras, e os saduceus eram sacerdotes que tentavam incorporar ideias gregas no judaísmo. Jesus reprovou das práticas tanto dos fariseus como dos saduceus. Os fariseus e saduceus surgiram nos anos entre o retorno do exílio na Babilônia e a vida de Jesus. Os fariseus eram um grupo de judeus muito religiosos, que se dedicavam a obedecer a toda a Lei de Deus e a interpretar corretamente as Escrituras Sagrada (o que chamamos hoje de Antigo Testamento). Eles também seguiam muitas tradições orais. Os fariseus acreditavam que para agradar a Deus cada pessoa tinha de obedecer fielmente a todas as regras das Escrituras e da tradição. Os fariseus eram bem vistos pelo povo judeu por seu zelo em obedecer a Deus e porque não comprometiam seus valores para agradar outros. Os fariseus formaram as sinagogas, que foram o modelo para as igrejas atuais, para ensinar a Palavra de Deus ao povo. Eles acreditavam na ressurreição e aguardavam a vinda de um Salvador de Israel.

Jesus condenou os fariseus por sua hipocrisia (Mt 23.27,28). Eles faziam muitas coisas só para manter as aparências e davam mais atenção à tradição oral que à Palavra de Deus. Muitos caíram no legalismo: obedecer a todas as regras se tornou mais importante que um coração sincero e arrependido. Jesus também condenou seu desprezo e sua falta de compaixão por todos que não conseguiam seguir seu alto padrão de vida. Os fariseus eram mais “missionários” que os saduceus, pois os fariseus costumavam estar mais perto do povo, fazendo seu trabalho de proselitismo e aplicando as Escrituras numa linguagem mais acessível ao povo. Embora ensinando muita coisa correta e conforme a ortodoxia judaica (Mt 23.3), os fariseus foram duramente denunciados por Jesus em razão de ensinarem coisas corretas, mas não viverem conforme seus discursos. Daí vem a fama de hipocrisia atrelada ao título de fariseu.

Fariseus também são conhecidos como legalistas, em virtude de uma interpretação não raras vezes demasiadamente literalista da lei de Moisés, bem como devido colocarem com força de lei para o povo as muitas tradições orais preservadas e perpetuadas por séculos entre os judeus, mas que nem sempre revelavam uma disposição correta para com a Palavra de Deus, senão uma vontade de colocar um fardo pesado sobre o povo iletrado. Em Mateus 23 está a mais longa denúncia pública feita contra os fariseus em toda Bíblia. João Batista já havia chamado os tais de “raça de víboras” (Mt 3.7), mas neste capítulo de Mateus, Jesus os chama ainda de “hipócritas” (v. 13), “guias cegos” (v. 16), “tolos e cegos” (v. 17) e os compara a “sepulcros caiados” (v. 27), ou seja, túmulos bem acabados, rebocados e pintados por fora, enquanto no interior guardam decomposição e mal cheiro. É incrível que Jesus não teve problema com o povo comum, os leigos; o problema de Jesus era justamente com esses homens religiosos e instruídos.

III. Jesus e os Saduceus

Os saduceus eram uma elite religiosa de sacerdotes. Eles controlavam tudo que acontecia no Templo e tinham grande influência política. O poder dos saduceus vinha de sua preocupação em manter boas relações com os invasores romanos. Para os saduceus, só os primeiros cinco livros do Velho Testamento (conhecidos como a Torá ou o Pentateuco) tinham autoridade divina. Eles não focavam tanto em todas as regras dos fariseus e acreditavam que podiam incorporar ideais gregos no judaísmo. Os saduceus não se davam bem com os fariseus. Jesus condenou os saduceus porque não acreditavam na ressurreição. Eles também ignoravam o mundo espiritual e muitas vezes se preocupavam mais com o poder político que com a obediência a Deus (At 23.8). Quando o Templo foi destruído os saduceus deixaram de existir.

Os saduceus precisavam produzir frutos próprios do arrependimento. O motivo era que eles, assim como os fariseus, não guardavam a lei de Deus (Mt 3.7,8) O próprio Cristo Jesus comparou o ensino corrupto deles a fermento (Mt 16.6, 11,12). Com respeito às crenças religiosas deles, Atos 23.8 declara: “Os saduceus dizem não haver nem ressurreição, nem anjo, nem espírito, mas os fariseus declaram publicamente todos estes”. Foi com relação à ressurreição e ao casamento de cunhado que um grupo de saduceus tentou confundir Cristo Jesus. Mas ele os calou. Citando os escritos de Moisés, que os saduceus professavam aceitar, Jesus refutou a alegação deles de que não há ressurreição (Mt 22.23-34; Mr 12.18-27; Lc 20.27-40). Mais tarde, o apóstolo Paulo, diante do Sinédrio, dividiu esta mais alta corte judaica por jogar os fariseus contra os saduceus. Isto era possível por causa das diferenças religiosas entre eles (At 23.6-10).

Embora divididos em questão de religião, os saduceus juntaram-se aos fariseus em procurar tentar Jesus por pedir-lhe um sinal (Mt 16.1), e os dois grupos estavam unidos na sua oposição a ele. A evidência bíblica indica que os saduceus tinham um papel destacado em procurar a morte de Jesus. Saduceus eram membros do Sinédrio, corte que tramou contra Jesus e que, mais tarde, o condenou à morte. A corte incluía Caifás, o saduceu e sumo sacerdote, e evidentemente também outros sacerdotes de destaque (Mt 26.59-66; Jo 11.47-53; At 5.17,21). Portanto, sempre que as Escrituras Gregas Cristãs falam de certa ação tomada pelos principais sacerdotes, evidentemente havia saduceus envolvidos nisso (Mt 21.45, 46; 26.3, 4, 62-64; 28.11, 12; Jo 7.32). Os Saduceus parecem ter tomado a dianteira em tentar impedir a divulgação do cristianismo após a morte e ressurreição de Jesus (At 4.1-23; 5.17-42; 9.14).

IV. Jesus e os Principais dos Sacerdotes

O Velho Testamento nos ajuda a entender a obra de um sumo sacerdote. O sumo sacerdote levita agia como representante dos homens, entrando na presença do Senhor para oferecer sangue em benefício dos homens pecadores. Em nenhum outro lugar esta função é ilustrada mais vividamente do que nos eventos do Dia da Expiação. Neste dia, o décimo dia do sétimo mês de cada ano, o sumo sacerdote entrava no Santo dos Santos do tabernáculo para fazer expiação pelos seus próprios pecados e pelos do povo. Levítico 16 descreve o que era feito neste dia. O sumo sacerdote, depois de lavar seu corpo e vestir as vestes santas, punha um incensário cheio de incenso no Santo dos Santos para formar uma nuvem sobre o propiciatório. O Santo dos Santos era a menor das duas salas dentro do tabernáculo. A arca da aliança ficava localizada nesta sala e era ali que Deus se encontrava com o homem. A cobertura da arca da aliança era chamada de propiciatório. Dois bodes eram escolhidos como oferenda pelo pecado e sortes eram lançadas sobre eles. Um bode teria que ser morto e oferecido ao Senhor em benefício do povo; o outro seria um bode emissário. Um novilho era selecionado também como uma oferenda pelo sumo sacerdote e sua família.

O sumo sacerdote matava o novilho fora do santuário propriamente e levava um pouco de sangue do novilho para dentro do Santo dos Santos, onde aspergia-o sobre o propiciatório. Em frente do propiciatório ele aspergia sangue, com o dedo, sete vezes, para fazer expiação por seus próprios pecados e os de sua família. A nuvem de incenso na sala protegia-o de ver o Senhor e morrer como consequência. Ele, então, matava o bode selecionado por sorte para ser a oferenda e levava um pouco de sangue para dentro do Santo dos Santos, mais uma vez espalhando o sangue em cima e na frente do propiciatório, para fazer expiação pelos pecados do povo. Depois, o bode vivo era levado para o deserto e solto, levando embora consigo os pecados do povo. Os corpos do novilho, do bode e de um carneiro oferecido como holocausto eram totalmente queimados.

Para assassinar Jesus, houve uma espécie de acórdão político proposto por Caifás, o sumo sacerdote e chefe do Sinédrio (o Supremo Tribunal da época), ao governo local, que estava sob o comando de Pôncio Pilatos e de Herodes Antipas, o rei dos judeus. Na época, o Grande Sinédrio de Jerusalém era um tribunal formado por 71 homens ricos e considerados sábios, que interpretavam e aplicavam a lei. O sumo sacerdote ocupava um cargo de confiança no governo romano. Devia obediência e fidelidade a Roma, mesmo sendo ele um judeu. Naquele tempo, a Palestina vivia intenso período de efervescência política e religiosa. Além dos saduceus, existiam outros grupos religiosos que atuavam politicamente. Eles não se opuseram à condenação de Jesus. Assim como os saduceus, fariseus, herodianos, sicários e escribas não viam Jesus com bons olhos, como pode ser observado nos Evangelhos.

Astuto, manipulador e sagaz são qualidades que poderiam ser aplicadas a  Caifás, o sumo sacerdote que presidiu dois dos julgamentos de Jesus.   Ainda que não fosse pelos relatos bíblicos, só o fato dos romanos o deixarem permanecer no cargo por mais tanto tempo (18 anos) já mostra que ele era um manipulador astucioso. Mas é nas Escrituras que vemos sua habilidade em se manter no poder político. Após a ressurreição de Lázaro, ele tramou friamente a morte de Jesus. Ele tentou tranquilizar a consciência de qualquer membro do Sinédrio que talvez não tivesse coragem de acusar a Jesus. Ele fez isso atribuindo motivos elevados a este ato perverso: "Convém que morra um só homem pelo povo e que não venha a perecer toda a nação" (Jo 11.50).

Quando ele, com a ajuda de Judas, conseguiu prender o Salvador, o propósito de cada passo seu foi para ver Jesus morto o mais rápido possível, sem nenhuma consideração para com a justiça ou a lei. Depois de Jesus se apresentar diante de Anás, sogro de Caifás e considerado por alguns judeus o verdadeiro sumo sacerdote, Caifás e o Sinédrio expuseram Jesus a dois julgamentos falsos. No primeiro julgamento, Caifás cinicamente presidiu uma demonstração pública de perjúrios. Quando Jesus permaneceu calado sem se rebaixar ao nível de seus acusadores, Caifás impacientemente demandou uma resposta direta à pergunta de ser ele ou não o Filho de Deus. Ouvindo uma resposta afirmativa, de modo hipócrita rasgou suas vestes, fingindo estar chocado, e declarou: "Blasfemou! Que necessidade mais temos de testemunhas? Eis que ouvistes agora a blasfêmia!" (Mt 26.65). Ele então assistiu, sem interferir, a uma multidão profana que cuspia em Jesus e o ridicularizava.

O ódio de Caifás pelo caminho de Deus não terminou com a morte de Jesus. Ele continuou ativo, perseguindo a Pedro e a João (At 4.6) e provavelmente era o sumo sacerdote mencionado em Atos 5.17-21, 27; 7:1 e em 9.1, o qual perseguia os cristãos com todo o vigor. Para Caifás, a vida nada mais era que lucrar e preservar o seu bocado de poder insignificante.Mesmo com toda a sua manobra e trama, ele é uma personalidade absolutamente insignificante na História, a não ser por tratar infamemente Jesus e os cristãos. Sua obsessão por conservar-se no poder o tornava frio, indiferente e incapaz de ver que o Filho de Deus estava ali no seu meio.

V. Jesus e os seus Discípulos

A morte de Jesus na cruz como sacrifício pelos pecados dos homens foi determinada no plano eterno para a redenção dos homens. Durante seu ministério, Jesus caminhava propositalmente para esse momento importante, o auge da sua missão terrestre. Os relatos do evangelho, especialmente o de João, mostram sua determinação em cumprir esse plano conforme predeterminado, para morrer da maneira certa, no lugar certo e no momento certo. Os discípulos que acompanhavam Jesus demoraram para entender esse aspecto da sua missão. Como muitos judeus e até muitos religiosos dos nossos dias, imaginavam um reino terrestre dominado por um Cristo que ganharia seu poder no campo de batalha carnal, vencendo seus inimigos em guerras literais aqui na terra. Pensando dessa maneira, os discípulos enfrentavam dificuldades enormes quando Jesus falou da sua própria morte. Mateus, no seu relato da última parte do ministério de Jesus, traz algumas afirmações específicas que Jesus fez sobre sua morte iminente. Os avisos são praticamente idênticos, mas as reações dos discípulos refletem preocupações diferentes e até mostram a evolução do pensamento desses seguidores do Senhor.

Em um período de crise no ministério de Jesus, as opiniões sobre esse homem de Nazaré estavam polarizando. A maioria dos líderes dos judeus rejeitou as afirmações desse pregador itinerante. O povo comum se mostrou confuso, achando que Jesus fosse algum profeta do Antigo Testamento que teria voltado a viver entre os homens. Os discípulos mais íntimos, porém, depois de acompanhar os ensinamentos e as obras de Jesus, estavam se firmando na sua convicção da sua divindade como o Messias ou Cristo profetizado no Antigo Testamento. A famosa confissão de Pedro representa esse entendimento correto: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo” (Mt 16.16). A compreensão dos apóstolos se mostrou, várias vezes, limitada e até errada. Seus comentários e perguntas mostram que esperavam um reino terrestre e político com Jesus na posição de rei. Desta perspectiva, a afirmação de Jesus, logo depois da confissão de Pedro, foi especialmente chocante. Ele disse que seria maltratado e morto em Jerusalém, e que ressuscitaria três dias depois (Mt 16.21). A reação de Pedro foi de negação. Ele repreendeu o próprio Senhor, dizendo que não seria rejeitado e morto. Jesus disse que Pedro estava interferindo nas obras de Deus.

Algum tempo depois, os apóstolos estavam com Jesus na Galileia quando ele repetiu o comentário sobre a iminência da sua morte, seguida pela ressurreição ao terceiro dia (Mt 17.22,23). Desta vez, a reação dos discípulos foi de profunda tristeza. Não negaram as palavras de Jesus, como Pedro havia feito da outra vez, mas mostraram sua preocupação em ficar sem Jesus. Em João 14, Jesus tratou da mesma dificuldade, percebendo que os discípulos se sentiam órfãos. Ainda não conseguiram olhar além da morte para ver a vitória na ressurreição, mesmo Jesus incluindo essa promessa e cada predição. Jesus e os discípulos estavam se aproximando de Jerusalém, poucos dias antes da crucificação, quando ele falou novamente da sua morte e ressurreição. Desta vez, não houve repreensão nem demonstração de tristeza, mas uma outra reação que mostrou a mesma dificuldade para compreender a natureza do reino messiânico. João e Tiago chegaram com sua mãe para conversar com Jesus. Pediram posições de importância no gabinete do Rei! Parece que o entendimento deles sobre a ressurreição havia evoluído, e agora estavam olhando para além da morte para ver a vitória e o reino que viria. Mas, ainda esperavam um reino material, terrestre e político. Não compreendiam a natureza espiritual do domínio do Rei Jesus.

Conclusão

Podemos aprender com os fariseus, saduceus e outros grupos religiosas da época evitando os seus erros. Os dois grupos caíram em extremos. Os saduceus reduziram sua religião ao minimalismo, uma fachada religiosa para obter poder político. Os fariseus exageraram nas regras, se esquecendo do que é mais importante. Os dois grupos se afastaram de Deus e tinham prioridades erradas. Eles também não tinham a humildade para aceitar que podiam estar errados. Quando Jesus os repreendeu, em vez de se arrependerem os dois grupos se uniram para o matar! (Mt 21.45,46).

Nossa perspectiva é outra, pois vivemos quase 2.000 anos depois da morte de Jesus. É impressionante observar, porém, que muitas pessoas, até líderes religiosos influentes, continuam com pensamentos parecidos com os dos apóstolos na sua confusão e tristeza. Muitos ainda aguardam um reino terrestre e material, não compreendendo a vitória de Jesus sobre a morte e a realidade do seu reino espiritual, celestial e eterno. O reino de Jesus existe (Cl 1.13), pois já recebeu seu domínio eterno (Dn 7.14; Ap 1.5). Jesus cumpriu o plano eterno para a nossa redenção, e reina para toda a eternidade.

Sugestão de Leitura da Semana: RIBEIRO, Anderson. A Mensagem de Cristo. São Paulo: Evangelho Avivado, 2020.


quinta-feira, 26 de agosto de 2021

Preparados para Servir

 




Por Leonardo Pereira



Imagine o seguinte cenário. Você está esperando uma cirurgia muito delicada no seu cérebro. Já procurou um hospital bem conceituado nesse ramo, e consultou um dos melhores cirurgiões do mundo, quem marcou a cirurgia tão crítica para a sua vida. No dia marcado, você já está na sala de cirurgia, esperando a chegada do cirurgião. De repente, uma enfermeira entra e explica que o cirurgião passou mal e não poderá realizar a sua cirurgia. Mas, para não perder a oportunidade, procurariam outro cirurgião para substituí-lo. Ela pede a sua compreensão, enquanto uma outra enfermeira procura alguém para fazer a cirurgia. Ao mesmo tempo, a segunda enfermeira interrompe a apresentação de um colega a um grupo escolar fazendo excursão no hospital. Ela explica aos alunos: "Olhem, o problema é que Dr. Experiente passou mal, e precisamos de alguém para fazer a cirurgia no lugar dele. Alguns de vocês certamente já sonharam em ser grandes médicos. Alguém quer substituir o cirurgião hoje?" Um dos alunos levanta a mão e se encaminha para a sala de cirurgia, disposto a abrir a sua cabeça e começar a cortar o seu cérebro. O que você faria?

Agora pode acordar do pesadelo! Nem conseguimos imaginar uma coisa tão absurda. Uma pessoa totalmente despreparada fazendo cirurgia no cérebro de outra pessoa? Que idéia ridícula! O que parece absolutamente ridículo no contexto de um hospital acontece com bastante freqüência em muitas igrejas hoje. Pessoas despreparadas são convidadas a pregar ou ensinar, e acabam assumindo responsabilidades sem ter condições de cumpri-las. O resultado pode ser pior do que uma cirurgia cerebral feita por um aluno do ensino médio. Ensinamento errado, sem base adequada nas Escrituras, pode ser eternamente fatal. Qualquer pessoa que abre a Bíblia e a sua própria boca tem a obrigação de se preparar para falar a verdade em amor (Ef 4.15,16).

A Importância da Preparação

Quando nos entregamos a Deus, assumimos um compromisso de sermos fiéis a ele. Para cumprir a nossa obrigação de obedecer tudo que Jesus tem nos ordenado (Mt 28.18-20), precisamos estudar para conhecer bem a palavra dele. Paulo disse a um irmão mais novo: "Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade" (2 Tm 2.15). Pedro escreveu a discípulos espalhados em vários lugares: "...santificai a Cristo, como Senhor, em vosso coração, estando sempre preparados para responder a todo aquele que vos pedir razão da esperança que há em vós..." (1 Pe 3.15). Ser preparado para falar a outros faz parte da nossa devoção ao Senhor.

Paulo usou uma linguagem que deve chamar a nossa atenção quando disse a Timóteo: "Assim, pois, se alguém a si mesmo se purificar destes erros, será utensílio para honra, santificado e útil ao seu possuidor, estando preparado para toda boa obra" (2 Tm 2.21). Vamos considerar o significado de sermos utensílios santificados e preparados para boas obras. No Antigo Testamento, achamos formas da palavra "preparar" usadas mais de 50 vezes em relação a coisas ou a pessoas dedicadas ao serviço do Senhor. A maioria dessas citações fala sobre sacrifícios, ofertas e materiais usados no tabernáculo ou no templo para adorar a Deus. Até as mínimas coisas foram cuidadosamente purificadas e preparadas para o seu uso em honra do Senhor. Assim cada um de nós deve ser preparado - purificado e santificado - para honrar a Deus por meio de boas obras.

Jesus Enfatizou a Preparação

Várias parábolas de Jesus ensinam a importância da preparação. Talvez a mais conhecida seja a das dez moças que esperavam o noivo chegar à festa de casamento (Mateus 25:1-13). As moças insensatas, que não se prepararam adequadamente, não entraram na festa. As prudentes se equiparam para esperar o tempo necessário, e tiveram a alegria de participar da festa. As ilustrações de construir uma torre ou enfrentar um inimigo em guerra também mostram a necessidade de se preparar bem para sermos discípulos de Jesus. O despreparado, muitas vezes, desiste no meio do caminho, e não chega ao seu destino. Pode até sofrer uma terrível derrota. Leia Lucas 14.25-33.

Além de suas parábolas, Jesus ensinou sobre a preparação na prática. Alguns dos seus discípulos o acompanharam constantemente, aprendendo com o Mestre. Desses, ele escolheu os doze apóstolos que tiveram um treinamento mais intensivo ainda. Quando procuraram alguém para tomar o lugar de Judas Iscariotes, escolheram entre os homens que acompanharam a Jesus durante todo o seu ministério (At 1.21,22). Os apóstolos foram especialmente qualificados para falarem de Jesus (Hb 2.3,4).

Os seguidores de Cristo devem se preparar para lhe servir, especialmente para ensinar o evangelho aos outros. Os que não crescem espiritualmente são criticados por sua negligência e imaturidade espiritual (Hb 5.12 - 6.3). Ao mesmo tempo, devemos lembrar que Deus não quer servos despreparados ensinando além do seu conhecimento: "Meus irmãos, não vos torneis, muitos de vós, mestres, sabendo que havemos de receber maior juízo" (Tg 3.1). Tomando esses versículos juntos, percebemos que Tiago não está dissuadindo discípulos do trabalho importante de ensinar a palavra. Ele destaca a importância de preparação e controle da língua, sempre tendo cuidado de não ultrapassar a palavra do Senhor (cf. 2 Jo 9).

Preparativos Insuficientes

Estudos superficiais. Frequentemente alguém ensina depois de fazer um estudo superficial de seu tema. Talvez utilize uma chave bíblica para encontrar alguns versículos isolados e já se acha capaz de explicar o seu assunto a outros. A chave bíblica é muito útil, mas devemos tomar o tempo necessário para estudar cada versículo no seu contexto para entender o sentido verdadeiro. Cada versículo da Bíblia deve ser entendido à luz de tudo que as Escrituras dizem. Tal compreensão exige a dedicação e disciplina para estudar profundamente.

Conhecimento de folhetos, artigos, livros, etc. Todos os servos de Deus têm muito trabalho para fazer. Na correria do dia-a-dia, é difícil achar tempo para estudar e preparar bons estudos. Ao invés de fazer a nossa própria pesquisa, é mais fácil e rápido pegar algum estudo escrito (até este mesmo folheto que você está lendo agora!) e usá-lo como aula, sermão, etc. Esta abordagem apresenta sérios riscos: Não aprendemos fazer o nosso próprio estudo;  Não chegamos às nossas próprias conclusões;  Podemos ser facilmente enganados por palavras persuasivas de homens. Assim, como guias cegos, poderemos conduzir outros ao erro (Lc 6.39).

Cursos de teologia, seminário, etc. Estudar em escolas e faculdades pode trazer muitos benefícios, mas um diploma de teologia não prova a capacidade da pessoa a ensinar a palavra de Deus. A tendência de tais cursos é de ensinar sobre a filosofia e teorias teológicas, ao invés de ensinar sobre o conteúdo da Bíblia. Muitos seminários são controlados por determinadas denominações e ensinam conforme as doutrinas daquelas igrejas. Mesmo os cursos de teologia "independentes" são guiados por homens e tipicamente refletem as opiniões da direção. Nenhum aluno deve aceitar orientação bíblica ou espiritual sem uma cuidadosa conferência nas Escrituras (At 17.11).

Orientação em doutrinas e costumes dos homens. Repetir, explicar e defender regras de igrejas ou doutrinas decididas por grupos de homens não é ensinar a palavra de Deus. A boa parte das igrejas hoje tem seus próprios livros ou manuais de doutrina. Em geral, pregadores e professores obrigatoriamente seguem a linha doutrinária da denominação, ou perdem seus cargos. O medo de expulsão tem contribuído a muitas afirmações e ações erradas (Jo 9.22; 7.13; 12.42). Mas o discípulo fiel sabe que é melhor ser expulso pelos homens do que rejeitado por Deus (Lc 6.22).

Sugestões para Ajudar na Preparação

Mostre diligência (2 Pe 1.5). O servo de Deus precisa ser zeloso no estudo e na aplicação da palavra do Senhor (2 Tm 2.15).

Aplique-se com paciência e perseverança (Hb 12.1). Do mesmo modo que uma criança cresce aos poucos fisicamente, os filhos de Deus passam por um processo de crescimento. A disciplina é essencial para manter um ritmo de desenvolvimento espiritual. É importante ter tempo, diariamente se possível, para ler, estudar e orar.

Olhe sempre para o alvo (Cl 3.1-3). Para progredir espiritualmente, temos de nos livrar da maldade e das atitudes carnais que prendem os pensamentos e os corações das pessoas do mundo (Tg 1.21-25).

Entenda a seriedade do nosso trabalho (Tg 3.1; Ez 3.16-27). Nós que somos cristãos temos o privilégio de divulgar a palavra salvadora. Negligência dessa incumbência contribuirá à morte de pessoas carentes da verdade.

Prepare-se com o evangelho (Ef 6.15). Jamais abandonemos a pura palavra de Deus. As filosofias e palavras persuasivas da sabedoria humana não salvam ninguém (1 Co 2.1-5).

Ore sem cessar (1 Ts 5.17). Jesus orava constantemente, e a oração fazia parte integral do trabalho dos apóstolos (At 6.4). Deve fazer parte importante dos nossos preparativos na obra do Senhor.

Servir a Deus é um grande privilégio que exige a preparação constante. Vamos aproveitar tudo que Deus tem nos dado para não sermos "nem inativos, nem infrutuosos" como discípulos de Cristo (2 Pe 1.8).


segunda-feira, 23 de agosto de 2021

Líderes Cegos

 




Por Leonardo Pereira



Jesus comparou alguns mestres com cegos: “Pode, porventura, um cego guiar a outro cego? Não cairão ambos no barranco?” (Lc 6.39). Deus mandou seu Filho para dar vida aos pecadores, mas os construtores (os líderes religiosos) rejeitaram a principal pedra (1 Pe 2.7,8). Jesus bem identificou o problema de cegueira dos líderes. Em João 7, encontramos um exemplo de pastores com os olhos fechados à verdade. Eles mandaram guardas para prender Jesus. Os guardas ficaram maravilhados com o ensinamento do Cristo que não o prenderam. 

Quando voltaram aos chefes, estes os rebaixaram: “Será que também vós fostes enganados?” (7.47). Com toda a arrogância de homens que se julgavam sábios na palavra de Deus, eles recorreram à sua suposta superioridade espiritual: “Porventura, creu nele alguém dentre as autoridades ou algum dos fariseus?” (7.48). O ponto deles é óbvio: somente as pessoas formadas em teologia teriam capacidade para julgar a palavra de Cristo. O mesmo erro arrogante reprimiu o povo comum durante séculos na história católica. Hoje, muitos pastores protestantes, também, se exaltam por causa de diplomas de seminários e de cursos de teologia. 

Confiando em sua própria sabedoria, os líderes desprezam o povo comum. Os líderes judeus olharam para a multidão e disseram: “Quanto a este plebe que nada sabe da lei, é maldita” (7.49). Mas, o contexto bem mostra que os próprios líderes não estavam examinando as evidências. Recusaram considerar os milagres de Jesus (Jo 5.36). Não interpretaram as Escrituras de modo correto (Jo 5.39-40,45-47). Eram líderes religiosos, mas espiritualmente cegos como morcegos. Hoje, muitas pessoas têm medo de contrariar os seus líderes religiosos. Confiam tanto em pastores e padres que não estudam a palavra por si. Embora outros homens podem nos ajudar a entender algumas coisas da palavra de Deus, jamais devemos confiar em homens acima da palavra de Deus. Cada um será julgado por Cristo (2 Co 5.10). Por isso, cada um deve se preocupar com a palavra que nos julgará (Jo 12.48).


sábado, 21 de agosto de 2021

Comentário Bíblico Mensal: Agosto/2021 - Capítulo 3 - A Nação de Israel e os seus Períodos

 




Comentarista: Éverton Souza



Texto Bíblico Base Semanal: Isaías 9.8-19


8. O Senhor enviou uma palavra a Jacó, e ela caiu em Israel.

9. E todo este povo o saberá, Efraim e os moradores de Samaria, que em soberba e altivez de coração, dizem:

10. Os tijolos caíram, mas com cantaria tornaremos a edificar; cortaram-se os sicômoros, mas em cedros as mudaremos.

11. Portanto o Senhor suscitará, contra ele, os adversários de Rezim, e juntará os seus inimigos.

12. Pela frente virão os sírios, e por detrás os filisteus, e devorarão a Israel à boca escancarada; e nem com tudo isto cessou a sua ira, mas ainda está estendida a sua mão.

13. Todavia este povo não se voltou para quem o feria, nem buscou ao Senhor dos Exércitos.

14. Assim o Senhor cortará de Israel a cabeça e a cauda, o ramo e o junco, num mesmo dia

15. (O ancião e o homem de respeito é a cabeça; e o profeta que ensina a falsidade é a cauda).

16. Porque os guias deste povo são enganadores, e os que por eles são guiados são destruídos.

17. Por isso o Senhor não se regozija nos seus jovens, e não se compadecerá dos seus órfãos e das suas viúvas, porque todos eles são hipócritas e malfazejos, e toda a boca profere doidices; e nem com tudo isto cessou a sua ira, mas ainda está estendida a sua mão.

18. Porque a impiedade lavra como um fogo, ela devora as sarças e os espinheiros; e ela se ateará no emaranhado da floresta; e subirão em espessas nuvens de fumaça.

19. Por causa da ira do Senhor dos Exércitos a terra se escurecerá, e será o povo como combustível para o fogo; ninguém poupará ao seu irmão.

Momento Interação

Essa é a esperança de Israel: o trono de Davi! Parece que sempre foi assim. Quando Saul comandava Israel e Davi era seu general, todos desejavam Davi no governo. Quando governou, conduziu a nação ao auge e a tornou grande potência à sua época. Depois de sua morte, tornou-se o modelo da comparação dos reis subsequentes. Quando o rei era bom, era comparado a Davi! A despeito da rejeição ao trono de Davi pelos habitantes do Reino do Norte, por causa de Roboão que não lhes ouviu, a provisão futura de Deus para a sua libertação seria o grande filho de Davi que viria. No tempo de seu reinado (reinado de Davi), Israel não se dividiu e dificilmente se dividiria com ele, mas foi com seu filho que foi filho de Salomão, seu filho, que aconteceu a divisão da nação em reinos do norte e do sul. As primeiras cidades a sofrerem com os assírios – 732 a.C., (2 Rs 15.29) – foram Zebulom e Naftali, o capitulo 9 já começa com uma palavra de ânimo a essas terras. O juízo veio e foi necessário, por isso que foram essas cidades tornadas desprezíveis nos primeiros tempos, mas nos últimos, tudo seria diferente. Entre todos os que voltaram do exílio, muitos eram das tribos do norte (1 Cr 9.3). Deus abriria, a partir de uma situação onde anteriormente existiam apenas sombras (Is 24.11; 35.10; 51.3,11; 55.12; 61.7; 66.7), um novo futuro, uma nova oportunidade, para o humilde Reino do Norte que se houvera tão desprezível.

Introdução

Quando Deus chamou Abraão para que deixasse a parentela e fosse para uma determinada terra (Gn 12.1), este foi para Canaã. Ali, ele peregrinou e criou sua família. O Senhor prometeu que daria aos descendentes de Abraão "esta terra" (Gn 12.7), e repetiu a promessa para Abraão (Gn 13.14,15, 17; 17.8), Isaque (Gn 26.3,4) e Jacó (Gn 28.13). O Senhor explicou que o cumprimento ia demorar uns quatrocentos anos (Gn 15.13-16). De fato, 430 anos depois (Êx 12.40-41), o Senhor levantou Moisés que libertou o povo do Egito e o conduziu à terra prometida. Por causa da incredulidade do povo, a realização da promessa demorou mais uma geração (Nm 13-14). Mas finalmente, Israel entrou e conquistou a terra.

Israel tomou conta de toda a terra que Deus prometeu. "Assim o Senhor deu aos israelitas toda a terra que tinha prometido sob juramento aos seus antepassados, e eles tomaram posse dela e se estabeleceram ali ... De todas as boas promessas do Senhor à nação de Israel, nenhuma delas falhou; todas se cumpriram" (Js 21.43,45). O próprio Josué afirmou num discurso aos líderes de Israel: "Vocês sabem, lá no fundo do coração e da alma, que nenhuma das boas promessas que o Senhor, o seu Deus, lhes fez deixou de cumprir-se. Todas se cumpriram; nenhuma delas falhou" (Js 23.14b; 1 Rs 4.21; Ne 9.7,8).

Deus deu a terra para o povo de Israel de forma incondicional. Logo antes da entrada do povo na terra prometida, o Senhor explicou: "Não é por causa de sua justiça ou de sua retidão que você conquistará a terra delas. Mas é por causa da maldade destas nações que o Senhor, o seu Deus, as expulsará de diante de você, para cumprir a palavra que o Senhor prometeu, sob juramento, aos seus antepassados, Abraão, Isaque e Jacó" (Dt 9.5). Os israelitas receberam a terra apenas porque Deus havia garantido aos patriarcas que a daria aos seus descendentes. Mas eles iriam continuar na terra somente por sua fidelidade ao Senhor. Em Deuteronômio 28 e Levítico 26, Deus salientou as maldições que o povo ia sofrer caso quebrasse a aliança, inclusive a expulsão da terra: "Vocês serão desarraigados da terra em que estão entrando para dela tomar posse" (Dt 28.63b). Eles desobedeceram ao acordo que fizeram com Deus múltiplas vezes e apesar de longanimidade enorme, finalmente o Senhor concretizou as maldições contra a nação

I. O Período dos Juízes

O livro de Juízes conta, resumidamente, a história do período entre a morte de Josué e o início da monarquia de Israel, um total de mais de três séculos. Deus já havia revelado sua Lei para governar o povo e usou este período para tentar educar os israelitas na importância da obediência, reforçando o ensinamento comunicado por meio de Moisés no deserto.

Alguns trechos de Juízes frisam suas mensagens principais. Deus enfatizou o fato que os problemas enfrentados pelo povo nas gerações depois de Josué não vieram por infidelidade divina, e sim por desobediência humana: “Subiu o Anjo do SENHOR de Gilgal a Boquim e disse: Do Egito vos fiz subir e vos trouxe à terra que, sob juramento, havia prometido a vossos pais. Eu disse: nunca invalidarei a minha aliança convosco. Vós, porém, não fareis aliança com os moradores desta terra; antes, derribareis os seus altares; contudo, não obedecestes à minha voz. Que é isso que fizestes? Pelo que também eu disse: não os expulsarei de diante de vós; antes, vos serão por adversários, e os seus deuses vos serão laços” (Jz 2.1-3).

Ao longo do livro, geração após geração, Israel sofreu as consequências da sua própria incredulidade. Por não acreditarem na palavra de Deus sobre o perigo de se envolver com os povos idólatras que permaneciam na terra, criaram laços com esses povos e foram castigados, exatamente como o Senhor havia avisado. A expressão que melhor representa o período dos juízes é repetida algumas vezes no livro e serve como conclusão no último versículo: “Naqueles dias, não havia rei em Israel; cada um fazia o que achava mais reto” (Jz 21.25; 17.6; 18.1; 19.1). 

II. O Período dos Reis de Judá

A capital do Reino do Sul continuou sendo Jerusalém. Diferentemente dos reis do reino de Israel que vinham de diferentes dinastias, os reis do reino de Judá eram todos descendentes da casa de Davi. A única exceção foi o período de pouco mais de seis anos em que Atalia usurpou o trono de Judá após Acazias, seu filho, ter sido assassinado. De modo geral o Reino do Sul teve reis que foram mais comprometidos com a vontade do Senhor. A adoração continuou centralizada no Templo em Jerusalém, conforme havia sido nos dias de Davi e Salomão. Mas ainda assim o reino de Judá também teve problemas com a idolatria. Então por várias vezes o impenitente Reino do Sul foi avisado pelo Senhor através dos profetas acerca do juízo iminente que seria derramado por causa do pecado.

Por ser mensagens espirituais, e não apenas registros políticos e históricos, os relatos dos reinados desses homens incluem avaliações dos seus governos e comentários sobre o caráter dos próprios reis. A fórmula comum para introduzir os reis foi a mesma na maioria dos registros: Nome, idade quando começou a reinar, duração do reinado e a avaliação (“fez o que era mau” ou “fez o que era reto perante o SENHOR”). Depois dessas introduções, seguiam mais informações sobre os atos do rei, encerrando com as circunstâncias da sua morte e o nome do seu sucessor. Encontramos exemplos dessas fórmulas em 2 Crônicas 34.1,2 e 36.9,10. Judá teve alguns reis bons que se preocupavam com a vontade de Deus, e muitos outros que conduziam a nação para mais longe do Senhor. Os resumos dos últimos reis antes da destruição de Jerusalém pela Babilônia (586 a.C.) ilustram essas diferenças significativas.

Depois da morte de Josias em uma batalha em Carquemis, Judá foi governado por uma série de reis fantoches durante os últimos anos do reino. Esses quatro últimos reis foram subordinados aos reis do Egito e da Babilônia, mas nenhum deles se dedicou ao Senhor (2 Cr 36). Politicamente, poderíamos comparar as últimas décadas da nação de Judá com as oscilações entre as principais tendências políticas nos dias de hoje. Se um partido conservador controlar o governo por alguns anos, é provável que um outro, mais liberal, tome as rédeas por um tempo. Assim, politicamente, Judá oscilava entre reis que buscavam acordos com outras nações e outros que confiavam em Deus.

O ponto importante, porém, é espiritual, não político. A ênfase está na distinção entre reto e mau. As oscilações espirituais são muito mais importantes e preocupantes do que os ventos políticos. Quando traçamos a história de cada rei, percebemos que cada um decidiu qual caminho seguir. Nem sempre os filhos seguem os pais. Nessa história, filhos se rebelaram contra pais, ou para pior ou para melhor. As decisões que tomaram tinham consequências. Reis bons conduziam a nação para tempos melhores, mas os reis maus levaram o povo à destruição. Não importa a nossa posição na sociedade, as nossas decisões sobre a vontade de Deus têm consequências. As decisões de governantes afetam nações inteiras (Pv 14.34).

III. O Período dos Reis de Israel

O livro de 2 Reis registra três séculos tristes na história dos reinos de Israel e Judá. Continuando a história contada em 1 Reis, este livro relata os reinados paralelos dos reis de Israel e Judá do nono século a.C. até a queda destes reinos. Israel caiu à Assíria em 721 a.C., e Judá caiu À Babilônia em 586 a.C. O final do livro acrescenta mais informações sobre o cativeiro, com a última anotação sobre a libertação de Joaquim em 561 a.C. Estes três séculos foram especialmente tristes, não somente pela queda destes dois reinos, mas pelos motivos que levaram o Senhor a determinar tal sofrimento para seu povo. Depois da divisão do reino, todos os reis do norte (Israel) foram rebeldes contra Deus. Alguns eram piores que outros, mas nenhum dos reis de Israel se mostrou fiel ao Senhor. Pouco mais de 200 anos depois da divisão dos reinos, Israel caiu. Vale a pena ler a explicação dos motivos deste castigo severo, registrada em 2 Reis 17.

As dez tribos do norte se unirão a Jeroboão e fizeram dele seu rei, dando início ao Reino do Norte que frequentemente é chamado de Reino de Israel. Durante o reino dividido a primeira capital do Reino do Norte foi a cidade de Tirza, mas depois passou a ser Samaria. Foi justamente nesse período que tiveram início a tensão que com o tempo se tornou numa grande rivalidade entre judeus e samaritanos. Ao longo de sua breve história, o Reino do Norte teve nove dinastias, totalizando dezenove reis. No geral os reis do Reino do Norte fizeram muitas coisas que desagradaram ao Senhor. Inclusive, muitos desses reis chegaram ao trono por meios violentos e perversos.

Politicamente o Reino do Norte foi marcado por muita conspiração, e religiosamente foi marcado por muita idolatria. O próprio Jeroboão, o primeiro rei do Reino do Norte, tão logo já esteve envolvido em idolatria e chegou a criar centros de adoração ilícitos em seu território. Apesar de a divisão política ter sido legítima, a divisão religiosa era errada. Os israelitas deveriam ter continuado adorando no Templo em Jerusalém. Talvez o auge da idolatria no Reino do Norte aconteceu durante o reinado do rei Acabe que foi profundamente influenciado por Jezabel. Nesse período Deus levantou o profeta Elias e o profeta Eliseu para denunciar a idolatria em Israel.

A corrupção política, social e religiosa do Reino do Norte também são claramente percebidas na profecia do profeta Amós. Outro profeta levantado por Deus para profetizar ao Reino do Norte foi Oseias. Inclusive, através das próprias experiências pessoais do profeta Oseias com sua esposa adúltera, Deus exemplificou o adultério religioso do Reino do Norte.

IV. O Período do Cativeiro Babilônico

Babilônia foi a nação usada por Deus para castigar o povo de Judá e destruir a cidade de Jerusalém em 586 a.C. Foi, também, o local do cativeiro dos judeus que sobreviveram a guerra contra a Babilônia. Nas colônias dos cativos, perto dos canais na Babilônia, os judeus lamentaram sobre sua separação do Senhor e ausência do local de adoração. Os assírios espalharam os hebreus de Israel (o reino do norte) quando destruíram sua capital, Samaria, em 721 a.C. Pouco mais de 100 anos depois, o império da Assíria caiu à Babilônia, e os territórios dominados pelos assírios passaram ao controle dos babilônios. A razão final por que o povo de Judá foi levado cativo para a Babilônia é descrita, com muita clareza, em 2 Reis 23.36–37; 24. Depois de séculos de rebeldia e de rejeição da aliança, os três últimos reis de Judá, Jeoaquim, Joaquim e Zedequias, colocaram a cereja final da maldade no indigesto bolo da apostasia do povo de Deus. A somatória dos anos de reinado desses três monarcas foi a gota d’água para o reino de Judá: “Coisa espantosa e horrenda se anda fazendo na terra: os profetas profetizam falsamente, e os sacerdotes dominam de mãos dadas com eles; e é o que deseja o meu povo. Porém que fareis quando estas coisas chegarem ao seu fim?” (Jr 5.30,31).

Logo em seguida, a Babilônia começou a atacar Judá (o reino do sul). Levaram judeus de Judá cativos em três etapas: (1) 605 a.C. – Daniel foi entre os jovens nobres levados à terra dos babilônios; (2) 597 a.C. – Ezequiel foi levado com este grupo; (3) 586 a.C. – Neste ano, a cidade de Jerusalém foi destruída junto com o templo dos judeus, muitos dos judeus foram mortos e outros foram levados ao cativeiro na Babilônia. Alguns dos pobres foram deixados na terra, e ao profeta Jeremias foi dado a escolha de ir para a Babilônia ou ficar em Jerusalém. Ele optou por ficar com os pobres em Jerusalém. A Babilônia, por sua vez, caiu aos medo-persas, conduzidos por Ciro, em 539 a.C. Eles adotaram uma política diferente dos seus antecessores, permitindo que os povos dominados voltassem às suas terras. Especificamente, os judeus receberam autorização e apoio dos medo-persas para voltar para Jerusalém. 

O Profeta Jeremias denuncia o seu povo afirmando que “… a palavra do SENHOR é para eles coisa vergonhosa; não gostam dela” (Jr 6.10). Por essa razão, o caminho de destruição e miséria espiritual estava aberto. Judá descia cada vez mais a ladeira da perversão e, esquecendo-se do Senhor, buscava outros deuses e se afastava do verdadeiro Deus. As descrições dos últimos reis de Judá nos dão ideia de como eles ampliaram o caminho para a idolatria e a perversão. E, de acordo com Paulo, quando os homens negam o verdadeiro Deus, a derrocada deles é algo esperado e progressivo (Rm 1.18-32). À medida que se tornam mais rebeldes contra o conhecimento de Deus, mais ineptos se tornam, incapazes de compreender a vida e as realidades divinas (1 Co 2.14). Ezequiel 9.9 afirma: “A iniquidade da casa de Israel e de Judá é excessivamente grande, a terra se encheu de sangue, e a cidade, de injustiça; e eles ainda dizem: O SENHOR abandonou a terra, o SENHOR não nos vê”. Assim era a tentativa inútil do povo de se esconder do Senhor. Esta esquiva era uma prova de que ignoravam as Escrituras e tudo aquilo que os seus pais lhes havia legado.

V. O Período Pós-Cativeiro Babilônico

Ciro foi o rei da Pérsia que governou aproximadamente entre 559 e 530 a.C. A história do rei Ciro ficou conhecida na Bíblia por ele ter sido o instrumento que Deus usou para libertar o povo judeu do cativeiro babilônico. Por esse motivo seu reinado foi profetizado muito antes pelo profeta Isaías. Na história, Ciro é conhecido como Ciro, o Grande, e como Ciro II. Então é importante não confundi-lo com Ciro I que reinou na região da Pérsia antes dele. Na verdade Ciro I foi o pai de Cambises I e, portanto, avô de Ciro II.

Babilônia era uma cidade muito fortificada, com muralhas intransponíveis. A Babilônia era tão rica e fértil ­ – com o rio Eufrates passando por dentro da cidade – que poderia produzir alimentos internamente, tornando qualquer sítio da cidade algo praticamente inútil. Mas de forma muito inteligente Ciro conseguiu conquistar a cidade sem sofrer qualquer resistência. Os estudiosos dizem que o rei Ciro posicionou seu exército tanto na entrada como na saída do rio que atravessava a cidade. Seus homens conseguiram desviar o curso do rio possibilitando que os soldados medo-persas entrassem na Babilônia com o leito do rio praticamente seco.

Então enquanto os babilônios davam uma festa, o exército medo-persa marchava silenciosamente pela cidade. Assim, em outubro de 539 a.C., a Babilônia caiu perante o exército persa liderado pelo general Gobryas. Aqui vale lembrar que a queda da Babilônia foi avisada por Deus. Inclusive, a Bíblia diz que durante a noite em que a Babilônia foi conquistada, a festa blasfema de Belsazar foi interrompida quando apareceram dedos de uma mão que escreveram na parede a misteriosa inscrição: “Mene, Mene, Tequel e Parsim”.

O período que envolve o pré-cativeiro, o cativeiro e o pós-cativeiro foi marcado por uma grande atividade literária, onde notáveis profetas do Senhor se destacaram, como: Habacuque, Ezequiel, Jeremias, Obadias, Daniel, Zacarias e Ageu. Foi nesse período também onde surgiu o conceito de sinagoga. A totalidade dos que voltaram do exílio atingiu o número de 42.360 homens, além dos seus 7.337 servos e servas; havia entre eles 200 cantores e cantoras. Possuíam 736 cavalos, 245 mulas, 435 camelos e 6.720 jumentos. Quando chegaram ao templo do Senhor em Jerusalém, alguns dos chefes das famílias deram ofertas voluntárias para a re­construção do templo de Deus no seu antigo local. De acordo com as suas possibilidades, deram à tesouraria para essa obra quinhentos quilos de ouro, três toneladas de prata e cem vestes sacerdotais. Os sacerdotes, os levitas, os cantores, os porteiros e os servidores do templo, bem como os demais israelitas, estabeleceram-se em suas cidades de origem.

Quando chegou o sétimo mês e os israelitas já estavam em suas cidades, o povo se reuniu como um só homem em Jerusalém. Então Jesua, filho de Jozadaque, e seus colegas, os sacerdotes, e Zorobabel, filho de Sealtiel, e seus companheiros começaram a construir o altar do Deus de Israel para nele sacrificarem holocaustos, conforme o que está escrito na Lei de Moisés, homem de Deus. Apesar do receio que tinham dos povos ao redor, construíram o altar sobre a sua base e nele sacrificaram holocaustos ao Senhor, tanto os sacrifícios da manhã como os da tarde. Depois, de acordo com o que está escrito, celebraram a festa das cabanas com o número determinado de holocaustos prescritos para cada dia. A seguir apresentaram os holocaustos regulares, os sacrifícios da lua nova e os sacrifícios requeridos para todas as festas sagradas determinadas pelo Senhor, bem como os que foram trazidos como ofertas voluntárias ao Senhor. A partir do primeiro dia do sétimo mês começaram a oferecer holocaustos ao Senhor, embora ainda não tivessem sido lançados os alicerces do templo do Senhor.

Conclusão

Algumas pessoas pensam que Deus tem-se comprometido a dar a terra a Israel hoje por causa da promessa a Abraão: "Toda a terra de Canaã, onde agora você é estrangeiro, darei como propriedade perpétua a você e a seus descendentes; e serei o Deus deles" (Gn 17.8). A noção da perpetuidade da possessão da terra leva algumas pessoas a concluir que o judeu ainda tem o direito a esta terra hoje. Porém, a palavra 'perpétua' no Antigo Testamento não significa algo que nunca cessa. Se fosse assim, os anos que Israel ficou fora da terra no exílio e no intervalo entre 70 e 1948 teriam violado a promessa. 'Perpétuo' em hebraico significa um bom tempo. 

Notemos que a circuncisão era 'aliança perpétua' (Gn 17.13), mas sabemos que hoje circuncisão não tem mais nada a ver com nosso relacionamento com Deus (Gl 5.1-4; 6.15). Também o sábado era 'aliança perpétua' (Êx 31.16), mas hoje o sábado não faz mais parte das nossas obrigações perante o Senhor (Cl 2.16,17). Os sacerdotes levíticos eram 'sacerdócio perpétuo' (Nm 25.13), mas o sacerdócio hoje está mudado porque foi impossível alcançar a perfeição por meio do sacerdócio levítico (Hb 7.11,12). Então a idéia de perpetuidade no Velho Testamento se limitava a continuidade naquela época.

Outras pessoas notam as profecias que dizem que o povo de Deus viverá na terra para sempre; por exemplo, "Viverão na terra que dei ao meu servo Jacó, a terra onde os seus antepassados viveram. Eles e os seus filhos e os filhos de seus filhos viverão ali para sempre, e o meu servo Davi será o seu líder para sempre" (Ez 37.25). Os profetas geralmente expressaram as bênçãos espirituais em Cristo em termos ligados com as coisas já conhecidas.

Sugestão de Leitura da Semana: MUNIZ, Sidney. Panorama Bíblico Volume 2 - Livros Históricos. São Paulo: Evangelho Avivado, 2017.